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Primeiras impressões de Paraíso Perdido, de John Milton

Estou completamente embasbacado e impressionado, fascinado e apaixonado.

É como se fosse uma nova Bíblia, melhorada e modernizada, aprofundada e embelezada, onde as questões e discussões latentes no Gênese, em Jó, no Apocalipse, são finalmente desenvolvidas e elaboradas com toda a arte retórica e a beleza vocabular que só um poeta no auge dos seus poderes é capaz.

Paraíso Perdido tem tudo que eu buscava na Bíblia e não encontrava. De certo modo, é melhor, ou pelo menos, é o complemento ao meu livro preferido. Não teria como gostar mais.

(Meus livros preferidos são, nessa ordem, Bíblia, Declínio e Queda do Império Romano, Ilíada. Paraíso Perdido está arriscando entrar na lista.)

As questões levantadas já eram relevantes na época de Milton (que se engajou em uma revolução recém-derrotada e perdeu tudo, menos a vida) e são ainda mais na nossa:

Oquanto de obediência devemos ao poder constituído?

Quais são as obrigações do poder em relação aos seus dominados?

É mais digna uma vida de revolta sem fim comparada à paz de uma submissão bovina?

Ou, como bem coloca Satã, será melhor reinar no inferno do que obedecer no céu?

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Romeu e Julieta, de Shakespeare

Romeu e Julieta, de William Shakespeare, talvez seja a melhor, a mais perfeita, a mais acessível tragédia do autor. Sob qualquer critério, um dos ápices da literatura ocidental. Para apreciá-la, porém, nosso maior inimigo é sua própria fama, seu lugar central na nossa cultura, e todas as noções pré-concebidas – “uma história água-com-açúcar”, “os protagonistas são bobinhos”, etc e etc – que trazemos para a experiência.

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Peter Handke

Deus!, como eu queria gostar de literatura contemporânea!

Infelizmente, obras sobre personagens tediosos e vazios quase sempre também são obras tediosas e vazias.

Lord Byron está morto há 200 anos, mas nunca escreveu uma frase que não fosse, no mínimo, interessante. É uma das poucas obrigações da literatura.

Acabei de ler quatro romances de Peter Handke, ganhador do Nobel de Literatura de 2019, e só o que pensava era que teria sido melhor, mais útil, mais prazeroso, reler Byron.

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Houellebecq

O romancista francês Michel Houellebecq (uélbéq), com toda sua raiva, ressentimento, misantropia, reacionarismo, é, com certeza, em parte por tudo isso, mas também por seu inegável gênio literário, o escritor vivo mais importante do mundo, aquele que mais capturou o zeitgeist, aquele que tem que ler lido pra se entender 2020.

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Meu aniversário

Em fevereiro, faço aniversário.

Naturalmente, isso não tem importância alguma, nem na minha vida, nem na sua, muito menos na vasta escala do cosmos.

Mas, se você quiser me dar um presente em retribuição a todos os meus textos que leu de graça, se quiser fazer parte dos próximos textos que ainda vou escrever, a melhor maneira é se tornando mecenas, através do PagSeguro.

(Está tudo explicado na minha página de mecenato.)

Você pode ou me dar um presente único, fazendo uma doação de qualquer valor, ou fazer uma contribuição regular, todo mês.

É disso que eu vivo. É assim que eu crio esses textos.

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Alex Castro sobre Raça e Escravidão

Raça e escravidão têm sido meus tópicos principais de escrita e pesquisa há quase vinte anos.

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Ajude a arte independente

Só quem é artista independente sabe o quanto temos que trabalhar duro, bater perna, divulgar muito, pra conseguir vender um livro, emplacar um evento.

Quem reclama do nosso excesso de autopromoção, quem diz que somos egocêntricas por ficar sempre divulgando nosso trabalho, linkando nossos textos, exigindo crédito para nossa arte, vendendo nossas obras, etc…

Especialmente quando a crítica vem de pessoas que têm a segurança de um emprego fixo, com pagamento caindo certinho todo dia 10…

Essas pessoas não são nossas amigas, não.

Deixa elas.

Não é que eu vendo pouco quando não falo dos meus livros: não vendo nenhum.

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As brincadeiras do jardineiro

O cenário:

Digamos que você tenha um jardineiro que cuida muito muito bem do jardim, faz tudo o que tem que fazer e mais. Porém, fica o tempo todo brincando, assim, só da boca pra fora, pra descontrair, sabe?, que iria estuprar e matar sua filha.

A pergunta:

Você o manteria no emprego? Confiaria que era tudo brincadeira e pronto? Não ficaria incomodada, preocupada, nervosa?

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Górki

Dos grandes russos, Górki é, ao mesmo tempo, o menor e o maior, o mais falho e o mais necessário.

Nunca perfeito, todos os seus defeitos emanam das suas grandes qualidades, do seu humanismo, da sua empatia, da sua expansividade.

“Gorky Visiting Red Army Men” por Victor Ryzhikh

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Queen Mab, de Shelley

A poesia é a casa da subversão e do radicalismo.

“Queen Mab’s cave” (1846), de Joseph Mallord William Turner

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Herta Muller

Herta Müller, ganhadora do Nobel de Literatura de 2009, cresceu triplamente marginalizada:

Em primeiro lugar, era romena e viveu no país durante a fase mais repressiva da ditadura de Nicolae Ceaușescu.

Em segundo, era parte de uma minoria alemã dentro da Romênia, marginalizada por ser um lembrete vivo da aliança do país com Hitler. (O pai de Müller, e muitos de seus personagens, são ex-oficiais da SS.)

Em terceiro, por ser mulher.

As três marginalizações são, em larga medida, o tema de sua obra.

O homem é um grande faisão no mundo, escrito em 1986 e publicado no Brasil pela Cia das Letras em 2013, é a história de um moleiro que quer emigrar com a família para o ocidente e só consegue porque sua filha se deita com alguns figurões do partido.

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Wislawa Szymborska

Estou absolutamente apaixonado pela poetisa polonesa Wisława Szymborska (Visuáva Chamborska), ganhadora do Nobel de Literatura de 1996.

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A vegetariana, de Han Kang

A vegetariana (2007), da autora sul-coreana Han Kang, foi uma das minhas leituras de ficção mais impressionantes dos últimos meses.

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Por onde começar a ler Machado de Assis

Apesar de amar literatura, Esposa sempre teve ranço do Machado, como tantas de nós, por ter sido forçada a ler o Bruxo muito jovem.

Argumentei que ela não podia dizer que não gostava do maior escritor da nossa língua sem ter lhe dado uma chance justa. Então, pedi para que lesse cinco contos dele, que eu escolheria. Se continuasse não gostando, aí sim poderia bater no peito e dizer que “não gostava de Machado”.

Foi uma escolha dificílima, mas eis aqui meu escrete dos cinco melhores e mais representativos contos de Machado de Assis:

“Cantiga de esponsais” (De Histórias sem data, 1884)
“Noite de almirante” (De Histórias sem data, 1884)
“A causa secreta” (De Várias histórias, 1896)
“Missa do Galo” (De Páginas recolhidas, 1899)
“Pai contra mãe” (De Relíquias de casa velha, 1906)

Para quem está pensando em começar a namorar o Bruxo, eis aí minha sugestão.

Ah, ela adorou. Claro.

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Educar sem corrigir

Sempre que compartilho a imagem acima, aparece alguém retrucando:

“Você está ofendendo os professores! E os professores, hein? Os professores são babacas de corrigir? Hein? Hein?”

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Abrindo mão de mim

Ouço conselhos como

“Nunca abra mão de ser quem você é”

e penso:

a melhor coisa que fiz na vida foi abrir mão de ser quem eu era

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As quatro grandes peças de Shakespeare: Hamlet, Macbeth, King Lear e Othello

Shakespeare é um dramaturgo do começo ao fim. Ele precisa ser assistido, não lido.

O Othello de Oliver Parker (1995, com Kenneth Branagh) talvez seja um dos melhores exemplos de porque Shakespeare não pode ser só lido. É uma adaptação bem comportada, fiel, sem grandes invencionices. Mas, por Deus, como dá vida ao texto.

É impressionante, é realmente inacreditável, como pode frases tão truncadas e difíceis de entender na página escrita serem tão facilmente compreensíveis e digeríveis nos lábios de bons atores.

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Um pouco (quase nada) sobre literatura polonesa

Visitei a Polônia em 2016, para fazer um retiro zen budista em Auschwitz. Depois, peguei um trem até o porto de Gdańsk e, de lá, um barco pra Estocolmo.

Como sempre, quando chego num país novo, tento ler a literatura local. Já conhecia, e amava, Isaac Bashevis Singer, vencedor do Nobel de literatura e um dos grandes contistas de todos os tempos.

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Atenção., o áudiolivro

Sem Atenção, não há Cuidado.

Nenhum ato pode ser mais político e mais trancada um dos nossos atos é sempre uma oportunidade de sermos a pessoa que escolhermos sersformador do que enxergarmos e cuidarmos umas das outras.

O meu novo livro, Atenção., publicado pela Editora Rocco, está disponível em formato áudiolivro, produzido pela Tocalivros.

(Você ouve pelo site ou app da Tocalivros, em seu PC ou celular.)

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Como ser rico

Pessoa rica é quem pode comprar tudo o que quer.

Existem duas maneiras de conseguir isso: