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Prisão Liberdade

Quem busca um curso chamado de As Prisões, quem tenta viver a não-monogamia na prática, entre muitos outros exemplos, tendem a ser pessoas com um interesse acima do normal em liberdade, ou, mais especificamente, em sua própria liberdade. Sentem-se tolhidas por amarras, cadeias, costumes — eu chamo de “Prisões” — e desejam ser mais livres.

Mas, paradoxalmente, a busca pela liberdade também pode ser uma prisão. A chave é lutarmos não pela liberdade de realizar nossos desejos, como uma vela que vai onde o vento sopra, mas sim pela liberdade de podermos escolher novos desejos, como o leme que determina o rumo a seguir. A verdadeira liberdade não é negativa, ou seja, estarmos livres de interferências externas, mas sim positiva: sermos livres para pautarmos nossos próprios atos.

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Prisão Monogamia

Nada pode ser mais capitalista e individualista do que a família nuclear monogâmica, com pessoas fechadas em grupos cada vez menores, exclusivos, isolados. Falar em não-monogamia é destravar a possibilidade de criarmos novos tipos de relacionamento, inclusive não-sexuais. E não tem como falar de relações românticas ou sexuais, de monogamia ou não monogamia, sem encarar de frente o fato de que, em nossa sociedade misógina, toda relação homem-mulher é sempre assimétrica.

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Prisão Autossuficiência

Um dos motivos que nos leva a querer trabalhar tanto para juntar tanto dinheiro é uma busca desesperada pela pretensa segurança da autossuficiência. Afinal, ninguém quer depender dos outros, não é? Como posso ser livre se não sou independente?

Nossa ânsia por autossuficiência não é acidental: apesar de sermos uma espécie gregária, apesar de nosso maior superpoder ser nossa capacidade única de nos unirmos para trabalharmos juntas em prol de objetivos comuns, o capitalismo nunca para de nos vender a autossuficiência como uma das qualidades mais importantes da vida.

Não é difícil de entender o porquê. Quem está bem inserida em sua comunidade, quem dispõe de uma extensa rede de apoio, pode resolver seus problemas comunitariamente – eu pinto sua parede, você me leva no aeroporto. Entretanto, se somos autossuficientes, ou seja, se estamos isoladas, todos os serviços precisam ser comprados, do Uber ao Marido de Aluguel.

Como parte da ideologia capitalista, a sociedade nos vende um ideal de autossuficiência individual que, além de impossível e indesejável, nos impede de enxergar a interdependência de todos os seres. Somos intensamente gregárias: não temos como não nos importar com a opinião das pessoas à nossa volta, não temos como não ser influenciadas e pautadas por elas. Mas temos sim como escolher quem serão essas pessoas que estarão a nossa volta.

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Prisão Trabalho

O problema não é o dinheiro: todas precisamos de dinheiro, ele garante nossa liberdade e nos permite viver nossas vidas nos nossos próprios termos. O problema não é o trabalho: somos seres criativos, gostamos, precisamos trabalhar, produzir, criar. O problema é só trabalharmos em prol dos projetos de outras pessoas, ao invés ou dos nossos projetos pessoais ou de projetos coletivos que nos sejam importantes. O problema é fazermos isso por muito tempo e por pouco dinheiro, que modo que não nos sobra nem tempo nem energia para nossos próprios projetos. Então, sim, tanto o trabalho quanto o dinheiro podem se tornar prisões.

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Prisão Respeito

A Autoridade sempre impõe não só o respeito e a obediência como virtudes autoevidentes, mas também um script da vida bem-sucedida. Acreditar nessa narrativa pode nos impedir de enxergar outras possibilidades, outros caminhos, outros scripts. Mas só temos como nos libertar dessa Autoridade quando percebemos que ela não é o Estado, ou nenhuma grande instituição, mas sim nós mesmas, infinitamente vigiando e punindo umas às outras.

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Prisão Patriotismo

Se nossa identidade de classe nos aprisiona, nossas muitas identidades tribais também. Mas faz sentido isso? Além da nossa criação, existe uma essência brasileira, baiana, carioca? Somos seres gregários que só sabem existir em grupos, mas como existir coletivamente sem xenofobia contra outros coletivos?

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Prisão Classe

Estamos algemadas à Prisão Classe quando simplesmente nos recusamos a encarar e reconhecer nossos privilégios de classe, mesmo quando eles estão em nossa cara, gritando e bufando.

Quando pergunto se as pessoas são ricas, elas ou dão respostas abstratas (“sou rico em oportunidades”) ou negam (“olha, eu até ganho bem, mas não me considero rica porque não consigo comprar tudo o que eu quero.”). Ninguém acha que é rica, ou que é privilegiada, pois isso acarretaria obrigações sociais que queremos evitar, uma autoimagem da qual fugimos. O privilegiado é sempre um Outro.

Mais ainda, nenhum privilégio de classe é apenas um privilégio de classe. Pois a distinções de classe permeiam tudo nessa nossa sociedade tão desigual. As mulheres ganham menos que os homens. As pessoas negras ganham menos que as pessoas brancas. Todos os privilégios são, fundamentalmente, privilégios de classe, desfrutados com maior ou menor intensidade dependendo de nossa classe social.

Por isso, é tão engraçado quando algum negacionista do racismo, já sem argumentos, diz: “Bem, mas isso não é uma questão racial, é uma questão econômica!” O que equivale a dizer: “Isso não é uma questão culinária, é uma questão gastronômica!” O racismo e a misoginia também são questões econômicas. Também são questões de classe.

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Prisão Religião

Religião é ideologia, ideologia é religião. Não é que a religião seja um tipo de ideologia. Não é que a ideologia funcione como se fosse uma religião. É que religião e ideologia são a mesma coisa: teorias abrangentes que utilizamos para fazer sentido da realidade, sejam elas o cristianismo ou o candomblé, o liberalismo ou o marxismo, o método científico ou a psicanálise freudiana.

Todas as pessoas, inclusive eu e você, enxergamos o mundo através de uma ou mais ideologias, e não há nada de errado nisso. (Pelo contrário, é impossível ser a-ideológico.) É só quando não conseguimos enxergar além das barras de nossa ideologia que ela pode se tornar uma prisão. Infelizmente, quase ninguém consegue: a gente não acredita no que quer, mas no que pode.

Um telescópio pode ser usado para enxergar galáxias a milhares de anos-luz de distância, mas nunca poderá ser usado para enxergar a si mesmo. Toda ideologia/religião dá conta de explicar o universo, mas não dá conta de explicar a si mesma. Toda ideologia/religião pode questionar ou interpelar tudo, menos suas próprias certezas fundantes.

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Prisão Verdade

Para podermos nos libertar de nossas Prisões, precisamos primeiro conhecê-las. Como identificá-las com certeza? O que é uma Prisão de verdade?

Infelizmente, a primeira Prisão é justamente a caixinha de ferramentas que utilizamos para apreender as Prisões: o conhecimento, a certeza e, enfim, a Verdade.

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Calendários de aulas & encontros para 2023

As aulas e encontros são exclusivas para as mecenas do meu Apoia-se. (Repara só como são muitas as recompensas.) Todas as atividades são online, algumas com opção presencial. Em 2023, a aula avulsa mensal está sempre em diálogo com o tema daquele mês do Curso das Prisões. Das obras estudadas, todas obras-primas, cinco foram escritas por mulheres. Todos os meus cursos estão aqui. Seja mecenas.

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Curso das Prisões

Um curso para nos libertar até mesmo da busca pela liberdade. O que está em jogo é nossa vida.

O que está em jogo é a nossa vida.

Curso em resumo

Curso de filosofia prática, com ênfase em liberdade pessoal e consciência política: como viver uma vida mais livre e significativa sem virar o rosto ao sofrimento do mundo. // As Prisões: Verdade, Religião, Classe, Patriotismo, Respeito, Trabalho, Autossuficiência, Monogamia, Liberdade, Felicidade, Empatia // Sem leituras, com muita conversa, debate, polêmica. // Um tema por mês, durante onze meses: uma conversa livre, no 1º domingo, para abrir o mês de conversas sobre o tema, e uma aula, na última quarta-feira, para fechar. Até 27 de dezembro de 2023. // Encontros e aulas ao vivo via Zoom; aulas gravadas via Facebook; grupo de discussão no Whatsapp. // R$88 mensais, no Apoia-se, por todos os meus cursos. Compre agora.

O que são As Prisões

As Prisões são as bolas de ferro mentais e emocionais que arrastamos pela vida: as ideias pré-concebidas, as tradições mal explicadas, os costumes sem sentido: Verdade, Religião, Classe, Patriotismo, Respeito, Trabalho, Autossuficiência, Monogamia, Liberdade, Felicidade, Empatia.

O que chamo de As Prisões são sempre prisões cognitivas: armadilhas mentais que construímos para nós mesmas, mentiras gigantescas que nunca questionamos, escolhas hegemônicas que ofuscam possíveis alternativas.

A Monogamia, por exemplo, é uma prisão não porque seja ruim ou desaconselhável em si, mas porque se apresenta como sendo a única opção concebível de organizar nossos relacionamentos, consignando todas as outras alternativas à imoralidade, à falta de sentimentos, ao fracasso: “relacionamento aberto não funciona, é coisa de quem não ama de verdade”.

A Felicidade é uma prisão não porque seja ruim ou desaconselhável em si, mas porque se apresenta como sendo a única opção de fim último para nossas vidas, consignando todas as outras alternativas à condição de suas coadjuvantes e dependentes: “não é que o seu fim último seja ser virtuosa, mas você quer ser virtuosa para ser feliz, logo o seu fim último é ser feliz”.

Quem está “presa” na Prisão Monogamia não é a pessoa que fez a escolha livre e consciente de viver relacionamentos monogâmicos, mas sim aquela que, por ignorar a opção de não fazer isso, por nunca ter percebido a verdadeira gama de diferentes alternativas que lhe estavam abertas, vive relacionamentos monogâmicos por default, como se essa fosse a única possibilidade concebível. Sua prisão (cognitiva) não é viver a Monogamia, mas ignorar a realidade que existe além dela.

Quem está “presa” na Prisão Felicidade não é a pessoa que fez a escolha livre e consciente de colocar sua própria felicidade individual como fim último de sua vida, mas sim aquela que, por ignorar a opção de não fazer isso, por nunca ter percebido a verdadeira gama de diferentes alternativas que lhe estavam abertas, busca sua própria felicidade por default, como se essa fosse a única possibilidade concebível. Sua prisão (cognitiva) não é buscar a Felicidade, mas ignorar a realidade que existe além dela.

Cada uma das Prisões, da Verdade à Empatia, do Trabalho à Felicidade, é sempre, antes de mais nada, uma prisão cognitiva, uma percepção incompleta da realidade. Por trás de todas as Prisões está sempre a mesma inimiga: a ignorância.

Funcionamento

Como toda Prisão é uma verdade tão inquestionável que nos impede de perceber outras alternativas, nossas aulas começam sempre por analisá-la e desconstruí-la, para entender como nos limitam, e podermos então enxergar as alternativas que ela esconde.

Cada mês será dedicado a uma Prisão.

No 1º domingo do mês, às 17h, damos início às discussões com uma conversa livre no Zoom. Não é uma aula expositiva, mas uma sessão de troca e de escutatória. Sem a interlocução de vocês, sem ouvir como essa prisão afetou as suas vidas, eu não teria nem como começar a pensar a aula. Aqui, tudo é prático, nada é teórico. O que está em jogo são nossas vidas.

Ao longo do mês, continuamos conversando sobre essa Prisão em nosso grupo do Whatsapp, trocando histórias e experiências. Para quem quiser, vou compartilhando as leituras que estou fazendo sobre o tema, mas nenhuma leitura é obrigatória, nem necessária para a compreensão da aula.

Na última quarta-feira do mês, às 19h, fechamos as discussões com uma aula, também pelo Zoom. Essa aula será expositiva, mas também teremos bastante espaço para debates e conversas.

Aulas gravadas indefinidamente

A gravação em vídeo das aulas expositivas fica disponível em um grupo fechado do Facebook. (É preciso se inscrever no Facebook para ter acesso ao grupo) Mas, juridicamente falando, como não posso garantir “indefinidamente”, garanto que as aulas estarão acessíveis às compradoras do curso, se não no Facebook em outro lugar, no mínimo até 31 de dezembro de 2027. As conversas livres, por serem mais pessoais, não ficam gravadas: são só para quem vier ao vivo. As aulas gravadas só estarão disponíveis para as mecenas do plano CURSOS enquanto durar o apoio. Você pode cancelar seu plano de mecenato a qualquer momento, mas aí perde acesso aos cursos.

Sem leituras

O Curso As Prisões não é um curso de leituras: nenhuma leitura é obrigatória ou recomendada. É um curso de conversas livres e de trocas de experiências, de escutatória e de debates, de reflexão sobre nossas vidas e sobre como viver.

Para cada Prisão, eu listo uma pequena bibliografia, para que vocês saibam quais livros eu utilizei na preparação da aula e para que possam correr atrás das leituras que mais lhes interessem.

Mas não precisa ler nada para participar das aulas, das conversas, das trocas, das discussões.

Sejam as primeiras leitoras do Livro das Prisões

O Livro das Prisões foi contratado pela Rocco em 2017 e eu ainda não consegui escrever. Um de meus objetivos para esse curso é, com a inestimável ajuda da interlocução de vocês, finalmente terminar o livro. Então, junto com a aula, também pretendo disponibilizar o texto dessa Prisão em sua versão final, já pronta para publicar. Todas as alunas do curso serão citadas nos agradecimentos do livro, pois ele certamente nunca teria sido escrito sem a participação de vocês. Já de antemão, agradeço.

Professor

Alex Castro é formado em História pela UFRJ com mestrado em Letras-Espanhol por Tulane University (Nova Orleans, EUA), onde também ensinou Literatura e Cultura Brasileira. Tem oito livros publicados, no Brasil e no exterior, entre eles A autobiografia do poeta-escravo (Hedra, 2015), Atenção. (Rocco, 2019) e Mentiras Reunidas (Oficina Raquel, 2023). Escreve sobre literatura para a Folha de S.Paulo, 451, Suplemento Pernambuco e Rascunho. Atualmente, é mestrando do PPGLEN (Programa de Pós-Graduação em Letras Neolatinas), da UFRJ.

Meus votos zen-budistas

Pratico zen budismo há dez anos. Todo dia, pela manhã, refaço meus votos: os quatro votos do Bodisatva e os três votos dos pacificadores zen.

Basicamente, eu me comprometo a ajudar as pessoas a 1) se libertarem, 2) enxergarem as ilusões que as limitam, 3) perceberem a realidade em sua plenitude e, assim, 4) agirem no mundo de acordo com essa percepção. E me proponho a fazer isso a partir de 1) uma posição de não-saber, me abrindo às novas situações sem certezas prévias, 2) estando presente de forma plena a cada interação humana, sem virar o rosto nem à dor nem à alegria, e 3) agindo amorosamente.

Esse curso é minha humilde tentativa de agir no mundo de acordo com meus votos. De ajudar as pessoas, minhas alunas e minhas leitoras, a enxergarem suas prisões, se libertarem delas, perceberem a realidade e agirem amorosamente no mundo, questionando suas certezas e nunca virando o rosto nem à dor nem à alegria das outras pessoas.

Dar esse curso, portanto, é minha prática religiosa. Se eu tiver algum sucesso em caminhar ao lado de vocês nesse percurso, minha vida terá sido uma vida bem vivida, e sou grato por tê-la vivido.

Os Quatro Votos do Bodisatva: As criações são inumeráveis, faço o voto de libertá-las; As ilusões são inexauríveis, faço o voto de transformá-las; A realidade é ilimitada, faço o voto de percebê-la; O caminho do despertar é insuperável, faço o voto de corporificá-lo.

Os três votos da Ordem dos Pacificadores Zen: Praticar o não saber, abrindo mão de certezas prévias; Estar presente na alegria e no sofrimento, não virando o rosto à dor alheia; Agir amorosamente, de acordo com essas duas posturas.

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O Curso das Prisões é exclusivo para as mecenas dos planos CURSOS ou MIDAS do meu Apoia-se.

Para fazer o curso completo (11 aulas expositivas + 11 encontros livres + grupo no Facebook + grupo de Whatsapp):

  • R$88 mensais, via Apoia-se: comprando o plano Mecenas CURSOS (ou superior), você tem acesso a todos os meus cursos enquanto durar o seu apoio, além de ganhar muitas outras recompensas, como textos e aulas avulsas exclusivas. Como bônus, coloco seu nome na lista das mecenas. Você pode cancelar o seu plano a qualquer momento, mas aí perde acesso aos cursos. (O Apoia-se aceita todos os cartões de crédito e boleto).

Não são vendidas aulas individuais. Não existem outras formas de pagamento. Quem estiver no estrangeiro e não tiver cartão de crédito ou conta bancária brasileira, fale comigo: eu@alexcastro.com.br

Dúvidas

Somente por email: eu@alexcastro.com.br

Aulas em resumo

Links levam para a descrição da aula nessa página.

  1. Verdade (fevereiro)
  2. Religião (março)
  3. Classe (abril)
  4. Patriotismo (maio)
  5. Respeito (junho)
  6. Trabalho (julho)
  7. Autossuficiência (agosto)
  8. Monogamia (setembro)
  9. Liberdade (outubro)
  10. Felicidade (novembro)
  11. Empatia (dezembro)

(Os links de livros direcionam para a Amazon Brasil. Se você clicar e comprar, ganho uma comissão, e te agradeço muito.)

1. Prisão Verdade

(Vídeos da aula: parte 1, parte 2, parte 3, parte 4, parte 5)

Nossa pretensa certeza sobre o que sabemos é a primeira prisão que nos impede de enxergar todas as possibilidades da vida. O que é a verdade? Ela existe? Como descobri-la? Temos certeza do que sabemos?

Texto final da Prisão Verdade.

Bibliografia utilizada: Livros: Discurso do método, Descartes; On being certain, Burton; The knowledge illusion, Sloman e Fernbach; The enigma of reason, Mercier e Sperber; Rápido e devagar, Kahneman; Atenção., práticas 8, 9, 10; Links: Prisão Verdade (texto antigo); Prisão Conhecimento.

2. Prisão Religião 

(Vídeos da aula: 1 Crenças fundantes; 2 O que é ideologia; 3 O que é religião; 4 Política e religião; 5 Deus-mercado)

A religião, assim como ideologia, são as lentes pelas quais enxergamos o mundo, apreendemos a verdade, decidimos nosso caminho. Dependendo das lentes, entretanto, podemos não estar enxergando muitos caminhos possíveis. Não podemos enxergar o mundo a não ser por essas lentes, mas podemos pelo menos tentar enxergar as lentes.

Texto final da Prisão Religião.

Bibliografia utilizada: Livros: A estrutura das revoluções científicas, Kuhn; Aparelhos Ideológicos de Estado, Althusser; Budismo sem crenças, Batchelor; “Buddhist social theory?” e “Buddhism and poverty” em The great awakening, Loy; The Market as God, Cox; Links: Prisão Religião (texto antigo); The Market as God.

3. Prisão Classe

(Vídeos da aula: 1 O que é classe média; 2 História dos meus privilégios; 3 Meritocracia, sorte, merecimento; 4 Preconceito linguístico)

Nossa classe social determina nossa visão de mundo, normaliza nossos privilégios e nos impede de enxergar tudo o que vem das classes que consideramos inferiores. Daí, a música do Outro ser “barulho”, a fala do Outro ser “erro de português”.

Texto final da Prisão Classe.

Bibliografia utilizada: Livros: Teoria da classe ociosa, Veblen; Contrato Racial, Mills; Contrato Sexual, Pateman; Preconceito linguístico, Bagno; Verbal hygiene, Cameron; Atenção., prática 13. Links: Prisão Privilégio; Prisão Preconsseito, The radical moral implications of luck.

4. Prisão Patriotismo

(Vídeos da aula: 1 Patriotismo; 2 Brasil; 3 Politicamente correto)

Se nossa identidade de classe nos aprisiona, nossas identidade tribais, seja nacional, regional, estadual, também. Somos seres gregários, mas como existir coletivamente sem xenofobia contra outros coletivos? O politicamente correto, ao garantir a cada grupo a chance de se autonomear, incentiva o patriotismo dos pequenos, dos derrotados, dos invisibilizados, e ajuda a esvaziar a violência dos grandes patriotismos hegemônicos.

Texto final da Prisão Patriotismo

Bibliografia utilizada: Livros: Comunidades Imaginadas, Anderson; “Teses sobre o conceito de história”, Benjamin; “Introdução” em A Formação da Classe Operária Inglesa, Thompson; “Violência Simbólica e Lutas Políticas” em Meditações Pascalianas, Bourdieu; Problemas de gênero, Excitable Speech, Butler; A Tirania da Penitência, Bruckner; Atenção., prática 18; Links: Prisão Patriotismo; Prisão Eu; Politicamente correto, uma defesa.

5. Prisão Respeito

(Vídeos da aula: 1 Introdução, 2 Não, 3 Obediência, 4 Sucesso)

A Autoridade sempre impõe não só o respeito e a obediência como virtudes autoevidentes, mas também um script da vida bem-sucedida. Acreditar nessa narrativa pode nos impedir de enxergar outras possibilidades, outros caminhos, outros scripts. Mas só temos como nos libertar dessa Autoridade quando percebemos que ela não é o Estado, ou nenhuma grande instituição, mas sim nós mesmas, infinitamente vigiando e punindo umas às outras.

Texto final da Prisão Respeito

Bibliografia utilizada: Livros: Desobediência civil, Thoreau; As virtudes do medo, De Becker; Bartleby, o Escrituário, Melville; História da sexualidade I, Microfísica do poder, Foucault; Psicologia das massas e análise do Eu, Freud; Atenção., prática 10; Links: Prisão Obediência; Prisão Sucesso; O prêmio por obedecer é ser a mais obediente (inglês, português, quadrinhos, vídeo); Difusão de responsabilidade; A inércia social e a difusão de responsabilidade.

6. Prisão Trabalho

(Vídeos da aula: 1 Dinheiro, 2 Economia, 3 Independência, 4 Trabalho, 5 Escolhas)

Defender a meritocracia do trabalho, a acumulação de dinheiro, o crescimento econômico ilimitado, não são apenas decisões econômicas, mas também morais, que nos impedem de considerar alternativas de vida mais minimalistas, coletivas, sustentáveis.

Texto final da Prisão Trabalho.

Bibliografia utilizada: Livros: A condição operária, Weil; The moral economists, Rogan; In good company, Martin; Dívida: os primeiros 5.000 anos, Graeber; “Tempo livre”, em Indústria cultural e sociedade, Adorno; A miséria da prosperidade, Bruckner; Atenção., prática 15; Links: Prisão Dinheiro; Prisão Trabalho; Nosso futuro por um iPhone; Seu estilo de vida foi projetado, Cain; Commuting; Em nome do amor.

7. Prisão Autossuficiência

(Vídeos da aula: I Atração; II Dependência; III Crescimento)

Como parte da ideologia capitalista, a sociedade nos vende um ideal de autossuficiência individual que, além de impossível e indesejável, nos impede de enxergar a interdependência de todos os seres. Somos intensamente gregárias: não temos como não nos importar com a opinião das pessoas à nossa volta, não temos como não ser influenciadas e pautadas por elas. Mas temos sim como escolher quem serão essas pessoas que estarão a nossa volta.

Texto final da Prisão Autossuficiência.

Bibliografia utilizada: Livros: The Acquisitive Society, Tawney; Small is Beautiful, Schumacher; Deep economy, McKibben; Beyond growth, Daly; O decrescimento, Georgescu-Roegen; Prosperity without growth, Jackson; The Fanaticism of the Apocalypse, Bruckner; Atenção., prática 15; Link: Prisão Autossuficiência.

8. Prisão Monogamia

(Vídeos da aula: I Teoria; II Prática; III Ética; IV Conclusões)

Nada pode ser mais capitalista e individualista do que a família nuclear monogâmica, com pessoas fechadas em grupos cada vez menores, exclusivos, isolados. Falar em não-monogamia é destravar a possibilidade de criarmos novos tipos de relacionamento, inclusive não-sexuais. E não tem como falar de relações românticas ou sexuais, de monogamia ou não monogamia, sem encarar de frente o fato de que, em nossa sociedade misógina, toda relação homem-mulher é sempre assimétrica.

Texto final da Prisão Monogamia.

Bibliografia utilizada: Livros: Ética do amor livre, Easton; Sem tesão não há solução, Ame e dê vexame, Freire; O Mito da Monogamia, Barash e Lipton; Contrato Sexual, Pateman; Mulheres invisíveis, Perez; Calibã e a bruxa, Federici; A criação do patriarcado, Lerner; Um teto todo seu, Woolf; Links: Prisão Monogamia; Feminismo para homens, um curso rápido; Toda relação homem-mulher é assimétrica; Iconic ‘Nuclear’ Family Is a Work of Fiction

9. Prisão Liberdade

(Vídeos da aula: I Definição; II Ideologia; III Mente; IV Mundo)

A busca pela liberdade também pode ser uma prisão. A chave é lutarmos não pela liberdade de realizar nossos desejos, como uma vela que vai onde o vento sopra, mas sim pela liberdade de podermos escolher novos desejos, como o leme que determina o rumo a seguir. A verdadeira liberdade não é negativa, ou seja, estarmos livres de interferências externas, mas sim positiva: sermos livres para pautarmos nossos próprios atos.

Texto final da Prisão Liberdade.

Bibliografia utilizada: Livros: Sobre a liberdade, Mill; There’s no such thing as free speech, Fish; Problemas de gênero, Excitable Speech, Butler; A Ironia da Liberdade de Expressão, Fiss. Liberdade de expressão X Liberdade da imprensa, Lima; Ação cultural para a liberdade e outros escritos, Pedagogia do oprimido, Freire; Atenção., prática 18; Links: Prisão Eu; Elogio à liberdade de expressão; “É preciso universalizar a liberdade de expressão”, defende o professor Venício Lima, Liberdade de expressão x liberdade de imprensa. Entrevista especial com Venício Lima”.

10. Prisão Felicidade

(Vídeos da aula: I Introdução; II História; III Iluminismo; IV Moralidade)

Buscar a liberdade para ser feliz, colocar nossa felicidade pessoal como medida de sucesso, talvez seja a maior de todas as prisões. Perceber que a felicidade não precisa necessariamente ser nosso fim último nos permite destravar os múltiplos potenciais sentidos de nossa própria vida. Se não vivo para ser feliz, vivo para quê?

Bibliografia utilizada: Livros: Sobre a vida feliz, Sêneca; Miseria de la prosperidad, Euforia perpétua, Bruckner; Em busca de sentido, Frankl; My Life with the Saints, Martin; The Happiness Industry, Davies; O mito da felicidade, Hecht; Breve história da felicidade, White; Felicidade, uma história, McMahon; Atenção., prática 18; Links: Prisão Felicidade; Prisão Eu; La Mettrie, filósofo da felicidade individual.

11. Prisão Empatia

(Conversa livre, 28jan24; aula, 21fev24.)

Nossa sociedade tem recomendado “maior empatia” como antídoto à nossa busca frenética, autocentrada e individualista por mais felicidade e mais liberdade. Entretanto, empatia, por si só, é um sentimento passivo, um capricho bem-alimentado, que quase sempre permanece dentro de nós mesmas sem maiores impactos no mundo. Se já descobrimos que liberdade é podermos escolher como agir no mundo, e que nosso objetivo último na vida não precisa ser apenas nossa própria felicidade individual, então já estamos prontas para transcender a passividade do sentimento empático e partirmos para uma ação efetivamente altruísta.

Bibliografia utilizada: Livros: Against Empathy, Bloom; Altruism, Ricard; O maior bem que podemos fazer, Singer; A vida pelos outros, MacFarquhar; Atenção.

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Dúvidas

Somente por email: eu@alexcastro.com.br

Linguagem não-sexista

Em meus textos, para chamar atenção para o sexismo de nossa língua, inverto a norma e uso o feminino como gênero neutro. Não porque troquei um sexismo por outro, mas porque o gênero da palavra “pessoa” é feminino.

Trocar “meus alunos não calam a boca” por “minhas alunas não calam a boca” só mantém o sexismo da língua. Pior: sugere que são apenas as minhas alunas mulheres que não calam a boca.

Por isso, hoje, digo “minhas pessoas alunas não calam a boca.” Essa tem sido, pra mim, a maneira não-sexista de escrever.

Mais detalhes aqui: Mini manual pessoal para uso não-sexista da língua.

Calendário de aulas e atividades para 2023

1º domingo, 17h: Conversa livre Curso As Prisões (a partir de fevereiro)

1ª quarta-feira, 19h: Grande Conversa Espanhola (até julho)

2º domingo, 17h: Conversa de boteco com Mecenas

2ª quarta-feira, 19h: Aula avulsa para Mecenas (a partir de fevereiro)

3º domingo, 17h: Piquenique não-monogamia

Última quarta-feira, 19h: aula Curso As Prisões (a partir de fevereiro)