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aula 02: escravistas & escravizados casa-grande & senzala grande conversa brasileira

Gilberto Freyre, historiador

Gilberto Freyre não era e não se considerava historiador, mas usava uma abordagem histórica para explicar problemáticas sociológicas. Ele estuda seu objeto de dentro, colocando-se ele mesmo como parte do objeto de análise: ele se faz personagem de seu próprio livro (Benzaquen). Enquanto historiador, ele realiza uma transposição, uma transferência de si mesmo ao passado brasileiro, para revivê-lo empaticamente, usando um estilo sugerido, instintivo, incompleto, etc, que o impede de ser definitivamente rotulado.

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Casa-grande & senzala, de Gilberto Freyre

O período entre a abolição da escravatura (1888) e o lançamento de Casa Grande & Senzala (1933), de Gilberto Freyre, é marcado por uma quase completa ausência da escravidão do discurso intelectual brasileiro, um processo consciente de rasura por parte da elite brasileira no qual a escravidão, como categoria explicativa de Brasil, é substituída por raça e mestiçagem. O discurso racista-cientificista que impera nessa época (exemplificado em obras como Os sertões, que leremos na quinta aula) nega a contribuição africana ao Brasil e afirma, pelo contrário, que a própria existência das pessoas negras seria um problema nacional, a ser corrigido por imigração e branqueamento. Como veremos nas leituras da sexta aula, a negritude era constantemente associada à degeneração, alcoolismo, incapacidade mental e imoralidade. E não pelo fato de as pessoas negras terem sido exploradas por 350 anos e, então, libertadas sem nenhuma ajuda financeira ou plano de inserção social, mas por pretensa inferioridade étnica.

É nesse cenário intelectual que Casa Grande & Senzala explode como uma verdadeira bomba. Poucos livros foram tão influentes, tão impactantes, tão polêmicos. Ele pode e deve ser criticado, mas sua maior contribuição foi justamente ter recolocado a escravidão no centro do pensamento nacional: depois de Casa Grande & Senzala, nunca mais será possível entender o Brasil que não a partir do fato central de termos sido a maior civilização escravista do mundo moderno.

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Democracia racial e homem cordial, dois meta-mitos

Dois espectros rondam as ciências sociais brasileiras: a “democracia racial” e o “homem cordial”. Quem os critica se refere a eles, sempre desdenhosamente, como “mitos”: “o mito da democracia racial”, “o mito do homem cordial”. Mas, na verdade, são meta-mitos, ou seja, é um mito que sejam mitos, são mitos que jamais foram mitos. No texto abaixo, tentarei desmascarar não o “mito da democracia racial” mas sim o “mito do mito da democracia racial”; não o “mito do homem cordial”, mas sim o “mito do mito do homem cordial”.