O frade carmelita espanhol João da Cruz é talvez o maior poeta místico de todos os tempos. A oitava aula, Mística, do curso Grande Conversa Espanhola, será sobre sua vida e obra. Abaixo, as suas melhores poesias, em português e em espanhol.
Categoria: grande conversa espanhola
O romance anônimo Lazarilho de Tormes foi publicado em meados do século XVI e fez tanto sucesso que criou um novo gênero literário: a literatura picaresca, onde um narrador em primeira pessoa, sempre das classes mais baixas e em chave humorística, conta a história de sua luta para sobreviver.
Mais importante, o personagem Lazarilho é talvez um dos primeiros narradores não confiáveis da literatura: na contradição paradoxal e inédita entre o ponto de vista do narrador e do leitor, somos chamadas pela primeira vez a nos inserir criticamente no enredo, a julgar o narrador contra si mesmo, a definir por conta próprio o sentido daquilo que lemos. Já estamos na véspera do romance contemporâneo.
No começo do século XVI, um aristocrata espanhol volta da guerra na Itália, começa a fazer poesias nas métricas italianas de Petrarca e muda a literatura espanhola para sempre.
Garcilaso de la Vega traz uma nova sensibilidade, musicalidade, temática, à poesia lírica espanhola, abandonando tudo aquilo que marcava a poesia espanhola medieval, seja o didatismo e a ênfase religiosa, quanto a musicalidade fácil das rimas tradicionais do romanceiro, e se abrindo a novos cenários e novos temas, mais pastorais, mais bucólicos, mais idealizados. Sua poesia é considerada o marco da Renascença na Espanha.
A descoberta da América é certamente um dos eventos mais importantes da aventura humana. (Infelizmente, não sabemos nem mesmo quando aconteceu: provavelmente 15 mil anos atrás, mas há controvérsias.)
Já a chegada das primeiras pessoas europeias poderia até ter sido importante, mas os acampamentos vikings no Canadá deixaram poucas consequências históricas.
Para bem ou para mal, a conquista do Novo Mundo pelos espanhois, exatamente em sua época de maior poderio militar e de apogeu cultural, é o evento que vira o mundo de cabeça para baixo.
Das muitas obras literárias estreladas pelo heroi medieval El Cid, as poesias de cordel talvez seja as mais tradicionais e as mais belas.
Um mocinho vê uma mocinha em um jardim e se apaixona à primeira vista. Querendo se aproximar, contrata, por intermédio de seu criado, uma velha casamenteira.
Com uma sinopse que poderia ser a de uma novela sentimental como Cárcere do Amor, a Celestina rapidamente se transforma uma tragédia irredimível, terrível, inesquecível. Nada é o que parece, nenhum personagem é virtuoso, a subversão dos cânones sentimentais é total: os nobres apaixonados pensam apenas em seus próprios prazeres, os pobres se esfaqueiam para ver quem enganará os nobres e os burgueses só querem saber de amealhar mais riquezas.
O romance/cordel do Conde Yanno (em Portugal) ou Conde Alarcos (na Espanha) é dos mais famosos da península ibérica. Abaixo, duas versões, em português e espanhol. Vale a pena ler as duas: não são traduções strito sensu, mas a mesma história contada de duas formas diferentes.
(Esse “romanceiro velho”, ancestral de nossa literatura de cordel, será nossa leitura na segunda aula, Cordel, do curso Grande Conversa Espanhola: do El Cid ao Dom Quixote, a invenção da literatura moderna. O curso está saindo com desconto só até 6mar. Compre aqui.)
O personagem Amadís de Gaula é o cavaleiro perfeito e paradigmático, vivendo aventuras completamente artificiais em um mundo totalmente fantástico. Ele é como uma purificação, o mínimo denominador comum do romance de cavalaria arturiano, agora sem a traição de Lancelot, sem o misticismo da busca pelo Graal, sem as loucuras amorosas de Tristão, sem qualquer defeito ou mácula.
As coplas pela morte de meu pai, compostas por Jorge Manrique em 1476, além de belíssimas, servem como epitáfio e elegia de todo um mundo de valores medievais aristocráticos que morria no final do século XV, na passagem de um sistema feudal de nobreza forte para um sistema pré-capitalista de monarquia autoritária.
A nossa “literatura de cordel” tem origens na poesia de romanceiro da Península Ibérica, tanto na Espanha quanto em Portugal. Esse “Romanceiro velho” será nossa leitura na segunda aula do curso Grande Conversa Espanhola: do El Cid ao Dom Quixote, a invenção da literatura moderna. (O curso está saindo com desconto só na primeira semana de vendas, até 23fev. Compre aqui.)
O Poema do meu Cid talvez seja a primeira obra-prima das línguas românicas. Quando foi composto, Dante ainda não era nascido e só começavam a surgir as primeiras canções provençais, no sul da França, seguidas pelas cantigas galego-portuguesas, no noroeste da Península Ibérica. Por tudo isso, o Poema está em um castelhano antigo, diferente daquele que é falado hoje, mas ainda compreensível.
(Para pessoas fluentes em espanhol contemporâneo, é um como ler Grande Sertão: Veredas para nós: é a mesma língua, mas em outro registro. Demora um pouco pra se acostumar mas, quem insiste, pega no tranco.)
O Poema do Cid é, antes de mais nada, uma belíssima obra de arte que pode e deve ser apreciada por qualquer pessoa. (O que a gente estuda é matéria pra escola: literatura a gente curte.)
Para nós, brasileiras, a primeira questão é: como ler? Não existe tradução brasileira em verso, o que é triste. Eu estou tentando escrever uma. Aqui vai, abaixo, uma primeira tentativa de tradução das quatro primeiras estrofes, rascunhada ainda, só para dar uma ideia da força do poema:
O Poema do meu Cid, no século XIII, é a primeira grande obra-prima espanhola, talvez a primeira verdadeira obra-prima literária em qualquer língua românica (ainda faltavam cem anos para A Divina Comédia) e um exemplo do melhor que a poesia medieval tinha a oferecer. É a canção medieval perfeita, protagonizada pelo cavaleiro paradigmático, bem-sucedido e em total sintonia com seu mundo.
Será nossa leitura na primeira aula do curso Grande Conversa Espanhola: do El Cid ao Dom Quixote, a invenção da literatura moderna.