Grande Conversa Medieval

Quando as línguas eram jovens e tudo ainda estava em aberto

Curso em resumo

Curso de literatura e história, com foco na experiência estética de alteridade radical dos textos medievais, como também nas continuidades e rupturas históricas e literárias com a cultura contemporânea. // Leituras não obrigatórias. 24 aulas, 2h cada, última quarta-feira do mês às 19h. Encontros e aulas ao vivo via Zoom; aulas gravadas via Facebook; grupo de discussão no Whatsapp. // R$88 mensais, no Apoia-se, por todos os meus cursos. Compre agora.

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Grande Conversa Medieval

O curso Grande Conversa Medieval não é apenas para pessoas interessadas em história e cultura medieval, mas para qualquer leitora apaixonada por literatura. Os objetivos mais óbvios do curso são dois:

— Apresentar às pessoas alunas algumas das autoras e obras, conceitos e fatos, mais conhecidos da Idade Média, aquelas que talvez já tenham até ouvido falar mas não saibam bem quem são, de Tristão e Isolda a Abelardo e Heloisa, das Cruzadas ao Graal, de Marco Polo ao Rei Arthur, das Mil e uma noites ao Orlando Furioso, de Chaucer a Petrarca;

— Suprir uma lacuna nas histórias literárias que sempre tratam esse período como um grande buraco escuro entre a Antiguidade e o Renascimento. Como me perguntou uma aluna, “Por que tem tão poucas obras-primas literárias na Idade Média?” Pois o curso é para mostrar que tem muitas.

Mas existe um terceiro objetivo, talvez surpreendente e bem mais importante, que será o nosso foco principal.

A Idade Média europeia foi um dos períodos mais ricos em inventividade linguística e criatividade literária da história do mundo. Quando o latim já estava engessado pela idade e pela obsolescência, e as línguas modernas ainda não estavam engessadas pelas gramáticas e pelas convenções, houve um mágico intervalo de tempo onde todas as possibilidades estavam em aberto, tudo ainda era possível, qualquer experimento literário parecia factível.

Por isso, o grande objetivo do curso será não uma busca pela tradição ou pela essência do Ocidente, como tantas pessoas conservadoras idealizam na Idade Média (Deus me livre, que curso chato seria esse!), mas sim uma busca, a partir de uma perspectiva de esquerda, pelo novo e pelo estranho, pelo inesperado e pelo subversivo.

Hoje, em larga medida, nossos cânones, estilos e gêneros literários mais caretas ainda são aqueles da Antiguidade greco-romana, como foram “recuperados” pelos homens renascentistas que tentavam superar as “trevas” dessa “idade média” que acabavam de inventar.

Por isso, quando nossas vanguardas literárias mais experimentais decidem atacar toda essa caretice institucional, onde mais buscar inspiração que não nessa Idade Média tão rejeitada, tão escondida, tão surpreendente?

Paradoxalmente, portanto, e essa é a premissa no cerne do nosso curso, a literatura medieval hoje é mais subversiva, experimental e, por que não?, inovadora do que as literatura antiga ou moderna, realista ou modernista.

Guerra e paz e Os miseráveis, A montanha mágica e Os maias, Vidas secas e O estrangeiro, Dom Quixote e Dom Casmurro são maravilhosos (amo todos de paixão mesmo!), mas também são diferentes variações do mesmo molde novelesco realista.

Cantar do meu Cid não tem nada a ver com nossa ideia de uma poesia épica medieval. Abelardo e Heloísa, Tristão e Isolda, um casal real e outro ficcional, também não correspondem às nossas ideias de como seriam os casos de amor medievais. As sagas islandesas tem o vigor e a frescura da literatura contemporânea. François Villon, bandido e assassino, poderia ser um poeta trash em qualquer grande cidade atual. Tomás de Aquino, concordando ou não com suas premissas, é um verdadeiro professor de como pensar e desenvolver um argumento logicamente. Marco Polo era um mercador prático que descreveu suas viagens como um guia sóbrio para futuros homens de negócios. Alcassino e Nicoleta é único ao ponto de ser um gênero literário composto de uma só obra. As cantigas de amigo que aprendemos na escola são muito mais complexas e picantes do que nos ensinaram. Petrarca só parece lugar-comum porque inventou nosso conceito de “Eu” e passou 700 anos sendo imitado à exaustão. O Orlando Furioso talvez seja o clássico canônico mais puramente divertido de todos. Por fim, até hoje, não existe nada na literatura parecido à Celestina. (O Cid, o Orlando, a Celestina estão entre minhas obras preferidas da vida e quero muito compartilhá-las com vocês.)

Então, se te perguntarem por que está fazendo um curso de literatura medieval (!) em pleno 2024 (!!), responda:

“Pra ler uma literatura tão radicalmente nova que eu nem imaginava que pudesse existir (!!!) e que eu nunca teria encontrado por conta própria sem esse curso.” (!!!!)

Vem comigo?

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Leituras

O curso é livre, de leituras não-obrigatórias. Um dos objetivos do curso é que cada participante crie a sua própria experiência, única e individual, lendo as obras que preferir, de acordo com seus próprios interesses. Caso as participantes já tenham lido as obras principais, ou queiram mergulhar em mais leituras relacionadas, a ementa oferece sugestões de outras obras de apoio, tanto de ficção quanto de não-ficção, que dialogam com as leituras. Todas as leituras principais estão disponíveis em português. Algumas das leituras de apoio podem ser disponíveis somente em outras línguas. Todas as leituras estão disponíveis em PDFs gratuitos: como muitas leituras não estão em catálogo, forneço links para sites onde os PDFs podem ser baixadas. O download fica por conta e risco de cada pessoa. Qualquer coisa, fale comigo no privado. Tentem ler boas edições críticas e comentadas: forneço sugestões abaixo. Façam máximo uso das possibilidades audiovisuais e multimídia: a literatura da Idade Média era em larga medida oral. Então, ouvi-la por meio de audiolivros muitas vezes potencializa o conteúdo. Infelizmente, existem poucos audiolivros em português, mas são muitas as opções para quem entende inglês, francês, italiano, espanhol, alemão. Qualquer coisa, fala comigo.

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Funcionamento

As aulas acontecem na última quarta-feira de cada mês, das 19h às 21h, ao vivo, no aplicativo Zoom. Depois da aula, abrimos para perguntas e comentários, e continuamos no Zoom enquanto houver participantes interessadas. A gravação em vídeo das aulas fica disponível em um grupo fechado do Facebook até, no mínimo, 31 de dezembro de 2030. (É preciso se inscrever no Facebook para ter acesso ao grupo) Ao longo do mês, temos um grupo de Whatsapp onde conversamos sobre as leituras e onde as participantes podem fazer perguntas e tirar dúvidas. (A aula expositiva acaba sendo em larga medida pautada pelas necessidades específicas do grupo.)

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A Grande Conversa

Ao longo dos séculos e dos milênios, sempre que uma pessoa artista ou pensadora, filósofa ou cientista, cria uma nova obra intelectual, ela está ativamente dialogando com todas as suas predecessoras, seja somando ou reagindo, se opondo ou se juntando. Esse diálogo é o que chamamos de a Grande Conversa. Estudá-la não significa concordar com os valores ultrapassados que a moldaram, mas sim adquirir as ferramentas para moldarmos a Grande Conversa do futuro de acordo com nossos próprios valores, em nossos próprios termos.

Esse já é o quinto curso da série A Grande Conversa: os anteriores foram Introdução à Grande Conversa: Um passeio pela história do Ocidente através da literatura (2020), Grande Conversa Brasileira: a ideia de Brasil na literatura (2021), Grande Conversa Fundadora: os clássicos fundacionais das línguas modernas (2022) e Grande Conversa Espanhola: do El Cid ao Dom Quixote, a invenção da literatura moderna (2022-23).

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Professor

Alex Castro é formado em História pela UFRJ com mestrado em Letras-Espanhol por Tulane University (Nova Orleans, EUA), onde também ensinou Literatura e Cultura Brasileira. Tem oito livros publicados, no Brasil e no exterior, entre eles A autobiografia do poeta-escravo (Hedra, 2015), Atenção. (Rocco, 2019) e Mentiras Reunidas (Oficina Raquel, 2023). Escreve sobre literatura para a Folha de S.Paulo, 451, Suplemento Pernambuco e Rascunho. Atualmente, é mestrando do PPGLEN (Programa de Pós-Graduação em Letras Neolatinas), da UFRJ, com uma dissertação sobre literatura medieval espanhola e o Cantar do meu Cid.

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Não são vendidas aulas individuais. Não existem outras formas de pagamento. Quem estiver no estrangeiro e não tiver cartão de crédito ou conta bancária brasileira, fale comigo: eu@alexcastro.com.br

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Bolsas

Estão disponíveis 50 bolsas parciais para pessoas negras, pessoas com deficiência, povos originários, recipientes do Bolsa-Família, pessoas alunas ou professoras do ensino público fundamental ou médio, mediante preenchimento de uma ficha. Pessoas alunas da UFRJ também ganham bolsa. Fale comigo pelo email eu@alexcastro.com.br, assunto “Pedido de bolsa”.

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Dúvidas

Dúvidas e questões sobre pagamentos e bolsas, somente por email: eu@alexcastro.com.br

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Curso em resumo

Links levam para a descrição da aula nessa página.

1 Roma, Cidade de Deus, Agostinho, latim, V

2 Vikings, Beowulf, inglês, VIII

3 Conto, Mil e uma noites, árabe, IX

4 Cruzada, Canção de Rolando, francês, XI

5 Amor, Tristão e Isolda, francês, XII

6 Reconquista, Cantar do meu Cid, espanhol, XII

7 Cavalaria, Perceval, Chrétien, francês, XII

8 Paganismo, Canção dos Nibelungos, alemão, XII

9 Paródia, Alcassino e Nicoleta, francês, XII

10 Graal, Parsifal, Eschenbach, alemão, XII

11 Mística, Espelho das almas simples, Porete, francês, XIII

12 Cantigas, Cantigas, português, XIII

13 Escolástica, Suma Teológica, Tomás, latim, XIII

14 Enciclopédia, Comédia, Dante, italiano, XIV

15 Viagens, Livro das Maravilhas, Polo, italiano, XIV

16 Humanismo, Cancioneiro, Petrarca, italiano, XIV

17 Peregrinação, Contos da Cantuária, Chaucer, inglês, XIV

18 Mulheres, Cidade das Damas, Pisano, francês, XV

19 Goliardos, Poesias, Villon, francês, XV

20 Artur, Morte de Arthur, Malory, inglês, XV

21 Cidade, Celestina, Rojas, espanhol, XV

22 América, Diários, Colombo, espanhol, XV

23 Renascimento, Orlando Furioso, Ariosto, italiano XVI

24 Vernáculo, Diálogo em louvor linguagem, Barros, português, XVI

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Os links de livros direcionam para a Amazon Brasil. Se você clicar e comprar, ganho uma comissão, e te agradeço muito. As edições linkadas não são necessariamente as melhores, mas sim as que estão em catálogo atualmente. Todas as obras estão em domínio público e podem ser facilmente encontrada na internet. Qualquer dúvida, pergunte: eu@alexcastro.com.br

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Séc.V

1. Roma

(Vídeos da aula: I Introdução; II Roma; III Cristianismo; IV Agostinho.)

A Idade Média começa com o fim do mundo antigo, e o mundo antigo termina com a queda de Roma. Agostinho de Hipona (354-430), pensador do novo cristianismo que dominará o Ocidente na época medieval, escreve em latim o texto-chave desse momento de transição. Enquanto muitos colocavam a culpa nos cristãos pela catástrofe da invasão e saque de Roma, Agostinho escreve a Cidade de Deus para explicar e encaixar a queda de Roma dentro de uma nova concepção cristã da História. Milênios mais tarde, em plena época iluminista, o historiador britânico Gibbon escreve sua obra-prima Declínio e queda do Império Romano para refutar Agostinho: claro que tinha sido culpa do cristianismo. O texto de Agostinho pode ser denso, o de Gibbon é mais fluido. De qualquer modo, essa aula é uma introdução ao conceito de Idade Média: a atração do texto de Agostinho é vermos como os próprios contemporâneos encaram esse processo que estava vivendo, do fim da Antiguidade, sem ter como saber o que estava nascendo.

Leitura principal:

Cidade de Deus (livros 1-4, 19), Agostinho (426, Roma)

Apoio:

Declínio e queda do Império Romano (caps.15- 16), Gibbon (1776, Reino Unido)

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séc VIII

2. Vikings

(Vídeos da aula: I Vikings; II Beowulf; III Sagas)

A Idade Média europeia é o caldeirão cultural onde os elementos mais díspares passam mil anos sendo misturados até gestarem o nosso mundo. Beowulf, talvez o maior poema épico britânico, é um excelente exemplo: escrito na Inglaterra em idioma anglo-saxão antigo e ambientado na Escandinávia, ele retrata personagens vikings pagãos enfrentando monstros e matando dragões, mas já faz referências à Bíblia e a Jesus. A tradução do poeta irlandês Seamus Heaney (1939-2013), ganhador do Nobel de Literatura de 1995, é especialmente poderosa e dá para ouvir na própria narração dele. A edição da Editora 34, traduzida e organizada por Elton Medeiros, é excelente. As sagas islandesas são um monumento literário único dentro da literatura medieval: relatos em prosa (“saga” é a palavra islandesa para “conto”), de estilo lacônico e abrupto, sem nenhuma influência nem do latim nem do cristianismo, narrando longas histórias de intrigas e vinganças entre famílias. Vamos ler a curta Saga dos Volsungos, fonte de inspiração da Canção dos Nibelungos alemã, da 8ª aula. Leremos também alguns trechos da Edda em verso, um dos mais famosos compêndios de mitologia nórdica. Por fim, para quem quiser ler um delicioso tratamento contemporâneo, o romance Devoradores de mortos, de Michael Crichton (1942-2008), depois famoso pelo Jurassic Park, reconta o enredo de Beowulf a partir do ponto de vista de um sábio árabe viajando com vikings do século X.

Leitura principal:

Beowulf (c.700-1000, Inglaterra)

Saga dos Volsungos (c.1000-1200, Islândia)

Apoio:

Edda em verso (trechos) (c.1000, Escandinávia)

Devoradores de mortos, Crichton (1976, EUA)

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séc IX

3. Conto

(Vídeos da aula: I Islã; II Mil e uma noites; III Conde Lucanor e Maria de França)

A Europa e o Oriente Médio têm uma tradição literária muito rica em narrações curtas em prosa − as bisavós do nosso conto contemporâneo. Nossa leitura principal serão alguns contos das Mil e uma noites, uma coletânea coligida em vários países, da Pérsia à Índia, passando por todo o mundo árabe, e ao longo de vários séculos, do IX ao XV, muito influente na literatura europeia. Quem prefere ler mulheres pode conferir os Lais (canções) de Maria de França (c.1160-1215), que escreveu no século XII e é considerada a primeira autora francófona cujo nome conhecemos – existe tradução ao português. Já as hispanoablantes podem ler algumas histórias de O Conde Lucanor, de Dom Juan Manuel de Castela (1282-1348), um dos primeiros grandes artesãos da língua castelhana e cujo estilo é diretamente influenciado pelos contos das Mil e uma noites.

Leituras principais:

Mil e uma noites (seleção) (séc.IX-XIV, mundo árabe)

Lais (seleção), Maria de França (1155-70, França)

Balada de Guigemar, Maria de França (1155-70, França)

Apoio:

Conde Lucanor, Dom Juan Manuel (1330-35, Espanha)

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séc XI

4. Cruzada

(Vídeos da aula: I História; II Rolando)

A Canção de Rolando é, ao lado do Cantar do meu Cid e da Canção dos Nibelungos, as três maiores obras-primas da Idade Média, cada uma delas representando a ponte entre identidades anteriores (germânica, visigótica, escandinava) e as novas literaturas nacionais das quais são fundadoras (francesa, espanhola, alemã). A mais antiga, e que influenciou e pautou todas as outras, é a Canção de Rolando, a canção de gesta paradigmática, “um dos mais fortes poemas bárbaros da literatura universal”. A história se passa no século VIII de Carlos Magno (742-814), idealizado como rei perfeito, mas está contaminada pelo espírito de Cruzada do século XI quando foi escrita. Uma pequena derrota da retaguarda franca de Carlos Magno nas mãos de bandoleiros bascos se transforma em uma derrota épica da Cristandade contra o Islã que serviu para inspirar e galvanizar o espírito bélico das Cruzadas. Não existe tradução em verso para o português e a única tradução em prosa está fora de catálogo: posso fornecer PDF. Quem preferir ler prosa de não-ficção pode conferir o relato em primeira pessoa de Godofredo de Villehardouin (1150-1213), um cavaleiro francês que participou da tomada de Constantinopla na quarta cruzada, em 1204. Na Itália do século XVI, o personagem Rolando, agora italianizado como Orlando, será um dos protagonistas do Orlando Furioso, maravilhoso poema épico que simboliza o Renascimento e nossa leitura da 23ª aula.

Leitura principal:

Canção de Rolando (1040-1115, França)

Apoio:

Crônica da quarta cruzada, Villehardouin (1207-13, França)

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séc XII

5. Amor

(Vídeos da aula: I Amor; II Abelardo e Heloísa; III Tristão e Isolda)

Uma das grandes invenções da Idade Média é o amor enquanto tema literário. Pedro Abelardo (1079-1142) foi um dos maiores filósofos da Idade Média, chamado de “Descartes do século XII” e visto como um pioneiro do empirismo, mas ficou famoso mesmo por seu trágico caso de amor com a freira Heloísa de Argenteuil (1190-1264) — e por ter sido castrado pela família dela. Sua correspondência pública com Heloísa, onde relembra a “história de suas calamidades”, é considerada como um dos textos pioneiros do gênero autobiográfico, além de precursora não só dos romances epistolares, mas também das autobiografias sensacionalistas de celebridades. Mas não são o único casal tragicamente famoso da Idade Média: o romance de Tristão e Isolda é a história de amor paradigmática, passional, enlouquecida, anti-ética, um amor que só prioriza a si mesmo e que passa por cima de tudo e de todos para se realizar. Imensamente influente, a paixão dos dois amantes aparece em numerosos ciclos de contos, romances, canções, óperas. Vamos ler a versão mais antiga, de Beroul, do século XII, deliciosamente safada (Tristão e Isolda são canalhas!), disponível em excelente tradução pela 34. Pode ser interessante compará-la com uma das mais recentes releituras, de Bédier, já no século XX, bem mais comportada que a medieval.

Leitura principal:

Correspondência de Abelardo e Heloísa (1132, França)

Romance de Tristão, Beroul (c.1190, França)

Apoio:

O romance de Tristão e Isolda, Bédier (1900, França)

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6. Reconquista

(Vídeos da aula: I Reconquista; II Cid)

O Cantar do meu Cid é o primeiro monumento literário da língua espanhola, talvez a primeira verdadeira obra-prima literária em qualquer língua românica. Escrito no século mais duro da chamada “Reconquista” (termo inventado pelos cristãos para mitificar sua luta contra os muçulmanos), o poema idealiza retrospectivamente um guerreiro mercenário real que muitas vezes combateu ao lado dos mouros contra cristãos — ao longo da História posterior, o Cid nunca parou de ser manipulado, virando até herói nacional, disputado pela esquerda e pela direita, de uma nação criada séculos depois de sua morte. O poema não é o que esperamos de um livro de cavalaria medieval: enquanto outras poesias épicas medievais são mais fantasiosas e escapistas, povoadas por heróis perfeitos que lutam contra monstros e gigantes, o Cid enfrenta a ingratidão de um rei ocupado e a ganância de genros covardes. Existe um substrato doméstico, quase prosaico, que ao mesmo tempo em que o aproxima de nós, também o destaca das outras canções épicas e heroicas medievais, de Beowulf à Canção de Rolando. Vale a pena ler também o recente Sidi, de Arturo Pérez-Reverte, um dos melhores autores espanhóis de livros de aventuras, onde o Cid é retratado como um herói da fronteira, em um quase faroeste espanhol medieval. Estou dedicando o meu Mestrado ao Cantar do meu Cid e não tenho como exagerar o quanto amo essa obra.

Leitura principal:

Cantar do meu Cid (c.1190, Espanha)

Apoio:

Sidi, Pérez-Reverte (2019, Espanha)

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7. Cavalaria

(Vídeos da aula: I Cavalaria; II Chrétien; III Gawain)

Talvez o gênero literário mais original e paradigmático da Idade Média seja o romance de cavalaria, antepassado necessário do nosso romance contemporâneo e brilhantemente parodiado e homenageado no primeiro grande romance que inventa a Era Moderna, o Quixote. É nos livros de cavalaria que a mentalidade medieval mais se revela, em suas prioridades e delícias. Seu mais genial praticante, um de meus autores preferidos de todos os tempos, considerado na França como “o pai do romance”, é o genial Chrétien de Troyes (1130-90), que, de certa maneira, inventa o gênero e nunca é superado. Em português, temos em catálogo o Perceval, considerado por muitos sua obra-prima e onde aparece pela primeira vez na literatura o graal. Na 10ª aula, leremos o Parsifal de Wolfram von Eschenbach (1160-1220), que é uma adaptação e expansão do Perceval. Para quem quiser ler as duas obras, é muito interessante acompanhar como a lenda de Percival e do Graal vai mudando, se expandindo, se desenvolvendo de um autor para outro. Para quem não quiser ler duas versões da mesma história e falar outras línguas, recomendo ler literalmente qualquer outra obra de Chrétien: todas são maravilhosamente deliciosas. Sua primeira novela, Erec e Enid, está disponível em ebook brasileiro. Em inglês, gosto especialmente das traduções em verso de Ruth Harwood Cline. Mas não é com a França de Chrétien que associamos o Rei Arthur, mas com a Inglaterra. Leremos também, de uma época um pouco posterior, a primeira obra-prima inglesa do ciclo artúrico, breve e perfeita, escrita em inglês antigo e recuperando o verso aliterativo usado em Beowulf. Em Sir Gawain e o cavaleiro verde, a corte do famoso Rei Arthur é somente um pretexto para uma narrativa que é a precursora da melhor literatura fantástica e de terror. O recente filme de 2021, apesar de ser uma adaptação bastante livre, é uma obra-prima por si só. Por fim, para os especialmente interessados em Espanha medieval como eu, o delicioso Libro del Caballero Zifar, escrito aproximadamente cem anos depois de Chrétien, é o primeiro romance de cavalaria espanhol original, ainda muito dependente da estrutura dos contos orientais que lemos na 3ª aula.

Leitura principal:

Romances arturianos, Chrétien (c.1170, França)

Perceval, Chrétien (c.1180, França)

Sir Gawain e o cavaleiro verde (c.1380, Inglaterra)

Apoio:

Libro del Caballero Zifar (c.1300, Espanha)

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8. Paganismo

(Vídeo da aula: Nibelungos)

A Canção dos Nibelungos, escrita na Alemanha e inspirada por personagens e situações das sagas escandinavas, é o último grande grito pagão da literatura medieval e a derradeira resistência de elementos bárbaros à completa hegemonia do pensamento cristianizado. Já existe o cristianismo, os heróis são teoricamente batizados, mas a nova religião parece ainda não ter penetrado fundo: seguindo códigos de ética e de conduta ainda são pré-cristãos, as personagens matam, mentem, enganam e nunca pagam o preço ou são repreendidas. Daí em diante, os velhos bárbaros saem de cena e só voltam, já idealizados e mitificados, no romantismo nacionalista do século XIX, quando A Canção dos Nibelungos é transformada em mito nacional alemão pela ópera de Richard Wagner (1813-83), O anel do Nibelungo: daí para ser instrumentalizada pelos nazistas foi um pulo. Siegfried, Kriemhild e Brünhild, porém, são inocentes dos crimes de Hitler − até que porque cometem uma quantidade generosa e apavorante de crimes próprios, vinganças, traições e massacres. Nosso desafio de leitoras é separar o brilhantismo inegável da obra original dos usos e abusos a que foi submetida posteriormente pelas piores pessoas.

Leitura principal:

Canção dos Nibelungos (c.1200, Alemanha)

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9. Paródia

(Vídeo da aula: Alcassino & Nicoleta)

Nem só de seriedade vive a literatura medieval. Alcassino e Nicoleta, essa pequena obra-prima, é a única sobrevivente de um gênero chamado de chantefable, ou seja, uma fábula cantada, alternando partes em prosa e verso. Ao mesmo tempo em que demonstra influência dos contos orientais, como os da 3ª aula, ela também é primordialmente uma paródia de muitos gêneros da literatura medieval, dos livros de cavalaria cortesãos às canções de gesta. Em um mundo repleto de cruzadas intolerantes e guerras santas, essa deliciosa e inesperada história do amor de um cristão por uma muçulmana é alternadamente singela e provocante, terna e sensual, amorosa e engraçada. Para quem lê espanhol, vale a pena ler também alguns trechos do Libro de buen amor, uma das obras-primas mais únicas da literatura espanhola medieval, uma colagem de sátiras, paródias e contos de todos os gêneros e fontes.

Leitura principal:

Alcassino e Nicoleta (c.1190, França)

Apoio:

Libro de buen amor, Ruiz (1330-43, Espanha)

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10. Graal

(Vídeo da aula: Parsifal)

As duas grandes obras-primas da Alemanha medieval foram compostas quase simultaneamente e apontam para lados radicalmente opostos: enquanto a Canção dos Nibelungos é o réquiem do paganismo, o Parsifal, de Eschenbach é a prova de que a evangelização dos bárbaros já seguia avançada. Escrito somente dez anos depois do Perceval de Chrétien, a obra de Eschenbach é uma expansão, uma recriação e, talvez mais importante, uma cristianização da lenda do Graal: ele transforma a aventura cortesã e cavalheiresca do francês em uma peregrinação cristã, em uma jornada ético-espiritual interna, em um precursor dos romances de formação alemães. Em Eschenbach, a chave para o sucesso na Demanda ao Santo Graal não era uma batalha, uma luta ou uma peripécia, mas uma pergunta que só podia nascer de um lugar de cuidado e de empatia, de observação e de atenção. Especulava Simone Weil (1909-43): por quantas noites escuras temos que passar, especulava ela, para podermos realmente sair de nós mesmas e querer saber, como ensinava Eschenbach, “qual é o seu sofrimento? como posso ajudar?”

Leitura principal:

Parsifal, Eschenbach (c.1200, Alemanha)

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séc XIII

11. Mística

(qua, 27nov24)

Houve duas grandes tendências do cristianismo medieval: por um lado, a escolástica, uma escola filosófica e racional representada por Abelardo (5ª aula) e Tomás (13ª); e, por outro, o misticismo de Bernardo de Claraval (1090-1153), Marguerite Porete(1260-1310)e Mestre Eckhart(1260-1328), e de movimentos como das beguinas, mulheres leigas que, sem fazer votos monásticos ou de clausura, viviam em comunidades ascéticas. Vale a pena lembrar que misticismo não tem nada a ver com mágica ou esoterismo, mas somente significa buscar uma conexão com o transcendental (nesse caso, o Deus cristão) através da experiência direta, sem precisar passar por textos e estudos, doutrinas ou dogmas. Por isso, o místico é sempre um espírito contestador, antepassado dos primeiros revolucionários, o único livre-pensador possível no contexto medieval, sempre fugindo de hierarquias e flertando perigosamente com as heresias. Nossa leitura principal será o Espelho das almas simples, da beguina Marguerite Porete, que morreu queimada na fogueira. Melhor sorte tiveram nossos outros autores, não por acaso ambos homens: o francês Bernardo de Claraval foi inimigo de Abelardo (6ª aula), promoveu a Segunda Cruzada (4ª aula), acabou virando santo e hoje dá nome a São Bernardo do Campo; já o alemão Mestre Eckhart, poderosíssimo escritor que tentava articular o inefável por meio de paradoxos, foi investigado pela Inquisição, morreu antes de ser condenado e nunca foi santificado. Ou seja, nossas pessoas autoras representam os três caminhos possíveis do misticismo medieval: um ortodoxo, um que foi investigado por heresia e outra que foi queimada por herege. Como curiosidade, vale a pena ler o maior poeta místico de todos os tempos, o espanhol João da Cruz (1542-91), com diversas boas traduções ao português.

Leitura principal:

Espelho das almas simples, Porete (c.1295, França)

De Diligendo Deo, Bernardo (c.1150, França)

Conselhos espirituais, Eckhart (c.1300, Alemanha)

Apoio:

A mística e os místicos (2022, Brasil)

Poesias, João da Cruz (c.1585, Espanha)

Marguerite Porete e as Beguinas, Motta Oliveira (2021, Brasil)

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12. Cantigas

(qua, 29jan25)

A poesia trovadoresca provençal dos séculos XI e XII é uma das primeiras literaturas compostas em língua românica (ou seja, derivada do latim) e é impossível exagerar a importância da sua influência: ela basicamente demonstra que era possível criar literatura de qualidade nessas novas línguas vulgares que começavam a surgir. Pelos séculos seguintes, toda pessoa que escolhe escrever literatura em língua vulgar e não em latim está seguindo a trilha aberta pelos trovadores provençais. E uma das primeiras literaturas a surgir a partir desse movimento são as cantigas em galego-português: as de amor, as de escárnio e, especialmente, as de amigo, que representam a primeira criação literária original da nossa tradição. Durante o florescimento dessa poesia, no século XIII, o galego-português foi a língua literária de maior prestígio na península ibérica: até mesmo Afonso X, o rei de Castela que instituiu o uso do idioma castelhano nos documentos oficiais do governo, quando queria escrever poesia, escrevia em galego-português. Nessa aula, leremos uma seleção das poesias provençais dos séculos XI e XII e das cantigas em galego-português do XIII, inclusive as compostas pelos reis Dom Dinis (1261-1325), de Portugal, e Afonso X (1221-84), de Castela. Não subestimem essas cantigas: elas parecem bobas e repetitivas (também tive essa impressão na primeira leitura, na escola) mas são surpreendentemente densas, complexas, interessantes e, até mesmo, sacanas. Como vamos ler algumas das cantigas de Santa Maria de Afonso X, será uma boa ocasião para as hispanoablantes conferirem algumas das poesias marianas de Gonzalo de Berceo (1194-1264), o primeiro poeta da língua espanhola cujo nome conhecemos e um dos maiores de todos os tempos – era um dos poetas preferidos do nosso João Cabral de Melo Neto (1920-99), onde podemos facilmente detectar sua influência.

Leitura principal:

Cantigas de Amigo (seleção) (c.1250, Portugal)

Cantigas de Santa Maria (seleção), Afonso X (c.1270, Espanha)

Poemas de Guilherme de Aquitânia (c.1100, França)

Apoio:

Milagres de nossa Senhora, Berceo (c.1250, Espanha)

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13. Escolástica

(qua, 26fev25)

A redescoberta de Aristóteles (384-22 aEC) causa abalos sísmicos no edifício do conhecimento medieval e dá início a um pequeno renascimento em plena Idade Média. Em uma Europa onde começam a ressurgir as cidades e no contexto das primeiras universidades (aliás, uma invenção medieval), Tomás de Aquino (1225-74) é o pensador responsável por elaborar a tão ansiada síntese tomista entre a lógica cristã e a filosofia aristotélica, criando assim as condições culturais e intelectuais para o avanço do pensamento ocidental dos próximos séculos. Certamente o maior de todos os filósofos medievais e um dos maiores de todos os tempos, Tomás me ensinou a pensar e me ensinou a escrever: nenhum pensador é tão límpido, lógico, inexorável no desenvolvimento escrito dos seus raciocínios. Não precisam se assustar com a Suma Teológica em si: mesmo se não concordarmos mais nem com suas premissas nem com suas conclusões (nunca concordei), mesmo se não estivermos tentando entender a profundidade de sua filosofia, vale a pena ler Tomás não só para aprendermos seu método de pensar e de escrever, mas também para mergulharmos no universo intelectual da Idade Média.

Leitura principal:

Suma Teológica (trechos), Tomás (1265-74, França)

Apoio:

Introdução à Suma Teológica, Grabmann (1912, Alemanha)

Suma teológica: Uma chave de leitura, Loughlin (2010, Canadá)

São Tomás de Aquino e o aristotelismo cristão, Marcondes (2016, Brasil)

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séc XIV

14. Enciclopédia

(qua, 26mar25)

Antes mesmo de existirem as primeiras enciclopédias modernas, no século XVIII, a Idade Média foi marcada por um certo afã enciclopédico e taxonômico, uma vontade de abarcar todo o conhecimento do mundo e domá-lo, defini-lo, classificá-lo. A Suma Teológica de Tomás (13ª aula) é uma das muitas manifestações desse fenômeno. Dante Alighieri (1265-1321) é quase universalmente considerado o maior de todos os escritores medievais, por seus inegáveis dotes de poeta literário; por ter quase que sozinho transformado o toscano em uma língua literária, futura língua nacional, sendo assim considerado um precursor do Renascimento; mas, sobretudo, pelo caráter enciclopédico, didático e totalizante da sua Comédia, que resume e demonstra, exalta e lamenta todos os aspectos possíveis e imaginários da civilização medieval. Por isso, está no centro do nosso curso.

Leitura principal:

Comédia, Dante (1320, Itália)

Apoio:

Dante como poeta do mundo terreno, Auerbach (1929, Alemanha)

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15. Viagens

(qua, 30abr25)

Muitas pessoas imaginam que a Idade Média era uma época tacanha, fechada em si mesma e desinteressada do mundo exterior. Por isso, o impulso expansivo e viajante das Grandes Navegações, de Cristóvão Colombo (1451-1506) e de Pedro Álvares Cabral (1467-1520), seria um dos marcos do final desse período e do começo do Renascimento. Mas, na verdade, esse impulso era em larga medida medieval: Colombo (nossa leitura da 22ª aula) chegou nas Américas com uma cópia do Livro das Maravilhas de Marco Polo (1254-1324) toda marcada e sublinhada. Nossa leitura principal será exatamente essa obra que, apesar do título, é o relato sóbrio e objetivo (na medida do possível!) de um mercador eminentemente prático rodando a Ásia e procurando por oportunidades de negócios. Nossa outra leitura será o relato de um viajante menos famoso, mas não menos importante: entre 1325 e 1353, o marroquino Ibn Battuta (1304-77) percorreu 120 mil quilômetros do mundo muçulmano, incluindo Espanha, e também África, Índia, Sudeste Asiático e até da China. Por fim, para quem quiser, sugiro a leitura de uma pequena obra-prima do século XX, Cidades invisíveis, inspirada pelos relatos de Marco Polo. Nas palavras de seu autor, Ítalo Calvino (1923-85): “[É o livro] em que penso haver dito mais coisas, será talvez porque tenha conseguido concentrar em um único símbolo todas as minhas reflexões, experiências e conjeturas.”

Leitura principal:

Livro das Maravilhas, Marco Polo (c.1300, Itália)

Viagens de Ibn Battuta (c.1354, Marrocos)

Apoio:

Cidades invisíveis, Calvino (1972, Itália)

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16. Humanismo

(qua, 28mai25)

Sob muitos aspectos, Francesco Petrarca (1304-74) é o primeiro homem moderno, o primeiro poeta totalmente psicológico. O individualismo que ele inventa e o humanismo que ele simboliza ainda são os nossos. Durante 600 anos, ele pautou basicamente toda a poesia lírica europeia. Hoje, se ele às vezes nos parece tão lugar-comum é pelo mesmo motivo de Giovanni Boccaccio (1313-75): porque passou quase um milênio sendo copiado ferozmente. Mas Petrarca, longe disso, é um dos espíritos mais originais e rebeldes que já existiu, criador de toda uma versão do ser humano que ainda nos pauta. Para colocá-lo em seu contexto e medir o tamanho de sua influência, vamos ler também algumas poesias dos mais famosos poetas petrarquistas – que, em minha opinião, superam o mestre somente em execução, nunca em originalidade: Garcilaso de la Vega (1503-36), no espanhol, e Luis de Camões (1524-80), no português, ambos do século XVI. Mas sempre lembrando: se Garcilaso e Camões são petrarquistas, só Petrarca foi Petrarca.

Leitura principal:

Cancioneiro (seleção), Petrarca (1368, Itália)

Apoio:

Poesias, Garcilaso (c.1530, Espanha)

Rimas, Camões (c.1580, Portugal)

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17. Peregrinação

(qua, 25jun25)

Ao lado de Dante, Geoffrey Chaucer (1343-1400) é talvez o maior escritor da Idade Média, rompendo a insularidade anglo-saxã, integrando a Inglaterra à Europa e realizando aquela fusão de elementos germânicos e latinos que é a essência da língua e do próprio espírito inglês. É um homem medieval, cínico, engraçado, grosseiro, mas também é um poeta formado nas tradições francesa e italiana, lírico, meigo, trágico. Ele é popular e elegante, cômico e sério, cosmopolita e provinciano, mercador burguês e literato petrarquista, tudo ao mesmo tempo. Seus contos são, a seu modo, tão enciclopédicos quanto a Comédia de Dante: os seus romeiros em peregrinação a Cantuária são um microcosmo da Inglaterra e, por que não?, da própria Europa. Cada personagem conta sua própria história, em sua própria voz, em suas próprias palavras, em todos os registros possíveis, do alto ao baixo, do engraçado ao trágico. A tradução brasileira de José Francisco Botelho é especialmente deliciosa e eu recomendo.

Leitura principal:

Contos da Cantuária, Chaucer (c.1390, Inglaterra)

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séc XV

18. Mulheres

(qua, 30jul25)

Cristina de Pisano (1360-1430), filha do astrólogo do Rei da França, foi a primeira escritora profissional, a primeira mulher pensadora a viver do conteúdo que produzia. Dentre suas diversas obras, leremos a mais conhecida, Cidade das damas, uma polêmica contra os comentários misóginos do livro O Romance da Rosa, um dos maiores best-sellers da Idade Média − infelizmente, sem tradução ao português, senão também teríamos lido no nosso curso; tem um trechinho aqui. Em resposta, Cristina vai listando, de forma lógica, sistemática e inexorável, reminiscente de Tomás, todos os argumentos em prol da autonomia das mulheres, em capítulos como “porque mulheres podem ser inventoras”, “porque mulheres podem ser juízas”, “porque mulheres sabem guardar segredos”, etc etc, ao mesmo tempo em que traça uma verdadeira História das Mulheres. Tristemente, sua militância ainda é necessária até hoje.

Leitura principal:

Cidade das damas, Cristina (1405, França)

Apoio:

A mulher na idade média, Macedo (2000, Brasil)

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19. Goliardos

(qua, 27ago25)

Esse novo mundo medieval das cidades e das universidades faz surgir uma nova figura: os goliardos, clérigos itinerantes e vagabundos, levando uma vida devassa, antiascética e até mesmo criminosa. Suas poesias, compostas em latim e recolhidas em antologias como a Carmina Burana, depois musicada por Carl Orff (1895-1982), são brilhantes, engraçadas, sacanas, engenhosas. O auge da poesia goliarda acontece entre os séculos XI e XIII, mas o maior de todos os goliardos é o último, François Villon (1431-63), no século XV, um dos maiores poetas da Idade Média e da literatura francesa. Era jovem, beberrão, criminoso, desesperançado. Nascido em 1431, foi preso por homicídio, quase enforcado, solto e, então, aos 32 anos, desaparece. Ele passa da sátira burlesca ao pathos cristão sem piscar, e parece conter em si a soma de toda a potência da vida humana, inclusive da nossa, aqui, hoje, mas ainda em um contexto reconhecível como cristão medieval. Nenhum outro poeta da época consegue se comunicar conosco com tanta intimidade e urgência. Ele representa esse momento de virada revolucionária da Idade Média ao Renascimento: ao mesmo tempo em que ainda medieval em seus temas e formas, ele já era, por sua individualidade pulsante, renascentista. Seus temas refletem a fascinação crescente com a morte que caracteriza a atmosfera cultural cada vez mais mórbida do final da Idade Média. O poeta espanhol Jorge Manrique não foi goliardo, mas foi contemporâneo de Villon nesse outono da Idade Média e escreveu um dos maiores poemas sobre a morte de todos os tempos, Coplas pela morte de meu pai.

Leitura principal:

Poemas, Villon (c.1460, França)

Carmina Burana (trechos) (sécs.XI-XIII, Alemanha)

Apoio:

Coplas pela morte de meu pai, Manrique (c.1470, Espanha)

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20. Artur

(qua, 24set25)

Por acaso ou não, dois dos maiores escritores europeus do século XV foram criminosos, ladrões e assassinos: Villon e Thomas Malory (1405-71). Villon, pelo menos, escrevia sobre sua vida bandida, mas Malory produziu talvez o livro definitivo sobre a távola redonda do Rei Artur, o ápice absoluto da cortesia cavalheiresca, enquanto praticava, em sua vida, o exato oposto de todas essas virtudes. Várias de nossas leituras tratam de temas artúricos (3ª, 5ª, 7ª, 10ª aulas), mas o próprio Rei Artur é sempre um coadjuvante. Aqui não: Malory reúne em um só texto os episódios mais díspares, criando assim uma narrativa completa, envolvente e definitiva sobre esse grande personagem. Se formos ler somente um livro sobre Camelot, teria que ser esse. Para quem quiser ler uma adaptação poética do século XIX, temos os Idílios do Rei, de Tennyson; para uma releitura feminina do XX, Brumas de Avalon, de Bradley.

Leitura principal:

A morte do Rei Arthur (trechos), Malory (c.1485, Inglaterra)

Apoio:

Idílios do Rei, de Tennyson (1885, Reino Unido)

Brumas de Avalon, Bradley (1983, EUA)

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21. Cidade

(qua, 29out25)

A Celestina, de Fernando de Rojas (1470-1541),será a última obra-prima medieval do nosso curso, ainda plenamente medieval em suas preocupações e prioridades, mas também uma obra da transição ao renascimento, à Idade Moderna, ao capitalismo. Um mocinho vê uma mocinha em um jardim e se apaixona à primeira vista. Querendo se aproximar, contrata, por intermédio de seu criado, uma velha casamenteira. Com uma sinopse que poderia ser a de uma novela sentimental, a Celestina rapidamente se transforma uma tragédia irredimível, terrível, inesquecível. Nada é o que parece, nenhum personagem é virtuoso, a subversão dos cânones sentimentais é total: os nobres apaixonados pensam apenas em seus próprios prazeres, os pobres se esfaqueiam para ver quem enganará os nobres e os burgueses só querem saber de amealhar mais riquezas. Sátira iconoclasta e demolidora, A Celestina é precursora do Dom Quixote e do romance moderno; paródia cruel das novelas sentimentais; denúncia do mundo irreal de expectativas irreais de virtudes irreais dessa literatura do amor cortês cavalheiresco; obra-limite e verdadeiro testemunho literário da total crise de valores que marca a passagem da Idade Média para o Renascimento. Também é a primeira obra verdadeiramente urbana da literatura: no começo do XVI, as cidades crescem, habitadas por uma classe servil pobre e sem laços, servindo uma nobreza irresponsável e corrupta, que se aliou à uma monarquia cada vez mais absolutista e autoritária. Enquanto isso, as classes urbanas, que tentaram se fortalecer ao longo do XV, terminam o século derrotadas e sem rumo, lideradas por um nova (e débil) burguesia tão focada em aquisições materiais que acredita que acumular riquezas lhe isolará, lhe protegerá dos horrores e vicissitudes da existência. A Celestina é sintoma e produto desse processo histórico: ela coloca em cheque e expõe ao ridículo não só os antigos valores medievais, sentimentais, cavalheirescos, não só a religião cristã e o amor cortês, mas também os novos valores racionais, burgueses, pré-capitalistas que vão surgindo. Se o Renascimento simboliza a vitória da razão, essa mesma razão revela um universo sem sentido, onde os bons sofrem e os maus são recompensados, onde a própria razão pode ser utilizada para atacar e questionar a si mesma. A Celestina é o testemunho ótimo, perfeito, não só de uma época em crise política, religiosa, moral, mas também literária: todos os modelos literários estabelecidos estavam em crise, mas o romance como o conhecemos ainda não havia surgido. É empolgante ler A Celestina pensando que foi escrita em uma breve janela literária onde todas as possibilidades ainda estavam em aberto, onde tudo ainda era possível. É um conto ou é uma novela? Uma peça ou uma obra de teatro? Está escrita em prosa, então, não é poesia? É composta somente de diálogos, então, é teatro? Mas é longa demais para ser encenada e, apesar de ser toda dialogada, contém uma deliciosa quantidade de apartes, que nos permitem um acesso profundo à interioridade das personagens que nos remete mais ao romance que ao teatro. Todos estão contra todos, em conflito feroz, mas não temos uma voz narrativa autoral que nos dê um porto seguro, que nos indique um caminho, que nos mostre por quem torcer: quem está certo? Quem está errado? Nós, pessoas leitoras, devemos estar do lado quem? Onde nos encaixamos? Não sabemos. O romance (a peça? o livro?) nos puxa o tapete a cada página e, quando finalmente nos abandona, é em uma posição de desamparo total, quase todas as personagens mortas e em um dos mais dolorosos gritos fúnebres da literatura. E a nós, pessoas leitoras, só nos resta, à revelia e dolorosamente, formar nossos próprios juízos, nossas próprias opiniões. O Dom Quixote é considerado como o primeiro romance moderno, entre outras coisas, por criar a figura do primeiro leitor moderno, o primeiro leitor que precisa formar sua própria opinião sem o auxílio (na verdade, à revelia) da voz narrativa. Mas, se for esse o critério, talvez o primeiro romance seja A Celestina. É uma das minhas obras preferidas da literatura mundial, bem pouco conhecida apesar de ter boas traduções ao português e é sempre um prazer apresenta-la a novas pessoas leitoras.

Leitura principal:

Celestina, Rojas (1499, Espanha)

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22. América

(qua, 26nov25)

O momento no qual as pessoas europeias chegam, ou descobrem, ou invadem, as Américas é muitas vezes considerado o marco do fim da Idade Média. Mas as épocas raramente têm finais e começos tão fechadinhos: pelo contrário, as épocas vão lentamente se imiscuindo umas nas outras, em uma grande conversa marcada por séculos de rupturas e continuidades, de permanências e quebras. Cristóvão Colombo e Hernán Cortés (1485-1547) são geralmente vistos como homens renascentistas por excelência. Lendo seus diários e cartas, porém, eles se revelam profundamente medievais em seus princípios e prioridades. Esse próprio anseio de se lançar ao mar, como vimos na 15ª aula, é um ímpeto medieval, que surge de anseios e preocupações medievais. Colombo e Cortés também representam perfeitamente esse novo momento histórico que vinha surgindo. Suas próprias palavras nos permitem testemunhar de que maneira ambos simbolizam essa transição, essa continuidade, essa ruptura, entre a Idade Média e o Renascimento. Aliás, o que é Renascimento? Essa ideia ainda faz algum sentido? A partir dessa aula e até o final do curso, saímos dos textos medievais em si, e começamos a estudar como a Idade Média foi usada e abusada, lembrada e esquecida, mitificada e instrumentalizada ao longo dos séculos seguintes. Não poderia haver exemplo melhor do que dois homens que até hoje ainda são polêmicos protagonistas das guerras culturais entre a direita e a esquerda, como dá pra ver pelo campo minado da primeira frase. Foi descoberta? Foi chegada? Foi invasão?

Leitura principal:

Diários (trechos), Colombo (1492-1504, Itália)

Cartas (trechos), Cortés (1519-1526, Espanha)

Apoio:

Invenção da América, O’Gorman (México, 1958)

Visão do Paraíso, Holanda (Brasil, 1959)

Herencia medieval de Mexico, Weckmann (México, 1984)

Herencia medieval de Brasil, Weckmann (México, 1993)

Civilização feudal: do ano mil à colonização da América, Baschet (França, 2009)

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séc XVI

23. Renascimento

(qua, 28jan26)

Orlando Furioso, essa deliciosa lufada de ar fresco, é o Renascimento em forma de obra literária. “Todo o espírito da sociedade renascentista está contido nesse livro, cuja leitura é um dos prazeres mais perfeitos que a literatura europeia nos oferece”, escreveu o crítico Erich Auerbach. É um dos meus livros preferidos, obra sem fim que abro em qualquer página e nunca me arrependo, verdadeira máquina de maravilhar, rir, entreter. Na Itália do quattrocento, Orlando (versão italianizada do francês Roland, personagem principal da Canção de Rolando, que lemos na 4ª aula) tinha se convertido em um personagem popular. Em 1494, morre Matteo Boiardo (n.1441), um poeta menor, deixando inconcluso seu poema épico Orlando enamorado, para o qual criou vários novos personagens, inclusive Angélica, a princesa chinesa que é das minhas mulheres favoritas da ficção. O poeta Ludovico Ariosto, esse um dos mais brilhantes de todos os tempos, se dispôs a terminar a obra e resolver as pontas soltas. Parece um objetivo prosaico, menor: concluir uma obra que nem era tão boa assim, reciclando personagens lá da época do imperador Carlos Magno. Mas, talvez por isso, por essa leveza de propósito, o Orlando Furioso é tão absurdamente genial. Como escreveu Ítalo Calvino, em seu livro sobre o Orlando Furioso: “No princípio, só há uma moça que foge por um bosque montada em seu cavalo. Saber quem é ela só importa até certo ponto: protagonista de um poema que ficou incompleto, ela corre para entrar em um poema que acaba de começar.” A partir do momento em que Angélica entra correndo, perseguida por diversos cavaleiros, o poema não para mais. Uma cena interrompe a outra, sem nunca diminuir o ritmo, criando conexões que poderíamos ficar a vida deliciosamente desatando. Mas não de forma complexa, difícil, cerebral, intelectual, elitista: esse poema é divertido como é divertida uma telenovela sem fim, muito bem escrita, com infinitos personagens e situações. De novo, independente de qualidade literária, é impossível exagerar o quão simplesmente gostoso de ler é esse poema. Mas não é só isso: o poema é muito maior que o seu enredo. O italiano poético do autor é belíssimo, sonoro, as palavras se encaixam umas nas outras com graça e humor. (Ah, eu não falei que é muito, muito engraçado.) Temos sorte de dispor de uma recém-publicada tradução completa ao português brasileiro, simplesmente excelente, bilíngue, com excelentes notas.

Leitura principal:

Orlando Furioso (trechos), Ariosto (1516, Itália)

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24. Vernáculo

(ter, 25fev26)

Na Europa da Idade Média, quando o latim já estava engessado pela idade e pela obsolescência, e as línguas modernas ainda não estavam engessadas pelas gramáticas e pelas convenções, houve um mágico intervalo de tempo onde todas as possibilidades estavam em aberto, tudo ainda era possível, qualquer experimento literário parecia factível. O primeiro grande artista a fazer uso dessa alucinante liberdade foi o florentino Dante, que decide escrever sua ambiciosa comédia não no latim, como seria natural, pois era a língua da cultura e da erudição, mas no dialeto toscano — hoje, graças a Dante, conhecido como “italiano”. Com esse gesto revolucionário, Dante não apenas expandia seu horizonte de leitores e ouvintes para além da elite, mas também dava o exemplo para escritores e poetas de toda a Europa: sim, era possível transformar essas novas línguas vernáculas, recém-surgidas e até então consideradas vulgares e toscas, em instrumentos refinados da mais alta poesia. Todas as nossas leituras desse curso, em alguma medida, fazem parte desse fascinante processo de criação e consolidação linguística e literária. Uma parte integrante e importante desse processo foram os elogios às línguas vernáculas, onde intelectuais defendiam a potencialidade de seus idiomas frente ao latim. O primeiro, como não poderia deixar de ser, é do próprio Dante: Sobre a eloquência em língua vulgar, já no século XIV. Depois de muita efervescência criativa, o gênero se consolida no século XVI: o elogio do espanhol, em 1535, por Juan de Valdés (1494-1541); do português, em 1540, por João de Barros (1496-1570); e do francês, em 1549, por Joachim du Bellay (1522-60). Sobre o processo de formação da nossa língua, vale a pena ler também o excelente e acessível livrinho Latim em pó, de Caetano W. Galindo, certamente um dos grandes lançamentos de 2023.

Leituras principais:

Diálogos em louvor da nossa linguagem, Barros (1540, Portugal)

Latim em pó, Galindo (2023, Brasil)

Sobre a eloquência em língua vulgar (trechos), Dante (1302-1305, Itália)

Apoio:

Diálogo da língua, Valdés (1535, Espanha)

A defesa e a ilustração da língua francesa, Du Bellay (1549. França)

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Obras de referência

— Outono da Idade Média, Huizinga

— Mimesis: a representação da realidade na literatura ocidental, Auerbach

— História medieval, Candido da Silva

— Civilização do Ocidente Medieval, Le Goff

— História da literatura ocidental, Carpeaux

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Linguagem não-sexista

Em meus textos, para chamar atenção para o sexismo de nossa língua, inverto a norma e uso o feminino como gênero neutro. Não porque troquei um sexismo por outro, mas porque o gênero da palavra “pessoa” é feminino.

Trocar “meus alunos não calam a boca” por “minhas alunas não calam a boca” só mantém o sexismo da língua. Pior: sugere que são apenas as minhas alunas mulheres que não calam a boca.

Por isso, hoje, digo “minhas pessoas alunas não calam a boca.” Essa tem sido, pra mim, a maneira não-sexista de escrever.

Mais detalhes aqui: Mini manual pessoal para uso não-sexista da língua.

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