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Primeiras impressões de Paraíso Perdido, de John Milton

É como se fosse uma nova Bíblia, aprofundada e embelezada, onde questões discussões antes latentes são desenvolvidas com toda a arte vocabular que só um grande poeta é capaz.

Estou completamente embasbacado e impressionado, fascinado e apaixonado.

É como se fosse uma nova Bíblia, melhorada e modernizada, aprofundada e embelezada, onde as questões e discussões latentes no Gênese, em Jó, no Apocalipse, são finalmente desenvolvidas e elaboradas com toda a arte retórica e a beleza vocabular que só um poeta no auge dos seus poderes é capaz.

Paraíso Perdido tem tudo que eu buscava na Bíblia e não encontrava. De certo modo, é melhor, ou pelo menos, é o complemento ao meu livro preferido. Não teria como gostar mais.

(Meus livros preferidos são, nessa ordem, Bíblia, Declínio e Queda do Império Romano, Ilíada. Paraíso Perdido está arriscando entrar na lista.)

As questões levantadas já eram relevantes na época de Milton (que se engajou em uma revolução recém-derrotada e perdeu tudo, menos a vida) e são ainda mais na nossa:

Oquanto de obediência devemos ao poder constituído?

Quais são as obrigações do poder em relação aos seus dominados?

É mais digna uma vida de revolta sem fim comparada à paz de uma submissão bovina?

Ou, como bem coloca Satã, será melhor reinar no inferno do que obedecer no céu?

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Um elogio aos áudiolivros

Estou lendo na excelente edição da 34, que tem o texto original, excelentes notas, sensacionais ilustrações de Doré e uma tradução muito competente do poeta português Daniel Jonas. É uma edição melhor que a maioria das anglófonas, e eu recomendo com prazer.

Mas, na verdade, Paraíso Perdido chegou a mim graças a generosidade de outras pessoas.

Eu já havia tentado começar Paraíso Perdido várias vezes, mas nunca conseguia avançar. O verso livre de Milton me atrapalhava, eu lia em voz alta e não encontrava a cadência, não sentia onde estavam as pausas.

Aí, aconteceu a pandemia do Coronavírus e a empresa de áudiolivros Audible (que pertence à Amazon) liberou várias obras pra consumo gratuito durante a crise, entre elas, uma versão de Paraíso Perdido produzida pela Blackstone Audio e magistralmente narrada por Ralph Cosham.

Experimentei várias versões (gostei muito de uma da BBC, narrada por Anton Lesser, o Qyburn de Game of thrones), mas acabei me decidindo por essa de Cosham: ele não comete o erro de interpretar o texto (ou seja, de impor sua interpretação a nós) mas somente o eleva a novas alturas retóricas com sua pronúncia firme e impecável.

Dentre os áudiolivros sendo oferecidos de graça pela Audible, também ouvi, e gostei muito, dessa versão de Romeu e Julieta, produzida pela Arkangel. (Escrevi esse texto sobre minha experiência lendo e ouvindo a peça.)

Obrigado à Audible pelos presentes: sem a generosidade da empresa, eu não teria destravado a importância de Paraíso Perdido para mim. Que os presentes também sejam úteis para vocês.

(A lista completa dos áudiolivros sendo oferecidos de graça pela Audible.)

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Áudiolivros no Brasil

Por fim, para quem gosta de áudiolivros mas não quer ou não consegue ouvir em inglês, minha produtora preferida no Brasil é a Tocalivros, onde estão dois dos meus livros: Atenção., narrado por mim, e Autobiografia do poeta-escravo, narrada pelo grande ator negro Eduardo Silva.

(Por que enfatizo que é um ator negro? Porque Manzano era um autor negro e, infelizmente, é muito comum que autores negros sejam interpretados por brancos. Nesse caso, parabéns à Tocalivros por ter feito questão que fosse um ator negro a interpretar esse grande autor também negro.)

Nessa quarentena, a Tocalivros também abriu o acervo: basta visitar o endereço tocalivros.com/cupom e digitar o cupom TOCALIVROS para ter acesso gratuito à maioria dos áudiolivros.

(Por restrições contratuais da editora, Atenção. não está incluído, e precisa ser comprado separadamente.)

Meus áudiolivros na Tocalivros:

— Autobiografia do poeta-escravo (Um podcast sobre o áudiolivro com o ator e narrador Eduardo Silva)

— Atenção. (Um podcast sobre esse áudiolivro.)

(Clicando nos links da Tocalivros e fazendo qualquer compra, eu ganho uma comissão, e te agradeço.)

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Últimas leituras, abril de 2020

Em abril, retomei a escritura de um romance passado em épocas pré-históricas e minhas leituras estão refletindo esse trabalho:

1.59 Sambaqui, arqueologia do litoral brasileiro, de Madu Gaspar, 2000, português.

2.60 Os índios antes do Brasil, de Carlos Fausto, 2000, português.

3.61 How Language Began, The Story of Humanity’s Greatest Invention, de Daniel L. Everett, 2017, inglês.

4.62 Grooming, Gossip, and the Evolution of Language, de Robin I.M. Dunbar, 1996, inglês.

5.63 The language instinct, the new science of language and mind, de Steve Pinker, 1994, inglês.

6.64 1499, o Brasil antes de Cabral, de Reinaldo José Lopes, 2017, português.

7.65 Primitive man as philosopher, de Paul Radin, 1927, inglês.

8.66 A mentalidade primitiva, de Lucien Lévy-Bruhl, 1922, francês. [Trad: Ivo Storniolo, 2008.]

9.67 Numbers and the making of us, Counting and the course of human cultures, de Caleb Everett, 2017, inglês.

10.68 Por que almocei meu pai, de Roy Lewis, 1960, inglês. [Trad: Celso Nogueira, 1995.]

Como sempre, aceito sugestões.

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