A poesia é a casa da subversão e do radicalismo.
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“Queen Mab” (1813), de Percy Bysshe Shelley, foi escrito e publicado quando o poeta tinha 20 anos.
Nas Obras Completas, Mary Shelley o relegou, injustamente, à seção “Juvenilia”, com muitos e estratégicos cortes.
Foi proibido, recolhido, pirateado. Seu primeiro editor ficou quatro meses preso. Transformou-se em Bíblia dos subversivos, dos revolucionários, dos anarquistas, dos chartistas. Marx e Engels leram e admiraram. Bloom, em uma frase onde menciona Lucrécio, afirma que Shelley é “o espírito mais cético a jamais escrever poesia”.
Quarenta anos depois de publicado, seu autor já morto há vinte, “Queen Mab” ainda estava sendo processado por “difamação blasfema”. Perdeu, e com toda razão: se existe esse crime, o poema era certamente culpado dele.
Dom João ainda estava no Rio de Janeiro, Napoleão ainda passeava pela Europa, o trem ainda faltava dez anos para ser inventado… e Shelley já escrevia um poema radical sobre ateísmo, amor livre e vegetarianismo, anti-anticapitalista e anti-monarquista, que ainda é radical hoje.
Daí, aliás, seu interesse e seu valor: ler “Queen Mab” em 2019 é recuperar um pouco a noção (já quase esquecida) de o quão subversivo um poema ainda pode ser.
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Abaixo, para quem não conhece, uma amostra de Shelley, com seu poema curto mais conhecido, em português e inglês:
Ozymandias
Eu encontrei um viajante de uma terra antiga
Que disse:—Duas gigantescas pernas de pedra sem torso
Erguem-se no deserto. Perto delas na areia,
Meio afundada, jaz um rosto partido, cuja expressão
E lábios franzidos e escárnio de frieza no comando
Dizem que seu escultor bem aquelas paixões leu
Que ainda sobrevivem, estampadas nessas partes sem vida,
A mão que os zombava e o coração que os alimentava.
E no pedestal estas palavras aparecem:
“Meu nome é Ozymandias, rei dos reis:
Contemplem minhas obras, ó poderosos, e desesperai-vos!”
Nada resta: junto à decadência
Das ruínas colossais, ilimitadas e nuas
As areias solitárias e inacabáveis estendem-se à distância.
(Tradução de autoria desconhecida.)
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I met a traveller from an antique land
Who said:—Two vast and trunkless legs of stone
Stand in the desert. Near them on the sand,
Half sunk, a shatter’d visage lies, whose frown
And wrinkled lip and sneer of cold command
Tell that its sculptor well those passions read
Which yet survive, stamp’d on these lifeless things,
The hand that mock’d them and the heart that fed.
And on the pedestal these words appear:
“My name is Ozymandias, king of kings:
Look on my works, ye mighty, and despair!”
Nothing beside remains: round the decay
Of that colossal wreck, boundless and bare,
The lone and level sands stretch far away.
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Pós-escrito: Dê Alex Castro de Natal
Queridas pessoas lindas,
Está chegando o Natal, época de dar e receber presentes.
(Confesso que evito dar presentes, por esses motivos aqui.)
Mas, enfim, as outras pessoas não são eu. (E esse é justamente um dos temas do meu novo livro Atenção.)
Nesse Natal, se você pretende comprar objetos e oferecê-los às pessoas queridas, posso sugerir que alguns desses sejam meus livros?
Se você comprar em qualquer lugar, de qualquer forma, já me ajuda muito e eu te agradeço demais.
A página dos meus livros, com links para comprá-los em livrarias virtuais, é essa aqui: alexcastro.com.br/livros
Se você comprar na minha própria mão, você paga um pouco mais caro mas tem a satisfação de ajudar diretamente o autor que você curte e acompanha. (Farei o envio das próximas compras na segunda, 16 de dezembro, para garantir que tudo chegue antes do Natal.)
Tenho dois títulos à venda na minha mão, em diferentes formatos:
Meu mais recente livro, Atenção., lançado pela editora Rocco em 2019, traz ensaios sobre a atenção como uma ferramenta de transformação política: ouvir, acolher, olhar, tudo isso pode ser revolucionário. O desenvolvimento pessoal, para valer a pena, tem que ser para nos tornar pessoas melhores para as outras pessoas, não apenas para nós mesmas.
Do Atenção., estou vendendo tanto o impresso ($95) quanto um voucher físico do áudiolivro ($75), narrado por mim mesmo. Em ambos os casos, você recebe, pelo correio, uma dedicatória apócrifa e três marcadores de página exclusivos.
Esse é o lindíssimo voucher do áudiolivro (a foto não faz justiça):
Também tenho pra vender a Autobiografia do Poeta-escravo, escrita pelo cubano Juan Francisco Manzano, e traduzida e anotada por mim. É a única autobiografia de uma pessoa escravizada de toda a América Latina que chegou até nós. Um texto emocionante, poderoso, valioso. Meu maior interesse artístico e estilístico foi tentar criar uma voz própria para Manzano em português: como falaria e escreveria uma pessoa escravizada brasileira que vivesse tudo o que ele viveu?
Na foto abaixo, a Autobiografia na pilha dos livros que Lula está lendo:
(Esse recente artigo acadêmico faz uma análise política e literária dessa minha tradução: “Alex Castro e a tradução minorizante da “Autobiografia do Poeta-Escravo”, de Juan Francisco Manzano“)
Da Autobiografia, estou vendendo a edição brasileira ($80) e também a (rara) edição cubana ($200), em espanhol, com reprodução facsimilar de todas as páginas do manuscrito original, trinta fotos originais e todas as minhas 400 notas explicativas.
(Acabou de sair o áudiolivro da Autobiografia, narrado parcialmente por mim, com o Manzano interpretado pelo grande ator negro Eduardo Silva. Esse você compra diretamente da Tocalivros e, como não passa por mim, não ganha brindes, mas está sensacional.)
Esse ano, com o lançamento do Atenção., viajei muito, fiz poucos eventos e estou quebrado. Pra piorar a situação financeira, mas melhorar minha vida, casei no civil faz uns dias e, em poucas semanas, caso no religioso, com a mulher mais maravilhosa que já encontrei na vida.
Então, se você curte e acompanha meu trabalho, a melhor coisa que pode fazer por mim, nesse fim de ano, é comprar e presentear meus livros. Eles são tudo que tenho de melhor, tudo o que tenho a dizer, tudo o que vou deixar.
Outra forma de ajudar, ainda mais diretamente, é tornar-se mecenas, aquelas santas pessoas (sempre listadas no final dos meus livros) que fazem as contribuições em dinheiro, únicas ou regulares, que possibilitam minha criação artística.
De qualquer modo, e isso talvez seja o mais importante, todos os meus textos são oferecidos a você de graça e estão de graça na internet, a disposição de qualquer pessoa.
Se você quiser e puder contribuir em dinheiro, eu te agradeço.
Mas, se não puder e se não quiser, ainda assim é meu prazer e minha honra ter você aqui me acompanhando, me lendo, me apoiando.
Muito obrigado e feliz natal!
Uma resposta em “Queen Mab, de Shelley”
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