Quando escrevo sobre obediência, muitas pessoas respondem com uma variação de:
“Eu obedeço meu pai/meu professor/minha esposa/etc… por respeito!”
Quando escrevo sobre obediência, muitas pessoas respondem com uma variação de:
“Eu obedeço meu pai/meu professor/minha esposa/etc… por respeito!”
“Ai, Alex, não sei como você pode ser ateu. Jura que você acha que é só isso? Que não tem nada depois? Morreu, acabou?”
“Tem tudo depois. Nada acaba. Toda a matéria do meu corpo já esteve em outros seres vivos, toda a matéria do meu corpo estará de novo em outros seres vivos. Nem um pedacinho do meu corpo vai se perder ou deixar de existir. Se isso não é mágico e transcendental, eu não sei o que é.”
Algumas espécies de rotíferos
são compostas só por fêmeas.
Os raros machos,
quando surgem,
(nascer não é a palavra)
não tem boca nem estômago,
são incapazes de sobreviver
por mais de algumas horas,
e se concentram apenas
na única tarefa:
foder.
E
então
morrem.
Se o meu filme ou livro preferido é sobre largar tudo e ir morar no mato, mas nunca larguei tudo e fui morar no mato… o que isso diz sobre mim?
Quem perpetrou os piores crimes e os maiores massacres da história? Os obededientes ou os desobedientes? De qual lado queremos estar?
Se o tempo é um lugar, então, pode ser visitado.
José J. Veiga (1915–99) é um de nossos grandes autores esquecidos, um alegórico de mão cheia, talvez único verdadeiro praticante de realismo mágico no Brasil.
Tomás de Aquino, frade e teólogo, mais tarde santo, foi um dos homens mais lógicos e mais racionais de todos os tempos. Ninguém me ensinou, tanto quanto ele, sobre os limites duros da lógica e sobre os pontos cegos da racionalidade.
Por causa de minha prática zen, tenho acordado todo dia antes do nascer do sol.
Para mim, ver o sol se levantar é um momento sagrado e religioso, de comunhão transcendental com o cosmos, com a realidade, com a existência.
Porque o sol, na verdade, não nasce e nem se levanta, não morre e nem se põe. Essas metáforas, que inventamos há muito tempo, quando ainda não entendíamos o que estava acontecendo, estão tão gastas pelo excesso de uso que já nem emocionam mais.
A verdade (ou, pelo menos, a verdade como a entendemos hoje) me parece muito mais mágica e muito mais arrebatadora.
No dia de Natal, celebra-se o nascimento convencionado de Jesus: é um dia de as pessoas aturarem famílias abusivas e violentas das quais, provavelmente, já teriam se libertado há muito tempo se não fosse o doentio fetiche pró-família de nossa cultura.
Ironicamente, dos grandes pensadores e líderes espirituais da Humanidade, poucos atacaram o conceito de família tão ferozmente quanto o próprio Jesus.
Pois, na verdade, ele defendia,um novo conceito de família, mais amplo e mais belo.
Evito ler um texto quando já sei que concordo com suas ideias — pra quê, né? só pra fazer corinho?
Evito ler um texto quando já sei que discordo de suas ideias — pra quê, né? só pra me irritar?
O PSOL indicou um pastor evangélico para concorrer à prefeitura do RJ e um amigo querido comentou, sem dúvida ecoando muitos outros:
“A TEOLOGIA CRISTÃ é incompatível com a militância de esquerda que o PSOL NOS PROMETEU DEFENDER!”
Se criticamos o Outro por sua intolerância odiosa e inaceitável, e, por isso, nos recusamos a dialogar com ele, então, quem está amarrando as próprias mãos, quem está limitando o espectro possível de iniciativas que podem ser tomadas, quem está se colocando fora da possibilidade de diálogo, somos nós.
Demonizar é fácil. Quem está disposta a ir lá e efetivamente realizar o exorcismo?
Não por defeito dela. A literatura contemporânea é fraca por definição.
Porque o presente é um grande furdunço de obras ruins e regulares, ótimas e necessárias, todas misturadas e tudo junto, sem ordem e sem critério.
Já o passado nos parece muito mais organizado: ele já foi resumido e explicado, organizado e sistematizado, pelos livros de história literária, as obras ruins e as regulares já foram convenientemente esquecidas, as ótimas e as necessárias já caíram na Fuvest ou no Enem, já viraram filme ou novela, nome de rua ou de prêmio.
Então, é natural e inevitável que, do nosso ponto de vista, a qualidade média das obras contemporâneas que lemos (onde as ruins estão misturadas com as ótimas) seja sempre mais baixa do que das obras do passado, onde nossa tendência é ler somente as ótimas e as necessárias, ou seja, aquelas que foram selecionadas pelas críticas e pelas leitoras, enfim, pelo processo de canonização literária.
Por isso, a literatura contemporânea sempre é (ou, nos parece, o que dá no mesmo, pois nossa percepção molda a arte) inferior à do passado.
O livro Na Estrada (1957), de Jack Kerouac, é um dos clássicos mais deslidos de todos os tempos.
Semana passada, participei de um bate-papo ao vivo com a Carolina Nalon, uma das melhores professoras de Comunicação Não-Violenta do Brasil.
Conversamos sobre meu livro Atenção. e seus temas: atenção e empatia, privilégio e meritocracia.
Nos meus primeiros anos em Nova Orleans, me angustiava não saber a pronúncia correta do nome da cidade.
Nuólins, Níu-or-línz: cada pessoa falava de um jeito, era enlouquecedor!
Só depois aprendi.
A marca do forasteiro era justamente achar que só existia uma única pronúncia correta.
O objetivo de qualquer processo filosófico é sempre des-naturalizar o que nos parecia mais natural.
Sempre tive ranço contra definir qualquer coisa como “pré”:
“Os incas são uma civilização pré-colombiana”, “Lima Barreto é um autor pré-modernista”, etc.
Não faz sentido definir algo em oposição ao que ela não viu, não viveu, não sabe.
Mas eu me casei no dia 21 de dezembro de 2019.
Ontem, fiz minha primeira live no Instagram apresentando as estantes aqui de casa.
(Se ainda não me segue por lá, aproveita: @outrofobia)
Mas me dei conta de que não expliquei a organização das estantes.
Em resumo:
Ficção de um lado, não-ficção do outro.
Não-ficção por assunto e, dentro, por sobrenome de pessoa autora.
Ficção por língua original e, dentro, por sobrenome de pessoa autora.
Quantos milênios de experiência acumulada, contando histórias em volta da fogueira, foram necessários para produzirmos uma Ilíada, o obra fundadora da nossa literatura?
Quanto mais aprendemos sobre literatura nos três mil anos desde Homero? (Pensem na distância entre Eurípedes e William Burroughs, Safo e Hilda Hilst, Chaucer e Thomas Mann.)
O Cinema é a mais recente das grandes formas de arte. Tudo ainda está por fazer, tudo ainda está por descobrir.