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Ensinando Brasil no exterior

Há muitos anos, em uma outra encarnação, eu dava aulas de língua portuguesa e cultura brasileira em uma universidade norte-americana.

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textos

nossa cultura é realmente nossa?

amiga me perguntou o que eu achava das comemorações de halloween no brasil, essa festa que, escreveu ela, “não faz parte da nossa cultura”.

mas… o que é nossa cultura? o que faz parte da nossa cultura?

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textos

Existem as pessoas chatas?

Escrevi, há pouco tempo, que nunca conheci “pessoa chata”. A chatice que enxergamos na outra pessoa seria sempre a nossa própria. Afinal, nenhuma pessoa pode ser mais desinteressante do que aquela que não está interessada nas outras à sua volta.

(O texto completo está aqui: Quem são as pessoas chatas?)

Em resposta, recebi o seguinte email:

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textos

Mozart no campo de futebol

Se você é um ouriço, a última coisa que pode fazer é se comprometer a não usar seus espinhos.

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textos

Falar baixo

Uma das minhas resoluções de ano-novo, sempre repetida e reiterada, é simplesmente “falar mais baixo”.

Essa semana, duas pessoas me escreveram comentando sobre isso.

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textos zen

A liberdade de não revidar

Liberdade é receber o tapa e poder escolher, friamente, se quero responder na mesma moeda ou não.

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textos

Carapuças

A carapuça é uma das forças mais poderosas do universo, alimentada pelo nosso inesgotável narcisismo.

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textos

Pessoas de vida fácil

Algumas pessoas olham para minha vida e comentam, sempre em tom estranhamente negativo:

“Arrá! Sem filhos é muito fácil viver assim, né?! NÉ?!”

E eu respondo, simplesmente:

“Sim. É por isso que fiz a escolha de não ter filhos.”

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textos

Toda relação homem-mulher é assimétrica

Como ser um homem não-canalha em um mundo criado e pensado para ser abusivo para as mulheres?

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textos

Compre livros

Sim, compre livros nesse natal. Muitos livros.

Mas não na Saraiva ou na Cultura, que não estão repassando pagamentos para as editoras e, talvez, nunca repassem.

Compre direto das pessoas autoras.

Compre nos sites das editoras.

Compre nas livrarias independentes.

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textos

Porque não dou presentes

Quem pode ser contra presentes?

Não dou presentes porque

1) estimula o consumismo de objetos;

2) cria uma pesada e constrangedora obrigação de reciprocidade; e

3) é uma ferramenta de controle e dominação.

Em vez de dar presentes, prefiro

1) fazer atividades e ter experiências com as pessoas que eu amo, como ir à praia ou passear;

2) fazer coisas pelas pessoas que eu amo, como cozinhar ou lavar a louça

3) dar a elas minha atenção plena, quando estamos juntas.

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textos

Quem são as pessoas chatas?

“Alex, como você aguenta receber visitas de pessoas desconhecidas? E se elas forem chatas, tediosas, pentelhas?”

A chatice que enxergamos na outra pessoa é a nossa própria.

Nenhuma pessoa pode ser mais desinteressante do que aquela que não está interessada nas outras à sua volta.

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leituras

Dez romances favoritos

Perguntaram a vários escritores. Aqui vão os meus.

Todo grande romance é cósmico: ele parte da especificidade das situações cotidianas e, a partir delas, abraça a totalidade da existência.

Primeiro, cinco romances simplesmente perfeitos:

E outros cinco quase tão perfeitos quanto:

 

 Quais são os seus?

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textos

o texto é de quem lê

quando me perguntam qual era a intenção de algum texto meu, eu nunca respondo.

às vezes, me acusam de não querer dialogar, mas é o oposto.

cada texto será sempre lido por um pessoa leitora que trará à leitura suas vivências, suas experiências, seu preconceitos, seus traumas.

a mágica da leitura acontece nesse efêmero espaço virtual, fora do texto, onde se encontram as intenções da pessoa autora e as percepções da leitora.

naturalmente, as intenções da autora são baseadas no que imagina que serão as percepções da leitora, e as percepções da leitora são baseadas no que imagina que foram as intenções da autora.

mais naturalmente ainda, a beleza do processo é a precariedade da comunicação: nem a pessoa autora consegue prever quais vão ser as percepções da leitora, nem a leitora consegue saber quais são as intenções da autora.

por isso, o espaço virtual da leitura é tão efêmero, pois ele nunca é o mesmo: “Dom Casmurro” era o mesmo livro em 1992 e em 2009, mas as percepções, projeções, presunções que eu trouxe ao texto nessas duas datas eram tão radicalmente diferentes que ocasionaram duas experiências de leitura também radicalmente diferentes.

a partir do momento em que a pessoa leitora recebe o texto, ele pertence a ela, para lê-lo através de SUAS definições, para projetar nele os SEUS significados, para interpretar ele de acordo com as SUAS vivências.

então, quando uma pessoa autora se recusa a revelar suas intenções, não é que ela não quer dialogar: pelo contrário, ela quer possibilitar o diálogo.

porque, se a autora revelar suas “verdadeiras intenções”, além de elas não serem importantes, ela estará matando o diálogo, pois sua resposta será vista como a “resposta certa”.

por outro lado, enquanto a pessoa autora se mantiver calada e respeitar que o texto agora pertence às leitoras, mais elas vão poder dialogar, interpretar, interpelar o texto livremente.

o texto é de quem lê.

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zen

Como conheci minha namorada

Tinha essa moça que eu mal conhecia mas estava tentando encontrar há mais de um mês. (Para bater papo, porque ela parecia interessante, mas também para devolver uma canga que tinha esquecido em um evento.)

Aí, um mestre zen norte-americano iria palestrar no meu templo, em Copacabana (eu faria a tradução simultânea), e convidei a moça para vir. Ela topou. Marcamos de nos encontrar na plataforma do metrô Flamengo e irmos juntos.

Enquanto esperava, reparei em um velhinho meio perdido. Cheguei perto, puxei conversa, percebi que ele não sabia onde estava. Pedi permissão para olhar em sua bolsa e descobri seu nome e endereço. Era em uma rua perto mas eu não sabia exatamente onde.

Tenho celular mas não smartphone, então, liguei para a moça (com quem eu não tinha nenhuma intimidade) e disse apenas:

“Por favor, descobre onde é a rua Almirante Tamandaré.”

Ela não hesitou, não reclamou, não perguntou. Quando saiu do vagão, já estava com o mapa na tela do smartphone. Eu disse:

“Seu Oswaldo mora nessa rua e está um pouco perdido. Vamos levar ele em casa?”

Ela pegou um braço, eu peguei outro, e fomos escoltando seu Oswaldo. No caminho, ela ainda descobriu que isso nunca tinha acontecido com ele (confirmado pelo porteiro do seu prédio) e que a culpa provavelmente era de um remédio para parar de fumar que ele estava tomando.

Corremos de volta para o metrô e chegamos no meu templo ainda com alguns minutos de folga. A tradução simultânea da palestra do mestre foi bem mais cansativo do que imaginei que seria e meu cérebro estava uma geléia.

(Dá pra ouvir a palestra aqui.)

Ainda assim, quis sair para conversar com ela. Jantamos na Trattoria, ali do lado do Copacabana Palace (era 29 de março, dia de nhoque da fortuna) e, depois, caminhamos pela orla, conversando até às quatro da manhã.

No dia seguinte, eu entraria em um retiro de dois dias com esse mesmo mestre zen, um retiro importante para minha progressão espiritual no templo e na ordem.

Mas, às seis da manhã (ou seja, duas horas depois de deixá-la em casa), lhe mandei um email de uma linha dizendo simplesmente:

“Não vou pro retiro.”

Ela respondeu:

“Ótimo. Vem pra cá.”

Eu fui.

E ainda estou.

* * *

Minha teoria é que o seu Oswaldo mudou tudo.

Que um relacionamento humano que começa ajudando outra pessoa sem hesitação já se beneficia de um manancial de carma positivo.

Que podemos conviver com alguém socialmente por anos, mas que somente conhecemos uma pessoa de verdade quando fazemos algo com ela, quando compartilhamos um objetivo e trabalhamos juntos para realizá-lo.

Ao convidá-la para um evento religioso, eu não tinha intenções nem remotamente românticas para com aquela moça. Mal nos conhecíamos.

Mas, quando ela saiu daquele vagão de metrô com o endereço do seu Oswaldo na tela de seu smartphone, eu já sabia coisas importantíssimas sobre ela, sobre sua capacidade de reação, sobre sua inteligência emocional, sobre sua disposição de ajudar o próximo.

Quando deixamos o seu Oswaldo em casa, eu já havia realizado, construído, empreendido mais coisas práticas, úteis e bonitas com ela do que com a maioria das pessoas que conheço.

E, quando a deixei em casa às quatro de manhã, depois de horas e horas de conversa, eu já sabia que era com ela que gostaria de passar minhas horas, meus dias, minha vida.

Nada disso teria acontecido sem o Seu Oswaldo.

Sou grato a ele por ter nos dado a dádiva de nos permitir ajudá-lo e, ao ajudá-lo, nos ajudar, nos encontrar, nos amar.

Presentear às outras pessoas com a chance de praticar a generosidade também é um presente generoso que lhes damos. Indo ou vindo, generosidade sempre faz bem.

Obrigado, seu Oswaldo.

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zen

História de um celular

Um monge zen estava acompanhando uma pessoa enferma.

Em um dado momento, a pessoa ficou agitada, apreensiva, nervosa.

O monge lhe deu a mão e disse:

“Pode ficar tranquila. Está tudo seguindo seu curso. Não há nada a temer. Você só está morrendo.”

* * *

Essa história me inspira, acalenta, conforta.

Quinta feira, 8 de novembro de 2018, perdi meu pai.

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Liberdade no vazio

Dentre as muitas armadilhas mentais que construímos para nós mesmas, mentiras gigantescas que nunca questionamos e escolhas hegemônicas que ofuscam possíveis alternativas, poucas podem ser mais unânimes (especialmente no Ocidente) do que a ilusão de que, dentro de cada uma de nós, existiria uma essência maior do que a soma de nossas partes: o Eu.

Nossa prática zen não consiste em “abandonar o Eu” — porque o Eu não existe e não temos como abandonar algo que não existe — mas sim em desapegar dessa ilusão que criamos para buscar o prazer e evitar a dor, dessa ilusão que nos venderam para poderem vender a ela automóveis e pasta de dente.

Não é que eu, aqui, pessoa concreta, de carne e osso, falando essas palavras nesse exato minuto, e você, ouvindo essas palavras nesse exato minuto, não tenhamos existência física, concreta, real.

(Afinal, eu sinto, eu sei que estou aqui e você sente, você sabe que está aí.)

Mas essa entidade que chamo de Eu — que me parece tão maior e mais transcendental do que apenas a mera soma de “meus” membros, “meu” corpo, “minha” consciência, “meu” nome — é apenas um conceito que não possui existência permanente e autônoma, uma coleção de características contingentes e fortuitas sem nenhum tipo de essência intrínseca.

Nossa consciência é formada por um contínuo de experiências ao qual damos um nome. Por razões práticas, faz sentido distinguir uma pessoa da outra – sou o João da Silva porque não sou nem o Chico Buarque nem a Joana d’Arc.

Da mesma maneira, distinguimos um rio do outro: o Rio Amazonas e o Rio Paraíba do Sul são dois rios diferentes porque nascem em pontos diferentes, correm por trajetos diferentes, contêm águas de composições químicas diferentes, deságuam em pontos diferentes.

Entretanto, por mais reais e concretos que sejam esses caudalosos rios, eles não possuem qualquer essência: como até os gregos antigos sabiam, não se banha duas vezes no mesmo rio. Suas águas literalmente nunca são as mesmas.

Tudo é contingente: somos pessoas únicas não porque temos uma pretensa essência metafísica (o Eu!) qualitativamente diferente da essência metafísica das outras entidades que não-são-o-meu-Eu, mas sim porque surgimos a partir de condições únicas e de circunstâncias irrepetíveis.

Se conseguimos desapegar de nosso Eu, se conseguimos nos libertar da obrigação absorvente de cuidar e proteger essa frágil entidade dentro de nós (“será que construí o suficiente em vinte e cinco anos de vida?”, “será que as pessoas gostam mesmo de mim?”, etc etc), então, poderemos finalmente levantar os olhos, perceber as pessoas à nossa volta e nos dar conta de que elas também estão sofrendo.

Desapegar do nosso Eu não nos impede de militar em causas sociais ou de lutar para transformar a realidade.

Pelo contrário, ao eliminar a importância excessiva que damos a nós mesmas em relação às outras pessoas, o nosso potencial de engajamento político é finalmente desbloqueado, realizado, magnificado.

Se o nosso Eu tivesse uma essência, então nossa natureza nunca poderia mudar: o fato de o nosso Eu ser vazio de existência intrínseca é justamente o que nos permite a liberdade de nos reconstruir, recriar, reinventar.

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textos

Patriotismo vs nacionalismo, ou vice-versa

Poucas operações retóricas são mais arbitrárias do que tentar diferenciar “patriotismo” de “nacionalismo”…

como se fossem diferenciáveis…

como se um fosse positivo e o outro negativo.

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textos

Um retiro em um hospital espanhol

Passei a última semana em um quarto de hospital em Madri, cuidando do meu pai. Com exceção de uma breve ida ao Museu del Prado para ver as Pinturas Negras de Goya, fiquei todo o tempo no hospital.

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raça

Serão os negros criminosos?

Os negros não são a maioria dos criminosos, mas a maioria dos presos por crimes.

* * *

Em discussões sobre racismo, de vez em quando me desafiam:

“Alex, não é um fato inquestionável que a maioria dos criminosos são negros?”

Não, não é. Nem perto disso.