Leio e leio, releio e releio, e acabo sempre voltando aos mesmos livros: a Bíblia e a Ilíada/Odisséia.
Dom Casmurro
Dom Casmurro, romance publicado por Machado de Assis em 1899, conta a história de um adultério. Ou não.
Se beber, vá de táxi
Somos a prova viva do amor que recebemos
Outro dia, uma pessoa me confidenciou que nunca foi amada. Nem pela mãe, nem por ninguém. Nunca. Ponto.
E eu tive a temeridade de responder:
“Olha, nem te conheço, mas posso afirmar com certeza que não.
Porque o ser humano passa anos e anos completamente dependente: durante meses, não consegue nem virar o próprio corpo na cama. Todas nós já fomos seres insuportáveis que só sabiam gritar e comer, cagar e mijar.
Para qualquer pessoa adulta, teria sido fácil e tentador simplesmente dar um passo atrás e andar na direção oposta dos gritos estridentes e do cheiro de merda.
Cada uma de nós só está aqui hoje porque, ao longo de vários anos, fomos recipientes de muita atenção, muito cuidado, muito amor.
Talvez não tenha sido sua mãe. Talvez não tenha sido ninguém da sua família. Talvez você nunca saiba quem foi.
Mas, com certeza, você já foi muito amada.
Somos todas a prova viva do amor que recebemos.”
O absurdo da religião
Por mais que as pessoas pareçam iguais a nós, por mais que nós todas superficialmente sejamos parecidas umas com as outras, somos muito, muito diferentes, às vezes de maneiras insólitas, às vezes de maneiras incoerentes, o que não impede essas outras pessoas de serem incríveis e brilhantes, o que não nos impede de admirá-las e de aprender com elas.
A independência das pessoas negras
Hoje, quatro de julho, os Estados Unidos celebram seu “dia da independência”. Mas não é exatamente verdade.
Hoje é o “dia da independência… das pessoas brancas”. As pessoas negras ainda demoraram quase cem anos para se tornarem independentes, apenas em 1863.
Leituras comentadas, maio de 2017
Um mês de leituras religiosas, cristãs e budistas. A maior parte das leituras foi relacionada a alguma atividade que desenvolvo em nosso templo.
1. (38) Noite escura, de João da Cruz, c.1580, espanhol.
2. (39) Manual de limpeza de um monge budista, de Matsumoto, 2011, japonês.
3. (40) Mimesis, de Auerbach, 1946, alemão.
4. (41) Embodied Attention, de Davelaar, 2014, inglês.
5. (42) Carta a um religioso, de Weil, 1942, francês.
6. (43) A pessoa e o sagrado, de Weil, 1942, francês.
7. (44) Espera de Deus, de Weil, 1942, francês.
8. (45) An Anthology, de Weil, 1940-1943, francês.
9. (46) Having once paused, de Iquiú, séc.XV, japonês.
10. (47) Leaves of grass, de Whitman, 1855, inglês.
11. (48) A cabana, de Young, 2007, inglês.
12. (49) Guia do estilo de vida do Bodhisattva, de Shantideva, c. séc. VIII, sânscrito.
* * *
Shantideva
O Guia do caminho do bodisatva (Bodhicaryavatara) é um poema escrito na Índia do século VIII pelo monge Santideva.
De todos os muitos textos budistas, tornou-se o meu preferido, um dos livros mais importantes da minha vida e, seguramente, o que mais se aproxima de ser o meu guia de conduta moral.
O livro descreve tudo que tento ser, tudo que falho em ser, tudo que continuo tentando ser.
Walt Whitman
Uma vez, me perguntaram quais eram meus três poetas favoritos. A resposta: Whitman, Whitman, Whitman.
Simone Weil
Simone Weil (1909-43) é uma das pessoas que mais amo na humanidade inteira, no passado e no presente.
Como Simone Weil é linda, forte, sensível. Como ela se entrega em cada frase. Como seu raciocínio é límpido, implacável.
Tenho vontade de abraçá-la, de apoiá-la, de aprender com ela, de salvar sua vida.
Uma das pensadoras mais radicalmente originais de todos os tempos. O cerne de todas as contradições filosóficas do século XIX, explodindo em pleno XX.
Todo mundo deveria ler, conhecer, amar Simone Weil.
Dia das mães
Leituras comentadas, abril de 2017
Em abril, li pouco, coloquei de lado “O livro das Prisões” (já volto a ele, juro!), escrevi o primeiro canto de um romance sobre a Pré-História, pratiquei muito zen.
1. (31) The hero with a thousand faces, de Campbell, 1949, inglês.
2. (32) Pré-História do Brasil, de Funari e Noeli, 2002, português.
3. (33) Pré-História, de Gosden, 2003, inglês.
4. (34) Ethics in small scale societies, de Silberbauer, 1991, inglês.
5. (35) Satipatthana Sutta (Majjhima Nikaya), páli.
6. (36) A montanha no oceano, de Leloup, 2000, francês.
7. (37) História da Língua Portuguesa, de Teyssier, 1980, francês.
a pergunta mais importante
minha pergunta favorita, versátil e salvadora de vidas, é:
“por que diabos estou fazendo isso?”
não tem contraindicações e posso fazê-la em minha própria cabeça várias vezes por dia:
“por que diabos estou me depilando? por que diabos estou falando nesse tom de voz grosseiro com a minha mãe? por que diabos estou fazendo mais um post no facebook? por que diabos não estou ajudando essa pessoa que está aqui na minha frente, agora?”
o paradoxo da história
a história nunca é paradoxal: se você acha que é, então não entendeu alguma coisa.
se uma pessoa não pediu minha opinião, é muito provável que ela não queira saber.
se pediu, é muito provável que tenha sido por polidez.
quase ninguém quer saber nossa opinião.
nem nós mesmas deveríamos estar assim tão interessadas em nossas próprias opiniões.
Caminho do meio
Evito ler um texto quando já sei que concordo com suas ideias — pra quê, né? só pra fazer corinho?
Evito ler um texto quando já sei que discordo de suas ideias — pra quê, né? só pra me irritar?
o otário: quem é? onde vive?
falar das ações que podemos tomar para não sermos vítimas de crimes… não significa culpabilizar as vítimas e desculpar as criminosas.
Leituras comentadas, março de 2017
O tema principal das leituras de março foi a Prisão Crescimento. (Tem uma palhinha preliminar aqui.)
* * *
1. (16) El sol de Breda, de Pérez-Reverte, 1998, espanhol.
2. (17) El oro del rey, 2000.
3. (18) El caballero del jubón amarillo, 2003.
4. (19) Breve história del Siglo de Oro, de Zorita Bayón, 2010.
5. (20) Para habernos matado, de Díaz Villanueva, 2013.
6. (21) On the abolition of all political parties, de Weil, 1943, francês.
7. (22) Pilgrim at sea, de Pär Lagerkvist, 1962, sueco.
8. (23) The holy land, 1964.
9. (24) Herod and Mariamne, 1967.
10. (25) Pequeno tratado do decrescimento sereno, de Latouche, 2007, francês.
11. (26) Democracia econômica, de Dowbor, português, 2013.
12. (27) O decrescimento, de Georgescu-Roegen, 1970-81, inglês.
13. (28) A natureza como limite da economia, de Cechin, 2010, português.
14. (29) Pantagruel, de Rabelais, 1531, francês.
15. (30) Gargantua, 1534.
Leituras comentadas, fevereiro de 2017
Fevereiro foi um mês de leituras variadas. O principal tema foi empatia e seus limites.
1 (9). Nineteen eighty four, de George Orwell, 1949, inglês.
2 (10). Strangers drowning: impossible idealism, drastic choices, and the urge to help, de Larissa MacFarquhar, 2015, inglês.
3 (11). Opening Skinner’s box: great psychology experiments of the Twentieth Century, de Lauren Slater, 2004, inglês.
4 (12). Against empathy: the case for rational compassion, de Paul Bloom, 2016, inglês.
5 (13). The marshmallow test: understanding self-control and how to master it, de Walter Mischel, 2014, inglês.
6 (14). Gravity and grace, de Simone Weil, 1942, França. [Trad: Emma Craufurd, 1952.]
7 (15). Inside of a dog: what dogs see, smell, and know, de Alexandra Horowitz, 2010, inglês.
a importância dos rituais
nem todo ritual é bobagem.