nem todo ritual é bobagem.
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aqui, do alto do meu onipotente ego, sempre tive muita resistência à rotinas, métodos, rituais.
ao longo dos últimos anos de prática budista, os rituais eram a coisa que mais me incomodava:
“por que tenho que ficar me prostrando? por que não posso cruzar o zendô na diagonal? por que, por que, por que?”
(o fundador da “ordem dos pacificadores zen”, o mestre zen bernie glassman, desestimula perguntas começadas com “por que”: “esse tipo de pergunta indica um desejo de acumular conhecimento, e também nosso medo ou hesitação ao lidar com alguma coisa. na ordem, praticamos viver em um estado de não-saber, não de saber. e isso é muito, muito difícil.”)
durante o retiro de testemunho em auschwitz, entretanto, em uma situação-limite, de emoção extremada e experiência transcendental, descobri que o meu corpo naturalmente, imediatamente assumia as posturas rituais que venho realizando no templo pelos últimos anos.
na prática do caminho (ou seja, no budismo), temos três refúgios: no buda, no darma (ou seja, no ensinamento do buda), na sanga (ou seja, na comunidade de pessoas que pratica esses ensinamentos).
percebi, para minha surpresa, logo eu, uma pessoa tão livre (!) e descolada (!!) e desapegada (!!!), u-lá-lá, que a postura, ou seja, o ritual corporificado, havia também se transformado em um refúgio para mim.
na verdade, um quarto refúgio que simbola os três: ao reverter à postura ritual em uma situação de estresse, meu corpo não estava mais que buscando refúgio no buda, no darma, na sanga.
além disso, é impossível performar todos os rituais no templo enquanto estamos remoendo o insulto que recebemos ontem ou planejando o que falar na reunião de amanhã.
a complexidade dos rituais nos mantém sempre firmemente ancoradas no momento presente.
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(o retiro de testemunho em auschwitz foi criado por mestre bernie e é organizado pela ordem dos pacificadores zen, da qual faço parte. conto mais sobre o retiro em dois textos, um escrito antes e o outro, depois. a citação de bernie está em seu livro “bearing witness: a zen master’s lessons in making peace”.)
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2 respostas em “a importância dos rituais”
eu não sei, luiz. eu pratico budismo. no meu caso, os rituais que falo são as posturas tradicionais do budismo. não há doutrina alguma neles. o budismo não me pede para acreditar em nada. eu continuo ateu e agnóstico. então, eu não vejo como, por exemplo, eu andar pelo templo com as mãos em sasho (ao invés de penduradas ao lado do corpo) entre em qualquer forma de conflito com meus textos ou minha postura literária. você poderia exemplificar qual é o conflito que vc vê?
É como uma fuga que inventamos pra nos proteger e nos convencer de que não estamos fugindo?
Curiosamente, você é uma pessoa que questiona constantemente. Seguir o ritual é uma maneira de expressar que você concorda com a doutrina ainda que na prática, no dia a dia, sua postura literária seja na direção oposta?
Perguntas sinceras. Não há provocação aqui.