Human acts, romance da sul-coreana Han Kang, me deixou absolutamente destruído, derrubado. Eu, que durmo cedo, só fui desabar às sete da manhã, na lona. Poucas vezes apanhei tanto de um romance em toda a minha vida.
Que livro. Que mulher. Que artista.
Assim como Victor Hugo e a rebelião de junho de 1832 (quem lembraria dessa nota de rodapé da história sem Os Miseráveis?), Han Kang pega uma revolta de estudantes que termina em massacre em 1980, um evento pequeno na escala dos grandes horrores da humanidade, e, pela simples força de sua literatura, o transforma em um cadinho, em um símbolo, em um resumo, em uma metáfora, de todos os grandes massacres e horrores que já perpetramos umas contra as outras.
Assim como Svetlana Aleksiévitch, a bielorrusa que ganhou o Nobel de Literatura em 2015, Han Kang é uma voz empática criando beleza em cima das nossas piores dores e violências, enfatizando sempre uma certa feminilidade feroz que raramente encontra espaço em nossa literatura masculinizada.
(Como conseguem unir tanta sensibilidade e tanta violência, tanta empatia e tanta ferocidade? Não sei. Por isso, estão entre minhas autoras vivas preferidas. Escrevi um pouco sobre Aleksiévitch aqui.)
Human acts não saiu no Brasil, mas foi traduzido em Portugal como Actos humanos. O único romance de Han Kang publicado em nosso país, A vegetariana, também foi um dos melhores romances que li nos últimos anos: escrevi mais sobre ele aqui.
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Atos humanos, de Han Kang é um texto no site do Alex Castro, publicado no dia 18 de junho de 2020, disponível na URL: alexcastro.com.br/atos-humanos-de-han-kang // Se gostou, repasse para as pessoas amigas ou me siga nas redes sociais: Newsletter, Instagram, Facebook, Twitter, Goodreads. Esse, e todos os meus textos, só foram escritos graças à generosidade das pessoas mecenas. Se gostou muito, considere contribuir: alexcastro.com.br/mecenato