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fotos rio de janeiro

cristo lotado

segunda feira de janeiro. verão no rio. estrada das paineiras. multidões se acotovelam para subir ao cristo.

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zumbi

pedra do sal, rj, out12.
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graffitti

largo joão da baiana, rj, out12.
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rio, cidade cinematográfica

largo joão da baiana, rj, out12.
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guararapes

museu nacional de belas artes, rj, out12.
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ex-sobrado

largo de são francisco da prainha, rj, out.12.
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sombra

rua camerino, rj, out12.
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rua camerino, rj, out12.
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óculos

instituto moreira salles, rj, out12.
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rio, cidade turística

largo joão da baiana, rj, out12.
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lixo

largo de s. francisco da prainha, rj, out.12.
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água

largo de são francisco da prainha, rj, out12.
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entropia

eu, que vou morrer, os saúdo, que também vão morrer

a historinha abaixo formava a primeira parte do conto quando morrem os pêssegos, do meu livro onde perdemos tudo. foi cortada por entregar fácil demais o tema do conto.

* * *

conta a fábula que um homem estava andando pela mata quando foi atacado por uma onça. ele correu o máximo que pôde e chegou, por fim, a beira de um abismo. no fundo, em um rio, nadavam jacarés esfaimados. atrás dele, a onça se aproximava.

o homem decidiu pular e agarrou-se a um pequeno galho, na parede do penhasco. sobre sua cabeça, a onça rugia de frustração e, abaixo, os jacarés se agitavam, esperando sua queda. com sorte, pensou, conseguiria se aguentar o bastante para que a onça desistisse. depois, tentaria escalar o penhasco de volta.

estava sem sorte. o galho salvador era frágil e começava a ceder sob seu peso; em poucos instantes, se quebraria. não havia onde mais se segurar. na água, os jacarés se animavam.

percebeu, então, uma fruta na ponta do galho, uma jaboticaba de fim de estação. apenas uma. ele pegou a bolinha reluzente por entre os dedos e colocou-a na boca. chupou seu néctar. uma delícia.

* * *

termino o ano de 2012 simplesmente, completamente, head-over-heels apaixonado pela Outra Significativa.

histórias assim nunca têm um final feliz. ou eu termino com ela. ou levo o pé na bunda. ou eu morro. ou ela morre. ou morremos os dois. ou o brasil é tragado pelos oceanos. ou o sol explode. sempre tem alguma merda na próxima esquina.

mas, enquanto isso, antes da queda, pendurados no galho, a gente se diverte.

a jaboticaba está deliciosa.

* * *

estatisticamente, dos meus dez mil leitores habituais, dois vão morrer em 2013.

meu desejo é que não seja nem você e nem ninguém que você conhece.

* * *

outro desejo: que você não seja nunca a pessoa chata que escreveria um comentário pra corrigir a estatística acima, que é claramente um número inventado para fins estilísticos por um autor que mal sabe aritmética.

falando nisso, que deixe de ser a pessoa cri-cri que se incomoda – e pior, corrige! – os erros de português dos outros.

e, nessa linha, que aprenda a não se deixar mais incomodar pelos outros.

* * *

para você, meu desejo de fim-de-ano é que os outros, esse dito inferno sartreano, ao invés de fonte de dor-de-cabeça e aporrinhações, se convertam em fonte infindável de histórias, de sentimentos, de maravilhas.

que, através dos outros, perceba que pode ser uma pessoa melhor, mais bonita, mais humana.

que saia um pouco de si e escute mais, enxergue mais, perceba mais.

que perceba que a vida é muito curta para correr atrás da felicidade e simplesmente viva.

somos todos seres inexistentes que, por um acaso, existem. mas não por muito tempo.

nossa falta de tempo é nossa dádiva.

* * *

esses temas são desenvolvidos nas prisões felicidade, os outros e, especialmente, religião.

leia também só tecido morto não dói e você não tem tempo.

* * *

gostou? meus textos fazem diferença na sua vida? compre um livro ou faça uma contribuição. e eu te agradeço.

* * *

muitos conhecem a frase latina “ave, césar, os que vão morrer te saúdam” dita pelos gladiadores ao imperador romano. poucos conhecem a resposta do imperador cláudio, registrada por suetônio:

ou não.

eu, que vou morrer, os saúdo, que também vão morrer

* * *

estamos todos pendurados no galho. a questão é se você está saboreando as frutas.

feliz ano novo.

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na minha época

instituto moreira salles, rj, out12.
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guardião

adro de são francisco, rj, out.12.
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adro de são francisco, rj, out.12.
adro de são francisco, rj, out.12.
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fotos rio de janeiro

procurando pelo namorado

teatro municipal, rj. 23dez12.
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entropia

as cortinas azuis

roberto e eu morávamos em nova orleans durante o furacão katrina, mas ainda não nos conhecíamos.

eu abandonei a cidade dois dias antes da tempestade e só voltei seis meses depois. ele passou o furacão cuidando de pacientes no hospital universitário, foi evacuado em helicópteros do exército e deixado em uma estrada deserta com as roupas do corpo. dez meses depois, respondeu a um anúncio meu procurando um colega de casa.

moramos juntos por um ano.

formado em cinema e concluindo sua residência médica, roberto me ensinou a malhar direito e comer melhor. ensinou ao oliver, meu poodle sem vergonha e também bravo sobrevivente do katrina, os melhores truques que ele usa até hoje pra seduzir as visitas. para se comunicar com o oliver, que não respondia bem ao inglês, roberto falava “blá blá blá” mas imitando meu sotaque, meu ritmo, minha cadência com tamanha perfeição que o oliver respondia empolgado aos seus comandos.

mais tarde, abrigou por dois meses a cachorrona de uma amiga sua que estava reformando a casa. ginger e oliver se deram muito bem.

ao terminar a residência, roberto decidiu que não queria mais saber de medicina, se candidatou a um posto de professor de inglês no japão e nos mandou procurar outro colega de casa. poucos dias depois de termos fechado com uma nova pessoa, ele soube que inexplicavelmente não tinha sido aceito. queríamos romper o acordo com o outro, para que ele continuasse morando conosco, mas roberto achou antiético. foi morar sozinho.

pelo ano seguinte, trabalhou de médico do trabalho por somente dois dias por semana (para pagar suas gigantescas e massacrantes dívidas estudantis) e, no resto do tempo, se dedicava a buscar um rumo. aprendeu piano, começou a fazer stand-up comedy, fotografou profissionalmente. minhas melhores fotos são dele. ninguém jamais me fotografou melhor, com um olhar tão generoso.

nos víamos com frequência, mas não tanto quanto deveríamos.

quando o furacão gustav forçou uma nova evacuação da cidade, em 2008, liguei para roberto e perguntei quais eram seus planos. evacuações forçadas são excelentes para recuperar contato com os amigos. soube que ele estava de mudança de volta ao texas justamente naquele dia: era uma despedida digna de nova orleans, sempre festeira e intensa, tempestuosa e caribenha.

em austin, decidiu adotar um cachorro e me citou como referência. avisou q talvez me ligassem pra perguntar se seria um bom dono. claro que seria, confirmei.

mas deve ter mudado de planos: dois meses depois, na véspera dos festejos do quatro de julho de 2009, formatou seu computador, doou quase todos seus objetos pessoais, dirigiu até a casa do lago do pai, parou o carro na garagem e ligou um pequeno forninho a gás. bem onde sabia que seria encontrado por toda a família durante o feriado.

roberto morava com a irmã nessa época e ela veio até nova orleans para me conhecer e visitar a casa. conversar e rememorar, aceitar e entender. trabalhar nosso luto. ela disse que eu tinha sido seu último contato humano importante. quando saiu da minha casa, roberto se tornara cada vez mais isolado e deprimido – algo que eu, cego e egocêntrico, não tinha visto nos nossos encontros esporádicos.

a irmã de roberto e eu passamos um fim-de-semana agridoce. comemos, bebemos, passeamos. foi bom ter alguém com quem conversar sobre ele. ninguém chorou.

voltei para o rio definitivamente há poucos meses, deixando para trás meu velho quarto de cortinas azuis.

alguns anos antes, enquanto passava as férias longas no brasil, subloquei meu quarto para uma moça chamada athena, de são francisco. os verões em nova orleans são quentes e batia muito sol no meu quarto de manhã. athena estava vulnerável, recém-saída de um mau relacionamento, e se apaixonou forte por roberto. ele não se apaixonou de volta, mas gostava dela e tentou não feri-la – óbvio que não deu certo. foram amantes de verão. transaram na minha cama e na dele. em algum ponto, talvez em um gesto másculo de carinho protetor, talvez em um gesto egoísta para salvaguardar seu sono, roberto instalou as cortinas azuis.

quando voltei para nova orleans, roberto já tinha se mudado da casa e athena (que nunca conheci) voltara para são francisco. durante os anos seguintes, nas minhas manhãs mais preguiçosas, as cortinas azuis continuaram sempre me protegendo do sol forte.

hoje, a casa tem novos moradores. eles comem e cozinham, dormem e decoram, brincam e brigam. e não fazem ideia que roberto um dia viveu. ainda assim, as cortinas azuis – penduradas com tesão ou egoísmo – os protegem igualmente do sol.

nunca conversei com roberto sobre as cortinas azuis: agora me ocorreu que podem também ter sido um presente pra mim.

* * *

em memória de roberto josé rivera, nascido em 23 de junho de 1976, falecido em 2 de julho de 2009.

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textos

a alegria alheia

hoje, fiz uma coisa da qual muito me envergonhei.

eram nove da manhã de sábado, eu tinha dormido pouco, já acabara de sair de uma reunião e meu destino era passar o dia todo trabalhando em cliente. nada disso é desculpa.

estava em um daqueles bares de rua, aqui de copacabana, comendo um joelho e bebendo uma média. havia umas outras três pessoas no balcão, uma delas um velhinho sorridente, de bigode branco e careca.

o velhinho estava muito feliz. rindo. brincando. fazendo brincadeiras bobas com a atendente.

só me lembro de uma: ele pediu o açúcar e ela respondeu, grosseiramente, que estava no balcão. ele nem ligou. começou a fazer uma pantomima de procurar alguma coisa, levou a mão como uma aba sobre a testa e olhava em volta, vendo se alguém estava olhando. como ninguém lhe deu a menor pelota – eu baixei os olhos, para evitar contato visual – ele continuou: localizou o açucareiro atrás dos canudos e disse, bem alto: arrá, eu não tinha visto, estava escondido por detrás dessa árvore.

tentou brincar com todos. gostaria de poder dizer que sua alegria era contagiante, mas não era. para vergonha de todos nós, sua alegria era tudo menos contagiante.

era enojante.

ninguém lhe deu atenção. ninguém reconheceu sua existência. ninguém trocou olhares com ele. ninguém retribuiu seu sorriso.

e ele, mártir do bom humor, não desistiu. seu sorriso não morreu. falou com todos, comentou o noticiário, riu, contou piadas. absolutamente sozinho.

finalmente, deu bons-dias sorridentes a todos e saiu.

antes de virar à esquina, ainda falou com um vendedor de cocos. o vendedor de cocos virou a cara e ele foi embora. inabalável.

custava alguém ter retribuído o seu olhar? sorrido de volta? dado qualquer indicação de que estava ouvindo?

nenhum de nós merecia a alegria daquele velhinho àquela hora da manhã.

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textos

dia de ação de graças

se eu tivesse que dar graças a deus por uma coisa, seria pelas mulheres não serem tão fúteis como os homens, por sentirem tesão de verdade por coisas como talento e inteligência.

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textos

ego

você não é uma pessoa boa que tem péssima memória e é muito distraída. sua péssima memória e sua extrema distração são sintomas de seu profundo desinteresse por tudo que não diga respeito a você.

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textos

destino

ela: sua persona online era fofa e romântica e sonhadora mas, na vida offline, era cínica, não acreditava no amor, não queria compromisso.

ele: sua persona online era irascível e mordaz e rabugenta mas, na vida offline, era meigo, doce, queria colo.

se amaram.