resposta ao delegado: “meu nome é arrastão, porque somos muitos.”
vice-versa
a pessoa interessante que você tanto busca também está buscando por uma pessoa interessante.
encontrá-la é só o começo do desafio: mantê-la interessada é que são elas.
será que você é a pessoa dos sonhos da pessoa dos seus sonhos?
de todas as coisas impressionantes que vi, ouvi, senti no inhotim, a que mais me marcou visualmente foi a obra “beam drop” (2008; em tradução livre, “vigas jogadas”), de chris burden.
durante doze horas, o artista utilizou um guindaste de 45 metros de altura para jogar 71 vigas em uma poça de concreto. (a execução da obra foi registrada em vídeo.)
agora, as vigas estão lá, cravadas no topo de um morro no meio do brasil, refugos da construção civil, cercadas por mato e montanhas.
O resultado desta operação de alto impacto é uma escultura de grandes dimensões que ocupa o alto de uma montanha em Inhotim, que se relaciona de maneira marcante com seu entorno, criando uma visão épica em meio à paisagem. O padrão aleatório da escultura é formado pela queda das vigas, combinando o controle do artista, que mirava o guindaste na poça de concreto fresco, à violência e o acaso provocados pelo peso do material. (fonte)
acima, a fotógrafa claudia regina. abaixo, o resultado. (todas as outras fotos são minhas.)

microconto (XVI)
no atraso do noivo, casou-se com o padrinho: homem é tudo igual.
um momento de pura beleza
catedral da sé, em mariana. a mulher que eu amo apoiada em mim, cara enfiada na minha barba, minha cara enfiada em seus cabelos. arte barroca a nossa volta. o som perfeito de um órgão setecentista flutuando no ar.
vida.
como escritor, meu trabalho é expor publicamente minhas falhas, meus medos, minhas vergonhas. meus egoísmos, minhas pequenezas, minhas mesquinharias.
não para falar de mim, porque eu não importo.
mas para que os leitores reflitam sobre suas próprias falhas, seus próprios medos, suas próprias vergonhas. seus próprios egoísmos, suas próprias pequenezas, suas próprias mesquinharias.
se tive sucesso, deixe uma moeda na minha canequinha de esmolas e fique com machado.
cemitério dos piratas
na verdade, cemitério de nossa senhora do morte carmelo, em são joão del rey, fevereiro de 2013.
depois da tempestade
ideia para cartão de aniversário
microconto (XL)
não há vagas. há vidas.
microconto (LVIII)
abriu a janela, teve um pensamento feliz e pulou. quase voou.
microconto (CVII)
maria disse não. joão disse sim. maria disse sim. amor.
romantismo
banheira de hidromassagem, quatro pessoas.
eu, compenetrado, dedando uma moça de boceta muito pequena e delicada. de olhos fechados, ela serpenteia pela banheira, buscando o orgasmo. atrás dela, minha companheira beija seu pescoço, sua orelha, sua boca, e manuseia o pau do outro homem. ele lambe os pés da moça, também ajudando-a a chegar ao gozo.
tudo transcorre em silêncio, com delicadeza, sem gestos bruscos. ouve-se apenas o motor da hidromassagem, o barulho da água.
de repente, meus olhos e os da minha companheira se cruzam, e eu, gesticulando com os lábios, sem fazer qualquer som, digo:
eu te amo.
microconto (IXL)
com os olhos cheios d’água, ana agradeceu ao rinoceronte.
microconto (XCVI)
adolfo teve que se apressar: com o rigor mortis, o cu fecha.
mantra do artista
não sou tão bom quanto dizem os fãs, nem tão ruim quanto dizem os desafetos.
microconto (CXXXI)
a filha: “pai, hoje no cu não. é meu aniversário.” parabéns.
microconto (CIII)
após o beijo, o cavalo nunca mais retornou as ligações de nietszche.
microconto (LXX)
deus não perdia uma chance de olhar por debaixo das saias de suzana.
liberté, egalité, senilité
os velhinhos de amour já foram duas das pessoas mais lindas do mundo.
* * *
bela e vaidosa, liloló foi minha companheira por cinco anos. quando entrou em sua crise dos trinta, tentei consolar, mas ela cortou:
você não entende, alex, porque sempre foi feio.
* * *
hoje, quem era lindo e quem era feio no verão de 1934, quem fez sucesso e quem não pegou ninguém, tem ambos sorte de estar vivos, ter a mesma aparência enrugada e conseguir segurar a própria bexiga.
a velhice, essa grande niveladora, dá esperança a todos nós, os feios.
e logo depois nos mata.