por que sofremos tanto ao terminar um relacionamento ou sair de um trabalho?
resposta: ego, narcisismo, vaidade, apego.
por que sofremos tanto ao terminar um relacionamento ou sair de um trabalho?
resposta: ego, narcisismo, vaidade, apego.
nunca é demais lembrar: sou um autor de ficção.
tudo o que escrevo deve ser tratado como ficção: eu invento fatos, eu invento pessoas, eu invento livros, eu invento citações.
é isso que faz um autor de ficção.
qualquer informação que você saiba por mim deve ser conferida em uma fonte independente antes de ser passada adiante.
então, quando você aprender a fazer isso comigo, passe a fazer isso com todas as informações que você receber de qualquer pessoa.
porque, no fundo, na prática, somos todas autoras de ficção, imersas em nossas pequenas realidades, inventando que somos aquilo que nunca seremos, criando narrativas com base em nossas esperanças e preconceitos.
* * *
leia também a prisão verdade.
se outra pessoa precisa me explicar suas razões para só então eu respeitar sua escolha…
então, eu já estou arrogantemente me colocando como árbitro de sua vida.
o verdadeiro respeito não depende da capacidade de entendimento de quem ouve ou da capacidade de persuasão de quem explica.
eu respeito a decisão que outra pessoa tomou sobre sua própria vida simplesmente porque ela é uma outra pessoa, com outros valores e outras prioridades, que tem direito de decidir sobre sua própria vida tanto quanto eu da minha.
ela não precisa me convencer de nada. o meu entendimento é irrelevante.
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textinho para ser incluído na futura prisão empatia.
existe gente que “leva jeito” para ler?
admiro uma lojista que não só chuta o balde, como ainda deixa ali, na parede, a faixa de “feliz 2011” pra lembrar exatamente quando foi.
Ponencia de Alex Castro, a 17 de febrero de 2016, como parte del seminário internacional 130 aniversário de la abolición de la esclavitud en Cuba, en Casa de las Américas.
Introducción
1. the blind, de maurice maeterlinck, 1891, francês. (trad: maya slater, 1997.) 9dez15.
2. entre o mundo e eu, de ta-nehisi coates, 2015, inglês. (trad: paulo geiger, 2015.) 11dez15.
3. são joão marcos, patrimônio e progresso, de mv serra (org), 2011, português. 13dez15.
4. thinking, fast and slow, de daniel kahneman, 2011, inglês. 14dez15.
5a. fausto I, de johann wolfgang goethe, 1806, alemão. (trad: jenny klabin seagall, 1949.) 20dez15.
5b. fausto II, de johann wolfgang goethe, 1832, alemão. (trad: jenny klabin seagall, 1967.) 22dez15.
5c. faust, parts one and two, de johann wolfgang goethe, 1806-1832, alemão. (trad: george madison priest, 1932)
6. os monumentos do rio de janeiro – inventário 2015, de vera dias, 2015, português. 23dez15.
7a. decameron, de giovanni boccaccio, 1353, italiano. (trad: ivonne benedetti, 2013.) 29dez15-11jan16. releitura.
7b. decameron, dez novelas selecionadas, de giovanni boccaccio, 1353, italiano. (trad: mauricio santana dias, 2013.)
7c. decameron, vols I e II, de giovanni boccaccio, 1353, italiano. (trad: raul de polillo, 1952, atribuída a torrieri guimarães.)
7d. decameron, de giovanni boccaccio, 1353, italiano. (trad: g. h. mcwilliam, 1972.)
na minha rua, tem um chaveiro.
quando ele sai para atender alguém, deixa o quiosque aberto, como se tivesse ido só ali na esquina, mas ainda de olho, já voltando.
as pessoas aparecem para contratá-lo, veem tudo aberto e olham em volta — ele deve estar vindo, não?
mas ninguém chega.
aí perguntam pro garçom do boteco em frente:
“cadê o chaveiro?”
“deve estar atendendo alguém.”
“mas deixou tudo assim aberto e destrancado?! o chaveiro?”
“pra senhora ver!”
as quase-clientes bufam as ventas, circundam o quiosque, batem o pé: não sabem se ficam ou se saem, se guardam o forte ou se quebram tudo. acabam sempre indo embora, frustradas. onde já se viu!?
daqui a pouco, o chaveiro volta, senta lá dentro e espera, plácido, como um mestre zen dentro do seu koan, ensinando uma lição que ninguém compreende.
alex castro é o espírito que tudo nega, a carne que sempre afirma.
de vez em quando me perguntam:
“alex, você não acha que fulano é um charlatão?”
e respondo:
“como assim charlatão? você está me perguntando se ele é um fingidor, se está fingindo ser artista? mas faz sentido uma pergunta que já sugere um julgamento de valor NÃO sobre a produção artística da pessoa mas sobre suas intenções, sobre sua essência? como eu vou saber se ele é charlatão ou não? não é mais fácil, mais justo, mais objetivo simplesmente julgarmos o valor da obra que essa pessoa de fato produziu?”
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por que esse discurso só existe nas artes plásticas e na literatura?
muita gente não gosta de jorge vercilo, mas ninguém diz que ele não é músico, que não é cantor, que é um charlatão, que é um fingidor.
entretanto, muitas das mesmas pessoas, para criticar um romero britto ou um paulo coelho, imediatamente lhes cassam a carteirinha de artista:
“esse aí é um charlatão!”
* * *
a obra de qualquer artista está no mundo para ser usufruída e avaliada.
mas uma coisa é considerar que fulano é um mau artista porque sua obra tem esses e aqueles problemas.
outra coisa, bem diferente, é nos darmos ao direito e à autoridade de afirmar categoricamente que fulano não é artista.
existem mil maneiras válidas de se criticar o trabalho de um artista. cassar sua carteirinha de artista é a pior delas.
os meus textos estão na internet para serem lidos, gratuitamente, por quem quiser, gostar, precisar.
quando um pastor pede por contribuições, existe uma ameaça implícita de que você pode ir para o inferno se não pagar.
quando eu peço por contribuições, não existe ameaça implícita alguma: se você não pagar, nada de mal vai acontecer, nem com você, nem comigo. (eu não te conheço e, se te conhecesse, não pensaria menos de você.)
sim, eu preciso das contribuições das minhas pessoas mecenas.
não tenho renda garantida nem emprego fixo. sem as mecenas, eu seria forçado a correr atrás de frilas, traduções, revisões, e acabaria escrevendo menos.
mas não seria o fim do mundo. e, mais importante, não é seu problema.
existem vários motivos para se tornar mecenas.
aceito sua generosidade altruísta em retribuição aos textos que leu de graça.
aceito seu autointeresse egoísta em possibilitar a produção de novos textos.
dispenso sua culpa.
(para contribuir e se tornar mecenas, clique aqui.)
aos 12 anos, decidi que seria escritor.
não apenas escritor, mas escritor de ficção.
ou seja, artista.
para mim, artista era aquela pessoa que, ao mesmo tempo em que se colocava à disposição de seu público, com a generosidade e com a abertura de receber muito bem a todas as pessoas que a procuravam, também era autônoma e autossuficiente: quando não era procurada por ninguém, aproveitava para mergulhar na criação e na produção de seus muitos projetos.
hoje, percebo que vivi os últimos trinta anos assim:
nunca procurando ninguém, buscando sempre receber bem quem me procura.
continua sendo o meu mantra.
continuo aberto à visitação.
* * *
se meus textos tiveram impacto em você, se usa meus argumentos para ganhar discussões, se minhas ideias adicionaram valor à sua vida, por favor, considere fazer uma contribuição do tamanho desse valor.
assim, você estará me dando a possibilidade de criar novos textos, produzir novos argumentos, inventar novas ideias.
e que machado te abençoe.
a caminhada do privilégio é um exercício para tornar mais visível e mais palpável a distribuição desigual de privilégios em nossa sociedade.
o exercício começa com um grupo de pessoas, de pé, lado a lado. em seguida, são feitas perguntas relativas aos seus privilégios. dependendo de quais privilégios tiveram acesso, as pessoas dão passos à frente ou atrás.
nos meus encontros, tenho realizado uma versão brasileira desse exercício. quando possível, faço a atividade em uma escada ou ladeira, para que o resultado fique ainda mais graficamente concreto.
o vídeo abaixo ilustra bem o processo:
as pessoas que vêm aos meus encontros já são todas, em larga medida, bastante privilegiadas. mesmo assim, ao final do exercício, aquele grupo de pessoas privilegiadas que começou ombro a ombro está todo espalhado.
uma ilustração concreta das distâncias que nos separam.
abaixo, algumas das perguntas que faço, sempre em constante mutação.
as pessoas me falam:
“se eu fizer isso vou virar uma pária social!”
como se fosse uma coisa ruim!
mas “virar uma pária social” significa que pessoas chatas vão parar de….
…me chamar pra fazer coisas que não quero fazer;
…esperar que eu me comporte como elas;
…dar pitaco em minha vida;
…projetar em mim suas expectativas insensatas.
ou seja, “virar pária social” não é o problema: é o final feliz.
meus melhores textos sobre morte e entropia.
se tudo acaba, se até mesmo o sol vai acabar, por que seria justamente eu a não acabar nunca?
por que eu seria tão importante assim?
aliás, por que a questão da minha existência seria minimamente importante?
por que eu deixar de existir é mais ou menos dramático do que um coelho deixar de existir?
passei a existir no momento no tempo que convencionamos chamar de 1974 mas, antes disso, eu não-existi por um período literalmente infinito.
e não foi ruim. não doeu. não foi desagradável.
muito em breve, voltarei a não-existir por um período infinito de tempo.
se não era ruim antes, por que seria ruim depois?
por que ter medo de voltar a um estado que já experimentei e que não foi ruim?
considerando o tempo que passamos existindo e o tempo que passamos não-existindo, nosso estado natural é a não-existência.
existir seria apenas um breve soluço, um glitch, um bug, dentro de uma perfeita, plena e eterna condição de não-existir.
somos todos seres inexistentes que, por um acaso, existem.
mas não por muito tempo.
notas de leitura sobre o fausto, de goethe.
fausto, obra-prima da vida de goethe, talvez maior nome da literatura alemã, escrito ao longo de sessenta anos, é a história do homem que vende sua alma ao diabo — nesse caso, mefistófeles.
em seu afã criador e aperfeiçoador, tentando adaptar o mundo a si mesmo, fausto é a própria encarnação do capitalismo, destruindo tudo o que toca.
as duas histórias mais conhecidas são, com justiça, os pontos altos do poema: a “tragédia de gretchen”, na primeira parte, e a “tragédia do colonizador”, ou “colônia de fausto”, no quinto ato da segunda parte.
(filemon e baucis, na primeira cena do quinto ato da segunda parte, são os protótipos daquilo que hoje se tornou lugar-comum: o bondoso casal de velhinhos cuja única função narrativa é ser trucidado e estabelecer além de qualquer dúvida a malvadeza do vilão.)
o poema busca abraçar o mundo, a experiência humana e todo o conhecimento literário e filosófico, teológico e científico da humanidade até então.
ou seja, é tão amplo e descomunal e ambicioso e genial quanto o homem que se dedicou a escrevê-lo.
na verdade, que projeto poderia ser mais literalmente fáustico do que passar sessenta anos escrevendo o fausto?
talvez fosse o final perfeito para um poema tão metalinguístico: fausto, quando fracassa seu projeto colonizador, em vez de morrer, senta-se para começar a escrever o poema que estamos lendo.
quando stalin morreu, as próprias pessoas que ele tiranizou durante décadas, que tiveram entes queridos mortos pelo ditador, foram às ruas, trincando os cabelos e arrancando os dentes, numa dor intensa, num luto desesperado.
muita gente do lado de cá da cortina de ferro não entendeu, acharam que elas talvez estivessem sendo vigiadas, que fingiam o luto para não serem perseguidas pela kgb, etc.
mas a questão não é de afeto, é de grandeza:
se até uma figura tão sobre-humana pode morrer…
então, que chance EU tenho?
epitáfio de gil vicente, um dos grandes escritores da nossa língua, reinventor do teatro:
O grão juízo esperando,
jazo aqui, nesta morada
também da vida cansada,
descansando.Pergunta-me quem fui eu,
atenta bem para mi,
porque tal fui, como a ti,
e tal hás de ser como eu.E pois, tudo a isto vem,
ó leitor de meu conselho
toma-me por teu espelho,
olha-me, e olha-te bem.
eu sei que várias certezas que já tive estavam erradas.
eu presumo que, das certezas atuais, muitas estão igualmente erradas.
por que então tenho tanta certeza de que as minhas certezas de hoje, essas sim, são as realmente certas?
* * *
talvez seja o meu maior desafio pessoal:
antes de falar, antes de agir, antes de escrever…
tentar internalizar, absorver, corporificar essa certeza:
que a única certeza que realmente tenho é que muitas das minhas certezas mais certas são, na verdade, incertas.
então, será que tenho direito de apontar esse dedo, de fazer essa crítica, de cometer esse julgamento?
* * *
esses temas são desenvolvidos nos meus textos prisão verdade e cultivar o não-conhecimento.