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porque a rejeição dói tanto

ego, narcisismo, vaidade, apego.

por que sofremos tanto ao terminar um relacionamento ou sair de um trabalho?

resposta: ego, narcisismo, vaidade, apego.

* * *

relacionamento e trabalho são algumas das principais maneiras de criarmos identidades.

não somos nunca apenas o “paulo” ou a “joana”. somos o “paulo da maria teresa”. somos a “joana da petrobrás”.

essas identidades nos dão apoio, respaldo, contexto social. ajudam a sufocar um pouco o vazio existencial que nos oprime.

por isso, ser rejeitado pela maria teresa ou despedida da petrobrás dói tanto.

porque não é só um relacionamento ou um emprego que se vai.

perdemos também aquela personagem que investimos tanto esforço em criar, cultivar, consolidar.

e nem mesmo a certeza de que em breve estaremos em outro relacionamento, em outro emprego, serve para mitigar um pouco desse enorme luto narcísico pelo falecimento de mais uma de nossas tantas identidades.

nunca mais seremos o “paulo da maria teresa”. nunca mais seremos a “joana da petrobrás”.

apesar de tanto trabalho, somos de novo só o “paulo”, só a “joana”, pequenas e solitárias criaturas primatas, vivendo suas vidas sem sentido na superfície de uma bola de pedra girando em torno de si mesma e se deslocando em círculos pela vastidão vazia do espaço.

* * *

a intensidade da nossa dor é diretamente proporcional à intensidade de nossa fé na existência concreta dessas identidades ficcionais que inventamos.

é tudo ego, é tudo vaidade, é tudo apego, é tudo narcisismo.

acreditamos que, do lado de cá dessa camada de pele, existe o eu, minha identidade, minha reputação, coisas que podem ser protegidas e preservadas; e, do lado de lá dessa camada de pele, existe o universo, as outras pessoas, os passarinhos, os meteoros.

mas é tudo ilusão. uma ilusão insustentável. uma ilusão que nos causa imensa dor sempre que se desfaz, desaba, despenca, desaparece.

não existe eu aqui e o universo ali. só existe o universo.

5 respostas em “porque a rejeição dói tanto”

Vivemos quase sempre na angústia da eminente perda destas entidades… Mesmo o relacionamento mais seguro ou o emprego mais estável, não garantem os 100% de paz neste sentido… Desapegar-se não é negar o amor, nem mesmo dar de ombros para a cultura capitalista que vivemos….
Desapegar neste sentido é abrir novos horizontes… mas como é difícil de ser contemplado este longínquo horizonte…
Vivo buscando…

Alex,
desamor mata.
Lembra-se da época em que o governo chinês não permitia que casais tivessem mais que um filho e que se o filho excedente fosse menina devia ser abandonado…
Pois é, se você procurar na rede ainda vai encontrar fotos e reportagens daquela época e uma reportagem especial da morte das menininhas abandonadas em bercinhos, enroladas em panos que morriam por falta de atenção, toque, demonstração de afeto.
Falta de amor mata mais que fome e sede.
A necessidade de afeto surge antes da formação da personalidade, por isso não devemos atribuir essa dor apenas ao ego. Nascemos predispostos ao amor e do amor deveríamos todos ter nascido.

só uma duvida: qual o critério para postar o mesmo texto aqui e no menos.vc (em 2015)? é porque eu assino os dois feeds e fico na duvida se um texto lá sairia aqui e vice-versa.

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