algumas pessoas acham estranho eu me abrir para visitas.
email que recebi:
“[S]empre achei estranho você convidar as pessoas para aparecerem na sua casa, no entanto, considerei isso apenas uma diferença de temperamento. Mas hoje eu realmente me surpreendi, num momento de tantos lutos, de tanta tristeza, ao invés de se trancar sozinho em casa e chorar, você mais uma vez convida as pessoas pra ficarem com você. Isso deu um nó na minha cabeça, como você consegue ter forças pra dar atenção a alguém num momento assim? Como você pode querer olhar pra cara de alguém? Eu achei que talvez fosse porque você é um cara extrovertido, aí você foi e disse justamente o contrário, que é tímido e introvertido. Sinceramente, eu nem sei o que exatamente eu estou esperando que você responda, nem precisa responder se não quiser, mas fiquei verdadeiramente encafifada.”
* * *
grande parte dos problemas que carregamos vem do nosso ego.
acreditamos que, do lado de lá dessa camada de pele, existe o universo; e, do lado de cá, existe o eu, minha identidade, minha reputação, coisas que podem ser rejeitadas e agredidas, e também protegidas e preservadas.
mas é tudo ilusão, uma ilusão insustentável, uma ilusão que nos causa imensa dor sempre que se desfaz, desaba, despenca, desaparece.
todas nós, mesmo as mais tranquilas e bem-resolvidas, estamos sempre travando batalhas internas, carregando problemas pesados, buscando conexões significativas.
as pessoas que me visitam não são exceção.
às vezes, passo o dia inteiro mastigando rejeições, remoendo desfeitas, remendando vaidades.
mas, quando minhas visitantes me contam suas histórias e eu as ouço com atenção plena, é como se minhas preocupações mesquinhas não existissem.
de repente, percebo que se passaram várias horas: horas em que não chorei minhas dores, horas em que não pensei em mim, horas nas quais o meu ego deixou de me escravizar.
esse é o poder da empatia.
eu só consigo me libertar do fascismo de mim mesmo quando estou me doando para outras pessoas.
o objetivo dos encontros que realizo é fazer com que as participantes sintam na pele essa sensação.