uma pergunta: o quanto de um livro eu preciso ler para poder dizer que li esse livro?
outra pergunta: quem se importa?
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as perguntas que as pessoas me fazem sobre a lista de leituras sempre me surpreendem. elas revelam uma concepção de leitura que, embora não seja errada, é tão diferente da minha que às vezes nem sei o que dizer.
por exemplo, me perguntam qual é o critério para um livro entrar na lista de leituras. e eu respondo que não tenho muito critério, é uma coisa fluida e subjetiva: basta eu sentir que li o suficiente do livro para poder falar sobre ele em primeira mão com o mínimo de propriedade.
“aaaahhh, mas como você pode dizer que ‘leu um livro’ se não leu inteiro?”
e explico que não é uma competição, não tem juiz, não tem professor, não tem ninguém te vigiando, não vai cair no teste.
se você falar que leu “os miseráveis”, ninguém vai dizer:
“arrá, mas aquela parte chata sobre a história dos conventos aposto que você não leu! te peguei!”
além do mais, como ler um livro inteiro não prova literalmente nada e não traz mérito algum, não faz nenhuma diferença, nem pra você e pra ninguém, se você leu um livro inteiro ou pela metade: ler meio livro não é “meio mérito”.
às vezes, acho que as pessoas não conseguem ler porque projetam tanto valor, tanto peso, tanta complicação no simples ato da leitura que, realmente, acaba se tornando bem menos exaustivo ir jogar videogame.
não tenho nenhum problema com as pessoas cuja religião exige que leiam até o fim cada livro que começam, desde que não estendam essa obrigação obsessiva a mim.
eu leio os livros que eu quero, do jeito que eu quero, na hora que eu quero, por prazer, sem neuras.
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alguns textos sobre livros
os livros que mais me marcaram
listinhas literárias
aquelas velhas listas de pessoas autoras
Uma resposta em “o que é ler um livro?”
Me lembrou (entre outras coisas) o direito de não terminar de ler um livro (o terceiro, dos 10 direitos imprescritíveis do leitor), na obra Como um romance, de Daniel Pennac…