estupro ex machina

o mundo é tão, mas tão misógino que inventa novas maneiras de ser misógino até com mulheres que nem mesmo existem.

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deus ex machina:

expressão grega. literalmente, “deus surgido da máquina”. quando, no fim de uma tragédia, deus desce dos céus e literalmente resgata o protagonista, criando assim um inesperado, improvável e mirabolante final feliz.

estupro ex machina:

neologismo, séc.XXI. quando, em uma obra de ficção, uma ou mais mulheres são estupradas, objetificadas, humilhadas somente para chocar a platéia e/ou avançar o arco narrativo de um personagem masculino, que precisa de um motivo para 1) sofrer, 2) se vingar, 3) tornar-se um homem forte, duro e silencioso, 4) etc etc.

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nem todo estupro cinematográfico é um estupro ex machina: o filme elle, por exemplo, é sobre como uma mulher reage ao seu estupro.

mas dois dos melhores filmes de suspense do ano passado, the gift (o presente) e don’t breathe (o homem nas trevas), poderiam ter sido muito melhores do que já são…

(spoilers abaixo)

… se não tivessem, em seus últimos minutos, como parte do twist final, incluído estupros especialmente inesperados e particularmente terríveis.

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sempre que sou forçado a assistir mais um estupro ex machina, eu penso nessa matéria do the onion:

“cientistas do mundo admitem que simplesmente odeiam ratos“

e fico me perguntando:

em que momento termina

“mostramos estupros porque, afinal, estupros são coisas que acontecem no mundo!”

e começa

“mostramos estupros porque, afinal, o que pode ser mais catártico do que humilhar, agredir, violentar mulheres, nem que apenas na ficção”?

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sobre spoilers.