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A Grande Conversa Brasileira, novo curso

A ideia de Brasil na literatura. Curso em dez aulas sobre história e literatura brasileiras. Foco especial na literatura escrita por mulheres.

A ideia de Brasil na literatura. (compre agora.)

(O curso anterior está aqui: Introdução à Grande Conversa.)

Ilustração por Olivia Maia
Ilustração por Olívia Maia, cartaz por William Alves.

O curso

10 aulas, na primeira quinta-feira do mês, às 19h, entre abril de 2021 e janeiro de 2022.

Resumo

Um panorama da história cultural do Brasil, a partir de suas obras literárias mais canônicas e influentes, seguindo dois eixos:

  • Uma discussão literária sobre obras literárias canônicas, escolhidas principalmente por sua importância e qualidade estética, mas também por serem representativa dos estilos e prioridades, ideias e ansiedades de sua época;
  • Uma explanação histórica sobre o período, com foco nas continuidades culturais e nexos causais entre as épocas abordadas, formando assim uma grande narrativa sequencial da história cultural brasileira.

Premissas

  • Mesmo as pessoas mais cultas se sentem ocasionalmente intimidadas diante das grandes obras literárias canônicas e precisam de ajuda profissional para lê-las.
  • Além disso, apesar de muitas vezes conhecerem bem essa ou aquela época histórica, sua visão global é fragmentada e não conseguem enxergar como as épocas se seguem e se encaixam, como uma obra dialoga com outra na Grande Conversa.

Objetivos

Ajudar as pessoas alunas a:

  • Ler e extrair o máximo benefício estético das grandes obras literárias brasileiras e, no processo,
  • Formar e visualizar um panorama coerente da história cultural brasileira, da ideia que o Brasil narra de si mesmo.

Formato

Uma aula de literatura é essencialmente democrática e dialógica. A professora não é a dona-do-saber distribuindo conhecimento às discípulas inferiores, mas uma facilitadora de um compartilhamento de vivências de leitura entre pessoas iguais. Além disso, cumpre as seguintes tarefas:

  • Contextualizar a obra em sua época e cultura, iluminando tudo que já estaria iluminado para as leitoras contemporâneas, mas não para nós;
  • Ensinar um certo tipo de raciocínio literário: como abordar e interrogar a obra, como formular hipóteses e ler entrelinhas, etc;
  • Apresentar a fortuna crítica da obra, ou seja, outras leituras e interpretações que recebeu ao longo dos séculos, e situá-la na Grande Conversa, apontando quem a influenciou e por quem foi influenciada.

Por que estudar literatura brasileira?

“Comparada às grandes, a nossa literatura é pobre e fraca. Mas é ela, não outra que nos exprime. Senão for amada, não revelará a sua mensagem; e se não a amarmos, ninguém o fará por nós. Se não lermos as obras que a compõe, ninguém as tomará do esquecimento, descaso ou compreensão. Ninguém, além de nós, poderá dar vida a essas tentativas muitas vezes débeis, outras vezes fortes, sempre tocantes, em que os homens do passado, no fundo de uma terra inculta, em meio a uma aclimação penosa da cultura europeia, procuravam estilizar para nós, seus descendentes, os sentimentos que experimentavam, as observações que faziam – dos quais se formavam os nossos.” (Antonio Cândido)

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A Grande Conversa

Ao longo dos séculos e dos milênios, sempre que uma pessoa artista ou pensadora, filósofa ou cientista, cria uma nova obra intelectual, ela está ativamente dialogando com todas as suas predecessoras, seja somando ou reagindo, se opondo ou se juntando. Esse diálogo é o que chamamos de a Grande Conversa. Estudá-la não significa concordar com os valores ultrapassados que a moldaram, mas sim adquirir as ferramentas para moldarmos a Grande Conversa do futuro de acordo com nossos próprios valores, em nossos próprios termos.

Decolonizando o cânone

A Grande Conversa Brasileira é um curso sobre o cânone literário, mas não somente sobre ele: ao falarmos sobre o cânone, é importante falarmos também de todas as vozes que foram silenciadas, esquecidas e deixadas pelo caminho. Quase todas, infelizmente, se perderam para nós, mas algumas ainda podem ser recuperadas, ouvidas, valorizadas. Por isso, em cada aula, discutiremos também obras que, a partir de outras perspectivas, complementam e interpelam, questionam e desconstroem, desmentem e desmascaram, a unanimidade e a complacência do cânone.

Outras vozes

Apesar das tentativas de apresentar contrapontos e de interpelar o cânone criticamente, a Grande Conversa Brasileira ainda é um curso sobre o cânone literário, essa instituição excludente por definição, destinado para pessoas interessadas em fazer um curso sobre o cânone literário. Para quem quiser ter acesso a perspectivas ainda mais decoloniais e contracanônicas, existem cursos e clubes de leitura como Construção da personagem feminina, com Juliana Cunha e Fabiane Secches (que eu recomendo); e também Leia mulheres; Leituras decoloniais; Clube de leitura Marupiara de livros indígenas; Africanidades; Clube do Livro Preta; Pretaria.

Crie sua própria experiência

Não é necessária a leitura prévia das obras, pois um dos objetivos do curso é que cada participante crie a sua própria experiência, única e individual, lendo as obras que preferir, de acordo com seus próprios interesses. Caso as participantes já tenham lido as obras principais, ou queiram mergulhar em mais leituras relacionadas, a ementa oferece sugestões de outras obras de apoio, tanto de ficção quanto de não-ficção, que dialogam com as leituras.

Leia mulheres

A cada aula, será discutida pelo menos uma obra escrita por uma autora mulher. Para quem está tentando ler mais mulheres, é possível fazer esse curso inteiro lendo somente grandes autoras brasileiras. Das 30 leituras principais do curso, 14 foram escritas por mulheres.

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Funcionamento

As aulas acontecem online, na primeira quinta-feira do mês, a partir das 19h, através do aplicativo Zoom.

A etapa expositiva dura cerca de duas a três horas. Depois disso, abrimos para perguntas e comentários, e continuamos enquanto houver participantes interessadas em conversar informalmente sobre as obras.

A gravação em vídeo das aulas ficará disponível em um grupo fechado do Facebook até, no mínimo, 31 de dezembro de 2024. (É preciso se inscrever no Facebook para ter acesso ao grupo)

Entre uma aula e outra, serão disponibilizadas instruções para o encontro seguinte, com o eixo temático da aula, as prioridades de leitura, os capítulos mais importantes para quem não conseguir ler tudo, alguns links para o que estiver disponível na internet.

Comunidade no Whatsapp

O coração do curso é o grupo no Whatsapp, onde participantes passam o mês compartilhando comentários, sugerindo temas, fazendo perguntas, resolvendo dúvidas. As participantes também recebem áudios exclusivos, quase minipodcasts, com pequenas pré-aulas sobre as leituras. Ao longo de todo o mês, entre uma aula e outra, é aqui onde realmente acontece a mágica da leitura compartilhada e coletiva, onde grandes amizades nascem e florescem. A aula expositiva acaba sendo em larga medida pautada pela conversa nesse grupo.

Como tudo na Grande Conversa Brasileira, a participação no grupo de Whatsapp é totalmente opcional, mas também sujeita ao bom comportamento da participante. As regras são simples: o grupo é exclusivamente para a troca de comentários, impressões, perguntas, etc, inclusive links e arquivos, sobre as leituras do curso ou temas de História, Literatura ou Arte de modo geral. Qualquer comportamento agressivo ou violento, comentário insultuoso ou ad hominem, assédio moral ou sexual, seja no público ou no privado, podem resultar em expulsão imediata da participante, sem devolução do valor pago.

Professor

Alex Castro é formado em História pela UFRJ com mestrado em Letras por Tulane University (Nova Orleans, EUA), onde também ensinou Literatura e Cultura Brasileira. Tem oito livros publicados, no Brasil e no exterior, entre eles entre eles A autobiografia do poeta-escravo (Hedra, 2015), Atenção. (Rocco, 2019) e Mentiras Reunidas (Oficina Raquel, 2021). Em 2020, coordenou o curso Introdução à Grande Conversa: Um passeio pela história do Ocidente através da literatura, nos mesmos moldes desse.

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Conteúdo do curso

Ao comprar o curso A Grande Conversa Brasileira, você tem direito a:

  • Assistir ao vivo uma aula mensal via Zoom (entre 1º de abril de 2021 e 6 de janeiro de 2022);
  • Ter acesso ao grupo fechado no Facebook, onde estão arquivadas as aulas gravadas (até 31 de dezembro de 2024);
  • Participar diariamente do grupo de conversas no Whatsapp (até 31 de janeiro de 2022).

Compre

Duas opções de pagamento para o curso completo, em 10 aulas:

Não são vendidas aulas individuais.

Desconto

Quem tiver comprado meu livro capa dura Mentiras reunidas na pré-venda paga apenas R$899 — ou seja, o livro sai de graça e ainda sobra troco — somente à vista, somente via pix: eu@alexcastro.com.br (Não há devolução desse valor promocional. Envie o comprovante de compra do livro para o email acima. A pré-venda vai até 15 de abril de 2021. Detalhes aqui.)

Você ganha uma bolsa exclusiva, dois marcadores de página e uma dedicatória apócrifa.

Exterior

Quem não tem conta bancária ou cartão de crédito brasileiro, pode fazer um pagamento único, na cotação do dia, via Amazon gift card (email: lll.alexcastro@gmail.com; só Amazon EUA ou Espanha: não tenho conta nas outras Amazon) ou Paypal.

Venda de aulas individuais

Um dos objetivos do curso é lermos literatura de uma forma mais coletiva e comunitária. Poucas coisas podem ser mais prazerosas e impactantes do que lermos literatura juntas em um grupo que vai se conhecendo e se irmanando ao longo de vários meses. Por isso, não é possível comprar aulas individuais, somente o curso inteiro.

Bolsas

Um número limitado de bolsas parciais está disponível para pessoas negras, pessoas com deficiência, povos originários, recipientes do Bolsa-Família, pessoas alunas ou professoras do ensino público fundamental ou médio, mediante preenchimento de uma ficha. Bolsistas precisam estabelecer o compromisso de 1) ler pelo menos uma das obras por aula; 2) participar ativamente do grupo no Whatsapp compartilhando impressões e comentários sobre as obras; 3) estar presentes nas aulas ao vivo no Zoom. Fale comigo pelo email eu@alexcastro.com.br, assunto “Pedido de bolsa”.

Dúvidas

Dúvidas e questões sobre pagamentos, somente por email: eu@alexcastro.com.br

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Leituras em resumo

Links levam para a descrição da aula nessa página.

1ºabr21: Indianistas & inconfidentes: Romanceiro da inconfidência / Guarani / Cantos

6mai21: Escravistas & escravizados: Casa-Grande & Senzala / Úrsula / Escravos

3jun21: Gaúchas & amazônicas: Asa esquerda do anjo / Galvez, imperador do Acre / Cobra Norato

1ºjul21: Burguesas & agregadas: Dom Casmurro / Minha vida de menina / Poemas dos becos de Goiás

5ago21: Civilizados & bárbaros: Sertões / Quarto de despejo / Uraguai

2set21: Loucas & grevistas: Parque Industrial / Eu e outros poemas / Cemitérios dos vivos

7out21: Bandeirantes & jagunças: Grande Sertão: Veredas / Muralha / Invenção de Orfeu

4nov21: Guerrilheiras & torturadores: Sombras de reis barbudos / Meninas / Júbilo, memória, noviciado

2dez21: Retirantes & sebastianistas: Quinze / Romance da Pedra / Morte e vida Severina

6jan22: Místicas & engajadas: Hora da estrela / Paixão segundo G.H. / A teus pés

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Todos os links de livros direcionam para a Amazon Brasil. Se você clicar e comprar, ganho uma comissão, e te agradeço muito. As edições linkadas não são necessariamente as melhores, mas sim as que estão em catálogo atualmente. A maioria das obras está em domínio público e pode ser facilmente encontrada na internet.

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1. Indianistas & inconfidentes

(Quinta, 1º de abril de 2021)

Na primeira aula, começamos do começo: com os povos originários que habitavam essa terra que viria a se chamar Brasil e com os primeiros portugueses que projetaram sobre o Novo Mundo sua visão edênica de um paraíso terrestre.

O Guarani (1857), de José de Alencar, é um thriller de capa-e-espada muito mais empolgante do que nos venderam na escola. Além disso, é um livro que está no centro do nosso processo de formação nacional: esse romance de uma branca pura e idealizada com um índio embranquecido e cavalheiresco, onde o negro não tem lugar, é a cristalização da narrativa que a elite do Segundo Reinado fazia da nação que estava inventando.

Em poesia, leremos os Cantos indianistas de Gonçalves Dias (publicados entre 1846 e 1851), certamente nosso maior poeta do XIX. Por mais que o indianismo hoje nos pareça conservador e idealizado, em sua época ele foi revolucionário: além de ajudar a criar nossa identidade nacional literária, ele mudou o foco da nossa literatura nascente, da Europa para os povos originários. E essa proeza, realizada com verve e talento, foi em grande parte mérito da poesia musical de Gonçalves Dias.

Tanto quanto Alencar e Gonçalves Dias idealizam o indígena, Cecília Meirelles também idealiza os inconfidentes. Com admirável poder de aglutinação e belíssima sonoridade, o Romanceiro da Inconfidência (1953), quase um resumo da Grande Conversa Brasileira, amarra diversos temas de diversas épocas de nossa história: partindo dos sons e dos ritmos dos romanceiros medievais, que são nossa mais profunda herança literária portuguesa, Meireles recria a epopéia de nossos inconfidentes, homens iluministas do século XVIII, a partir das preocupações políticas e prioridades estéticas dos séculos XIX e XX, ou seja, o projeto republicano de construir novos heróis nacionais não-vinculados à monarquia.

Mas, afinal, o que é um herói nacional? O que é um símbolo nacional? Por fim, o que é o Brasil?

Obras principais

O Guarani, de José de Alencar (Ateliê, 528pp)

Romanceiro da Inconfidência, de Cecília Meirelles (LPM, 224pp)

Cantos, de Gonçalves Dias (Martins Fontes, 489pp), ou Melhores Poemas (Global, 176pp), ou Poesia Indianista (Martins Fontes, 150pp)

História

Brasil: Uma Biografia, de Lilia Schwarcz e Heloisa Starling: Introdução, caps. 1, 4, 5 (Cia das Letras, 808pp)

História do Brasil colônia, de Laima Mesgravis (Contexto, 176pp)

Apoio

Cartas chilenas, de Tomás Antônio Gonzaga (Cia das Letras, 184pp)

A Ficção da Realidade: Sociologia de “O Guarani”, de Rodrigo Estramanho de Almeida (Alameda, 345pp)

Ao vencedor as batatas, de Roberto Schwarz (34, 240pp)

Ficções de Fundação: os Romances Nacionais da América Latina, de Doris Sommer (UFMG, 488pp)

Visão do Paraíso, de Sergio Buarque de Hollanda (Cia das Letras, 600pp)

1499 : O Brasil antes de Cabral, de Reinaldo José Lopes (HarperCollins, 248pp)

Temas

Brasil Colônia, Império. Povos originários pré-cabralinos; visão edênica do Brasil; indianismo e formação da identidade nacional; Inconfidência Mineira.

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2. Escravistas & escravizados

(Quinta, 6 de maio de 2021)

O período entre a abolição da escravatura (1888) e o lançamento de Casa Grande & Senzala (1933), de Gilberto Freyre, é marcado por uma quase completa ausência da escravidão do discurso intelectual brasileiro, um processo consciente de rasura por parte da elite brasileira no qual a escravidão, como categoria explicativa de Brasil, é substituída por raça e mestiçagem. O discurso racista-cientificista que impera nessa época (exemplificado em obras como Os sertões, que leremos na quinta aula) nega a contribuição africana ao Brasil e afirma, pelo contrário, que a própria existência das pessoas negras seria um problema nacional, a ser corrigido por imigração e branqueamento. Como veremos nas leituras da sexta aula, a negritude era constantemente associada à degeneração, alcoolismo, incapacidade mental e imoralidade. E não pelo fato de as pessoas negras terem sido exploradas por 350 anos e, então, libertadas sem nenhuma ajuda financeira ou plano de inserção social, mas por pretensa inferioridade étnica.

É nesse cenário intelectual que Casa Grande & Senzala explode como uma verdadeira bomba. Poucos livros foram tão influentes, tão impactantes, tão polêmicos. Ele pode e deve ser criticado, mas sua maior contribuição foi justamente ter recolocado a escravidão no centro do pensamento nacional: depois de Casa Grande & Senzala, nunca mais será possível entender o Brasil que não a partir do fato central de termos sido a maior civilização escravista do mundo moderno.

Três obras ficcionais, de três gêneros diferentes, mostram como a escravidão era vista no cânone literária do século XIX: os poemas engajados de Castro Alves contra o tráfico escravista e em defesa da Abolição (1871); o romance Vítimas Algozes (1869), de Macedo, que retrata como as pessoas escravizadas, “vítimas” da escravidão e transformadas em “feras”, se tornam as “algozes” das pessoas brancas; e, por fim, a peça O demônio familiar (1857), de Alencar, uma das mais populares do século e emblemática da comunicação de massa do Segundo Reinado, onde um menino escravizado faz tantas traquinagens com sua família branca que acaba sendo “punido” com a liberdade.

Já o romance Úrsula (1859) tem a distinção de ter sido escrito por uma mulher, negra, provinciana, subalterna. Apesar de ser um romance romântico como tantos, repleto de peripécias aventurescas e centrado na paixão de um belo casal de brancos, boa parte dos personagens secundários são pessoas negras escravizadas surpreendentemente normais, retratadas pela primeira vez vistos de um ponto de vista interno, por uma perspectiva afrodescendente.

No plano histórico, continuaremos nossa explanação sobre o Brasil Colônia, dessa vez a partir do eixo temático do trabalho escravo, e dos ciclos do açúcar, do ouro, do café.

Obras principais

Casa Grande & Senzala, de Gilberto Freyre (Global, 728pp)

Úrsula, de Maria Firmina dos Reis (Cia das Letras, 224pp)

Os escravos, de Castro Alves, em Espumas flutuantes / Os escravos (Martins Fontes, 136pp), ou Melhores poemas (Global, 136pp)

História

Brasil: Uma Biografia: caps. 2, 3 (Cia das Letras, 808pp)

História do Brasil colônia, de Laima Mesgravis (Contexto, 176pp)

— “Massangana”, em Minha formação, Joaquim Nabuco (Ed.34, 288pp)

Apoio, ficção

Vítimas Algozes, de Joaquim Manoel de Macedo (Best Seller, 352pp)

O demônio familiar, de José de Alencar (Martin Claret, 152pp)

Apoio, não-ficção

Canibalismo amoroso, de Affonso Romano de Sant’Anna (Rocco, 324pp)

Guerra e paz: Casa-Grande & Senzala e a obra de Gilberto Freyre nos anos 30, de Ricardo Benzaquen de Araújo (34, 215pp)

Temas

Brasil Colônia; Império; escravidão; lusotropicalismo; “democracia racial”.

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3. Gaúchas & amazônicas

(Quinta, 3 de junho de 2021)

Na terceira aula, mais histórica do que literária, quebramos um pouco o enfoque sudestino tradicional da literatura canônica brasileira para ler duas obras canônicas das regiões Norte e Sul, Galvez, imperador do Acre (1976) e Um certo Capitão Rodrigo (1949, trecho de O Continente, primeiro volume de O tempo e o vento), que nos permitem articular e entender o processo de formação histórica dessas regiões. Abordaremos as Guerras do Prata, desde a fundação da Colônia de Sacramento até o final da Guerra do Paraguai, e a ocupação da Amazônia, até o compra do Acre. No meio do percurso, teremos ocasião de explorar a Regência, talvez o período mais conturbado da história brasileira, com foco especial na Revolução Farroupilha e na Cabanagem, que abalaram ambas as regiões.

Em poesia, Cobra Norato (1931), de Raul Bopp, é a obra perfeita para lermos em uma aula sobre o Norte e o Sul. Escrita por um gaúcho de ascendência alemã, essa bela e divertida rapsódia amazônica costura diversas lendas do folclore nortista: é “como se a selva fosse o poema rasgado por rios, sulcado de ritmos, guardado por um jacaré, perseguido pela Cobra Grande, entranhado de amor pela filha da Rainha Luzia” (Carlos Nejar). Raul Bopp foi um dos pais do movimento modernista e esse poema, com sua síntese alucinada de tantas fontes folclóricas tão díspares, é o complemento perfeito ao Manifesto Antropófago. (De certo modo, o que os modernistas estão fazendo, em obras como Cobra Norato e Macunaíma, é recriando no século XX o indianismo que Alencar e Gonçalves Dias criaram no XX, como vimos na primeira aula.)

Por fim, A asa esquerda do anjo (1981), de Lya Luft, é um romance de formação sobre uma menina crescendo em uma família alemã no sul do Brasil, mostrando as agruras de um tipo específico de colonização que praticamente só existiu nessa região. O patriotismo nos vende a ideia de que “a pátria é nossa língua”, mas não serão também brasileiras as famílias que estão construindo suas vidas em nosso país há gerações, mas falam outras línguas?

Obras principais

Galvez, imperador do Acre, de Marcio Souza (Record, 178pp)

Um certo Capitão Rodrigo, de Érico Veríssimo, em edição separada (Cia das Letras, 192pp) ou em O Continente (Cia das Letras, 656pp)

A asa esquerda do anjo, de Lya Luft (Record, 112pp)

Cobra Norato, de Raul Bopp, em edição separada (José Olympio, 96pp), ou na obra completa (José Olympio, 392pp)

História

Brasil: Uma Biografia: caps. 6, 7, 8, 9, 10 (Cia das Letras, 808pp)

História do Brasil Império, de Miriam Dolhnikoff (Contexto, 176pp)

Apoio, ficção

Mad Maria, de Marcio Souza (Record, 464pp)

Ana Terra, de Érico Veríssimo, em edição separada (Cia das Letras, 112pp) ou em O Continente (Cia das Letras, 656pp)

Apoio, não-ficção

— “Manifesto Antropófago”, de Oswald de Andrade, em Manifesto Antropófago e Outros Textos (Penguin, 80pp)

História da Amazônia: Do período pré-colombiano aos desafios do século XXI, de Márcio Souza (Record, 392pp)

Maldita guerra, de Francisco Doratioto (Cia das Letras, 656pp)

Temas

Independência; Regência, Formação do Rio Grande, formação do Grão-Pará, questão do Prata, questão do Acre.

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4. Burguesas & agregadas

(Quinta, 1º de julho de 2021)

Dono de uma prosa elegante que funde frieza e paixão, serenidade e revolta, elegância e violência, peixe ensaboado cuja verdadeira opinião nunca conseguimos determinar, mestre da sátira e da ironia, Machado de Assis é nosso primeiro grande escritor e Dom Casmurro (1899), sua obra-prima. Durante mais de meio século, foi lido como um romance de adultério. Nunca houve dúvida quanto à infidelidade de Capitu. Somente em 1960, surgiu a questão “mas será que era?”, não por acaso levantada por uma crítica literária estrangeira e mulher, Helen Caldwell. Dom Casmurro sempre foi o mesmo, em seu lançamento, em 1899, na época de Caldwell, em 1960, e hoje, em 2021: quem vai mudando somos nós. Uma história das leituras de Dom Casmurro é a própria história cultural do Brasil, de como escolhemos ler e interpretar a obra-prima de nosso maior autor. Também abordaremos alguns contos selecionados, especialmente sobre a relação do autor com sua identidade racial (Machado de Assis era negro?) e com a luta contra a escravidão (Machado de Assis foi abolicionista?). Afinal, como se pergunta Roberto Schwarz, as ideias de Machado de Assis estavam “no lugar”?

Por falar de Roberto Schwarz, seguindo a linha de seu livro Duas meninas, conversaremos também sobre Minha vida de menina (1942), de Helena Morley, diário mantido por uma jovem mineira entre 1893 e 1895, dos seus 13 aos 15 anos. Se Bentinho monopoliza a voz narrativa de Dom Casmurro, o diário de Morley nos dá a oportunidade de ouvirmos, sentirmos, entendermos uma menina que enfrentou os mesmos dilemas, desafios, inseguranças (que conheceu o mesmo Brasil!) que a pequena, silenciada Capitu.

Nascida por volta dessa época, em 1889, a obra da poetisa Cora Coralina, sobre sua infância em Goiás Velho, nos traz um olhar reminiscente e contemporâneo de Morley. Longe dos movimentos, manifestos e modismos literários dos grandes centros sudestinos, Cora Coralina escreve uma poesia marcada pela sonoridade da língua e pela vivência concreta da vida no interior. Hesitante quanto ao valor de sua obra, ela somente publica seu livro de estréia, Poemas dos becos de Goiás e estórias mais, em 1965, aos 76 anos.

De todas as escritoras que leremos no curso, é a mais consistentemente menosprezada e esnobada pelo cânone, tanto por sua escolha de temas dito prosaicos quanto por sua condição de mulher idosa interiorana. Sempre que recomendo sua obra, as pessoas escutam educadamente e respondem: “Desculpa, mas não tem como isso ser bom.” Ela somente começa a ser valorizada depois dos elogios públicos do canônico Carlos Drummond de Andrade: “É poesia das mais diretas e comunicativas que já tenho lido e amado. Que riqueza de experiência humana, que sensibilidade especial e que lirismo identificado com as fontes da vida!”

No plano histórico, continuamos nossa viagem pelo século XIX e pelo Segundo Reinado.

Obras principais

Dom Casmurro, de Machado de Assis (Ateliê, 400pp)

Minha vida de menina, de Helena Morley (Cia das Letras, 328pp)

Poemas dos becos de Goiás e estórias mais, de Cora Coralina (Global, 240pp)

Apoio, ficção

— “Cantiga de esponsais”, “Noite de almirante”, “A causa secreta”, “Missa do Galo”, “Pai contra mãe”, em 50 contos de Machado de Assis, (Cia das Letras.)

História

Brasil: Uma Biografia: cap. 11 (Cia das Letras, 808pp)

História do Brasil Império, de Miriam Dolhnikoff (Contexto, 176pp)

Apoio, não-ficção

Duas meninas, de Roberto Schwarz (Cia das Letras, 152pp)

— “As ideias fora do lugar”, de Roberto Schwarz, em edição separada (Penguin, 152pp) ou em Ao Vencedor as Batatas (34, 240pp)

Um mestre na periferia do capitalismo, de Roberto Schwarz (34)

O Otelo Brasileiro de Machado de Assis, de Helen Caldwell (Ateliê, 234pp)

Machado de Assis Afrodescendente, de Eduardo de Assis Duarte (Malê, 352pp)

Machado de Assis historiador, de Sidney Chalhoub (Cia das Letras, 352pp)

Temas

Segundo Reinado, Abolição, Proclamação da República; realismo na literatura; ideias fora do lugar.

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5. Civilizados & bárbaros

(Quinta, 5 de agosto de 2021)

Poucos anos depois da Proclamação da República, o Exército Brasileiro mobilizou quase todas as suas forças para enfrentar e destruir uma pequena aldeia rebelada no sertão da Bahia, Canudos. Entre os correspondentes de guerra, estava Euclides da Cunha, de O Estado de São Paulo, para contar aos seus leitores paulistas sobre as hordas bárbaras que ameaçavam a sagrada República. Se tivesse conseguido contar o que pretendeu, hoje não seria nem nota de pé de página na História da Literatura. É preciso ler Os sertões sem tentar classificá-lo, pois é nas classificações fáceis que ele escorre por nossos dedos: nas entrelinhas do projeto classificador de Euclides da Cunha, pelas frestas de seu determinismo racial, Os sertões é um livro que vibra de idealismo e compaixão.

O estilo barroco-científico febril de Euclides da Cunha é marcado por uma eterna dicotomia entre opostos irreconciliáveis: ler Os sertões é acompanhar, ao vivo, uma verdadeira batalha entre esses titãs. De um lado, um militar positivista e patriótico, narrando a épica batalha através da qual o glorioso (e civilizado!) exército nacional derrotou uma horda de fanáticos primitivos e degenerados que ameaçava a própria essência do país. Do outro lado, um escritor, um cronista e um jornalista, mestre contador de histórias, arguto observador, dotado de enorme empatia, desmentindo todas as teorias do positivista ao mostrar homens e mulheres de fibra e de coragem, de força física e de inteligência, vivendo momentos dramáticos de intensa humanidade enquanto defendiam seu líder, sua religião, suas casas, seus entes queridos… sua civilização, enfim.

Mas quem são os bárbaros e quem são os civilizados? Quem é o “nós” e quem é o “eles”? Os sertões é um clássico porque sua contradição interna ainda é a mesma que a nossa, sua fratura exposta é a mesma que ainda nos incomoda. Como todo clássico, Os sertões vive e pulsa e respira porque ainda fala diretamente a nós.

O Uraguai (1769), de Basílio da Gama, é um poema épico que, assim como Os sertões, foi escrito no calor do momento: narra um conflito que acabara de acontecer. Em 1756, Portugal e Espanha, inimigos sempre irreconciliáveis, se unem militarmente pela primeira vez em sua história para expulsar o povo guarani e os missionários jesuítas que os defendiam do território das Missões — hoje, na Argentina. Por seus esforços em construir o indígena como personagem-chave da literatura nacional, Basílio da Gama antecipa o indianismo fundacional de Alencar e de Gonçalves Dias. Por sua ambivalência em relação aos civilizados e aos bárbaros, antecipa as dualidades irreconciliáveis de Euclides da Cunha: os espanhóis, aliados de momento, não são amigos; os guaranis, adversários, se comportam como nobres e lutam por seus lares. Quem está certo? Quem está errado? O Uraguai, escrito na atmosfera humanista do iluminismo pombalino de meados do XVIII, em versos livres e em linguagem clara, é de certo modo mais aberto e mais tolerante, mais fluente e mais legível, do que Os sertões, quase esmagado pelo peso do determinismo científico do começo do século XX.

A escritora Carolina Maria de Jesus, mulher negra e autora de um diário sobre sua vida na favela (1960), entre muitas outras obras, foi durante décadas a pessoa autora brasileira, de qualquer sexo, mais vendida e mais conhecida em todo o mundo. Respondona e altiva, Carolina Maria de Jesus se recusou a interpretar o papel de “favelada bem-comportada” que quiseram lhe impingir e foi rapidamente colocada no papel de “Outra”, “selvagem”, “não-civilizada”: duvidavam até que tivesse escrito seus próprios livros — best-sellers no mundo inteiro, vamos lembrar. (Até poucos anos atrás, continuava mais conhecida no exterior: quando ensinei Quarto de despejo em uma universidade norte-americana, na década de 2000, a enorme maioria das pessoas leitoras do meu blog, no Brasil. nunca tinha ouvido falar dela.) Se, em Os sertões, Euclides da Cunha narra como o Exército exterminou um terrível Outro, no diário de Carolina Maria de Jesus temos a chance de ouvir esse Outro — na verdade, uma pessoa como nós, mas subalternizada na posição de Eterno Outro — falando em sua própria voz, sobre sua própria vida, sua própria subjetividade. O que não teriam nos contado os diários das mulheres sertanejas canudenses?

Obras principais

Os sertões, de Euclides da Cunha (Ateliê, 928pp)

Quarto de despejo, de Carolina Maria de Jesus (Ática, 200pp)

O Uraguai, de Basilio da Gama (L&PM, 144pp)

Apoio, ficção

A guerra do fim do mundo, de Mario Vargas Llosa (Alfaguara)

Canudos, história em versos, de Manuel Pedro das Dores Bombinho (Hedra, 344pp)

História

Brasil: Uma Biografia: caps. 12, 13 (Cia das Letras, 808pp)

História do Brasil República: Da queda da monarquia ao fim do estado novo, de Marcos Napolitano (Contexto, 176pp)

Apoio, não-ficção

Euclides da Cunha: Esboço biográfico, de Roberto Ventura (Cia das Letras, 408pp)

Terra Ignota, a construção de Os Sertões, de Luiz Costa Lima (Civilização Brasileira, 300pp)

Imitação dos Sentidos, prógonos, contemporâneos e epígonos de Euclides da Cunha, de Leopoldo M. Bernucci (Edusp, 346pp)

Temas

República Velha; Guerra de Canudos; eugenia, lombrosianismo, embranquecimento.

* * *

6. Loucas & grevistas

(Quinta, 2 de setembro de 2021)

Se, no Brasil, o romantismo literário foi uma ferramenta de construção da nacionalidade, com romances repletos de casais perfeitos e idealizados, o naturalismo da virada do século XIX para o XX trouxe à tona aqueles elementos antes excluídos de tanta idealização: as mulheres que trabalhavam e faziam sexo, as pessoas negras, as homossexuais, as doentes, as alcoólatras, as pobres.

As lentes naturalistas não eram generosas: essas pessoas eram vistas pelos piores ângulos, como portadoras de todo tipo de degenerescência social. Mas era a primeira vez que eram de fato vistas, que suas vidas e subjetividades eram retratadas na literatura. São obras onde raça e classe, gênero e orientação sexual, estão sempre em destaque e em conflito, nos permitindo assim uma visão única dos subterrâneos do Rio de Janeiro da Belle Epoque, então vivendo sua fase mais gloriosa, e também de São Paulo, no começo da industrialização.

O cemitério dos vivos (1920), uma obra bastante curta e canônica ma non troppo, é um romance rascunhado e inacabado de Lima Barreto, escritor negro e alcoólatra, sobre sua internação forçada em um hospital psiquiátrico. Nenhuma outra obra do autor revela com tanta força, com tanta dor, com tanta verdade, a luta que ele teve que travar contra as suas limitações físicas e sociais. É um grito que chega até nós pelo milagre da literatura.

O Cortiço (1890) é certamente a obra mais canônica dentre as leituras dessa aula, talvez o romance mais bem realizado escrito no Brasil no século XIX, traçando um amplo painel da sociedade carioca, dos imigrantes portuguesas às negras escravizadas, dos burgueses endinheirados aos nobres falidos. Depois da leitura principal, é a que eu recomendo com mais ênfase.

A Carne (1888) e Bom Crioulo (1895) são duas das obras mais malditas da literatura brasileira. A primeira narra o despertar sexual de uma moça rica, depois de ver uma orgia realizada por suas pessoas escravizadas. A segunda, considerada um dos primeiros romances gays da literatura mundial, narra as relações amorosas e sexuais entre um marinheiro negro, forte e dominante, e o marinheirinho branco que ele ama e protege. (De novo, importante destacar que essas personagens não são retratadas positivamente, mas como pessoas degeneradas.)

Por fim, todas as neuroses, patologias, obsessões da literatura naturalista explodem na obra de um de nossos maiores e mais vigorosos poetas, Eu e outros poemas (1912), de Augusto dos Anjos. Sua poesia tem uma sonoridade tão agressiva, abraça o mau-gosto com tanto destemor, que transcende sua própria banalidade e se torna grandiosa, quase apocalíptica (Antonio Cândido). Sua virulência cientificista e sua angústia moral de dimensões cósmicas fazem de Augusto dos Anjos o poeta da entropia, o artista do mundo podre, o cantor da carne que inevitavelmente se putrefaz, o bardo da vida que não tem outro destino senão fabricar a morte: “O beijo, amigo, é a véspera do escarro, / A mão que afaga é a mesma que apedreja.”

Enquanto a capital do Brasil vivia sua autoproclamada Belle Epoque, São Paulo passava por décadas de crescente imigração e acelerada industrialização, culminando nas primeiras grandes greves promovidas por operários italianos e espanhóis. Esse é o cenário de Parque Industrial (1933), de Patrícia Galvão, também conhecida como Pagu, uma obra que não satisfeita em ser nosso primeiro romance operário, nosso primeiro romance cujo tema ostensivo é o mundo do trabalho e das relações econômicas, também é um importante retrato da situação específica da mulher proletária. Com Pagu, já não estamos mais na estética naturalista das obras anteriores, mas em um novo momento modernista, construído especificamente em oposição a todos os estilos anteriores, onde finalmente já é possível abordar os dramas humanos das pessoas em situação subalterna sem condená-las, sem estigmatizá-las, sem culpá-las por sua condição. O caminho está aberto para um novo tipo de romance social.

Todas as leituras são curtas e razoavelmente fáceis de ler. Recomendo que cada participante leia pelo menos duas, de acordo com seus interesses pessoais específicos.

Obras principais

O cemitério dos vivos, de Lima Barreto (Cia das Letras, 150pp)

Parque Industrial, de Patricia “Pagu” Galvão (Cintra, 106pp)

— “Eu e outros poemas”, de Augusto dos Anjos, em Toda poesia (José Olympio, 218pp)

Apoio, ficção

O Cortiço, de Aluísio de Azevedo (Ateliê, 384pp)

Bom Crioulo, de Adolfo Caminha (Ateliê, 232pp)

A Carne, de Júlio Ribeiro (Ateliê, 368pp)

História

Brasil: Uma Biografia: cap. 13 (Cia das Letras, 808pp)

História do Brasil República: Da queda da monarquia ao fim do estado novo, de Marcos Napolitano (Contexto, 176pp)

Temas

Abolição; Proclamação da República; República Velha; Naturalismo; eugenia; lombrosianismo; misoginia; homofobia; racismo.

* * *

7. Bandeirantes & jagunças

(Quinta, 7 de outubro de 2021)

Grande Sertão: Veredas (1956) é um pequeno milagre literário, daqueles que poderíamos passar toda uma vida nos perguntando como foi possível existir. Talvez tivesse sido a maior contribuição do Brasil à literatura mundial… se fosse possível de ser lido em outro idioma que não o português. (Aliás, por ter sido escrito em uma língua criada especialmente para ele, precisamos ler por um número mínimo de páginas — digamos vinte — para darmos aos nossos ouvidos o tempo necessário para se adaptar, se adequar, se acostumar.)

Nenhuma obra literária brasileira é, ao mesmo tempo, tão inovadora no estilo e tão arrebatadora no enredo, tão fortemente regional e tão absolutamente cósmica. O paradoxo de Grande Sertão: Veredas é ser, ao mesmo tempo, nossa obra mais moderna, mais contemporânea, mais vanguardista, e também a que mais bebe nas fontes mais profundas de nossos tradições culturais, folclóricas, religiosas: o que move Riobaldo e seus capangas a lutar não seria incompreensível para Rei Arthur e seus cavaleiros.

Em Grande Sertão: Veredas, o mundo jagunço movido a honra e violência é um universo tão estilizado e tão literário quanto o mundo dos heróis da Ilíada ou de qualquer épico cavalheiresco medieval. Com exceção de Riobaldo, alter-ego da pessoa leitora, todos as outras personagens parecem muito confortáveis e adaptadas a esse ambiente, inclusive Diadorim. Aliás, a grande tragédia no cerne do romance é a incapacidade de Riobaldo de transmitir esse seu estranhamento e deslocamento a Diadorim, retirando-a desse mundo e salvando sua vida. Assim como Aquiles, que teve todas as chances de abandonar o combate, voltar para casa e ter vida longa, Diadorim escolhe conscientemente o ódio e a vingança. Grande Sertão: Veredas é o que aconteceria com a Ilíada se ela se passasse no sertão e Aquiles fosse um homem do século XX, introspectivo e alfabetizado, capaz de refletir sobre o Bem e Mal, capaz de escolher a vida e não a morte.

Aparentemente regionalista, Grande Sertão: Veredas consegue vencer os maiores perigos do regionalismo literário: reduzir os personagens a tipos pitorescos e superficiais, e recair em uma nostalgia conformista e conservadora. O grande feito de Rosa é fundir a perspectiva paroquial do regionalismo com as técnicas mais vanguardistas da nova literatura internacional: apesar de ancorado na brasilidade, Grande Sertão: Veredas é uma obra que transcende o país, supera as discussões nacionalistas sobre o que é ou deixa de ser o Brasil e atinge, enfim, a universalidade artística.

O romance A muralha (1954) tornou-se um best-seller internacional, foi adaptado diversas vezes para TV e cinema, e catapultou a autora para um lugar na Academia Brasileira de Letras — ela foi a segunda mulher a ser aceita, depois de Raquel de Queiroz, que leremos na nona aula, e antes de Lygia Fagundes Telles, que leremos na oitava. Como contraponto aos jagunços sertanejos de Guimarães Rosa, e em um estilo completamente diferente mas ainda épico, Dinah Silveira de Queiroz nos oferece a violenta e apaixonante saga dos bandeirantes que exploraram o Brasil, escravizando povos originários e garimpando pedras preciosas, mas também expandindo nossas fronteiras muito além do Tratado de Tordesilhas. O pano de fundo é a Guerra dos Emboabas, entre mineiros e paulistas, um dos maiores e mais importantes conflitos do Brasil Colonial. Por fim, em Isabel, uma das protagonistas, temos outra mulher forte que fez a escolha de Diadorim: para atingir seus objetivos, abriu mão de sua feminilidade e mergulhou no mundo da violência masculina.

Em poesia, Invenção de Orfeu (1952), assim como Grande Sertão: Veredas, é uma tentativa de modernizar e abrasileirar a velha epopéia, uma belíssima e brilhante síntese de todos os elementos formadores da cultura brasileira, desde a herança clássica greco-romana até as contribuições negras e indígenas, tudo mediado por um misticismo de raiz católica. A intenção do autor, ao escrever essa “biografia épica”, era “construir uma epopéia centrada no homem em busca de uma plenitude sensível e espiritual”. Embora impossível de explicar, talvez seja o mais impressionante edifício da poesia brasileira no século XX: “Lia sem entender, porque ninguém, penso, pode entender aquele poemão no nível lógico,” confessou Raduan Nassar, “não entendia mas ao mesmo tempo entendia demais”.

Obras principais

Grande Sertão: Veredas, de Guimarães Rosa (Cia das Letras, 560pp)

A muralha, de Dinah Silveira de Queiroz  (Instante, 384pp)

Invenção de Orfeu, de Jorge de Lima (Alfaguara, 456pp)

História

Brasil: Uma Biografia: caps. 14, 15, 16 (Cia das Letras, 808pp)

História do Brasil República: Da queda da monarquia ao fim do estado novo, de Marcos Napolitano (Contexto, 176pp)

Apoio, não-ficção

grandesertão.br, de Willi Bolle (34, 480pp)

Itinerário de Riobaldo Tatarana, de Alan Viggiano (Crisálida, 96pp)

Grande Sertão Veredas, Travessias de Eduardo F. Coutinho (É Realizações, 136pp)

Os olhos de Diadorim e outros ensaios, de Wander Melo Miranda (Cepe, 212pp)

A rosa o que é de rosa, de Benedito Nunes (Bertrand, 320pp)

Metafísica do Grande Sertão, de Francis Utéza (EDUSP, 408pp)

Temas

República Velha; Revolução de 30; regionalismo; coronelismo.

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8. Guerrilheiras & torturadores

(Quinta, 4 de novembro de 2021)

A Ditadura Militar, entre 1964 e 1985, gerou uma verdadeira explosão de criatividade na literatura, mas ainda está tão próxima que um cânone não se estabeleceu de forma segura. Por isso, nessa aula, discutiremos um leque maior de obras e as participantes devem se sentir livres para ler as que quiserem, de acordo com seus interesses pessoais.

José J. Veiga é um de nossos grandes autores esquecidos, um alegórico de mão cheia, talvez único verdadeiro praticante de realismo mágico no Brasil. Seus dois melhores romances, Hora dos ruminantes (1966) e Sombras de reis barbudos (1972), brilhantes alegorias do nosso regime militar, podem ser considerados diferentes versões da mesma história: uma cidade pequena e pacata é invadida por uma força insólita e irresistível. A linguagem é tão simples, tão límpida, tão cristalina (Veiga traduzia Hemingway) que são muitas vezes ensinados para jovens, como se fossem romances infanto-juvenis, como se não fossem absolutamente aterrorizantes. (Minha recomendação de leitura mais forte é que leiam pelo menos um desses dois romances.)

Lygia Fagundes Telles, terceira mulher a ser aceita na Academia Brasileira de Letras, costumava dizer: a função do escritor é ser testemunha de seu tempo. Em uma chave mais realista, seu romance As meninas (1973) retrata a vida de três amigas de classe média durante a ditadura, exemplificando os vários caminhos abertos para essa geração de mulheres: casamento, trabalho, drogas, militância política, luta armada.

As outras três obras abordam diferentes aspectos da vida sob a ditadura: A festa (1976), de Ivan Ângelo, ganhador do Jabuti, busca traçar um amplo painel da época através de uma narrativa fragmentária que oscila entre o romance e o conto; Pan América (1967), de José Agrippino de Paula, é talvez o romance mais pop, tropicalista, psicodélico, inclassificável da literatura brasileira — o prefácio de Caetano Veloso explica seu impacto na cultura da época; por fim, o Bar Don Juan, que dá título à narrativa mais linear de Antonio Callado (1972), é a onde a “esquerda festiva” vai chorar suas mágoas, sua desilusão, seu despreparo para a luta armada contra a ditadura.

Muito depois da ditadura, desgostosa com a caretice do mercado editorial, a poetisa Hilda Hilst se autoexilou em uma casa isolada para escrever “bandalheiras” e romances eróticos. Mas, em 1974, Hilst ainda estava tentando moldar sua irrefreável energia em algo palatável, publicável: seu livro de poesias, Júbilo, memória, noviciado da paixão, lançado nesse ano, depois de muitos anos somente escrevendo prosa e drama, acaba exemplificando o tipo de poesia que se podia publicar em 1974. Os poemas do livro, alguns dos melhores de Hilst, são místicos e sinestésicos, sexuais e urgentes, e já seria político o simples ato de publicar poemas assim na fase mais repressora do regime. Em sua última parte, porém, “Poemas aos homens do nosso tempo”, o livro se torna abertamente, ostensivamente político, revelando uma poesia que consegue ser, ao mesmo tempo, uma explosão de vigor e sexualidade, e também politicamente engajada: “Se te pareço noturna e imperfeita / … / Olha-me de novo. Com menos altivez. / E mais atento.”

Obras principais

Sombras de reis barbudos (Cia das Letras, 152pp)

As meninas, de Lygia Fagundes Telles (Cia das Letras, 304pp)

Júbilo, memória, noviciado da paixão, de Hilda Hilst, em edição separada (Cia das Letras, 136pp) ou em sua poesia completa (Cia das Letras, 584pp)

História

Brasil: Uma Biografia: cap. 17 (Cia das Letras, 808pp)

História do Brasil contemporâneo: Da morte de Vargas aos dias atuais, de Carlos Fico (Contexto, 160pp)

Coleção Ditadura, caixa com 5 volumes, de Elio Gaspari (Intrínseca, 2612pp)

Apoio, ficção

Hora dos ruminantes, de José J. Veiga (Cia das Letras, 130pp)

A festa, de Ivan Ângelo (Geração)

Pan América, de José Agrippino de Paula (Papagaio)

Bar Don Juan, de Antonio Callado (Nova Fronteira, 254pp)

Temas

Décadas de 1950, 1960 e 1970; ditaduras do Estado Novo e de 1964; autoritarismo, realismo mágico, industrialização.

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9. Retirantes & sebastianistas

(Quinta, 2 de dezembro de 2021)

Em 1930, ainda na esteira das reviravoltas causadas pela Semana de Arte Moderna de 1922, uma menina cearense de 19 anos publica um brilhante romance de estréia. O quinze, de Raquel de Queiroz, inaugura uma nova fase na literatura brasileira: o “romance de trinta”, engajado e neo-realista, abordando as grandes questões sociais de cada região. Ao longo do século XX, alguns dos maiores clássicos brasileiros são caudatários do “romance de trinta”, de Jorge Amado a Graciliano Ramos. Finalmente, em 1971, quando o gênero já vinha se esgotando, Ariano Suassuna não só eleva o “romance de trinta” ao seu ápice, como também lhe aplica um golpe de misericórdia e encerra o ciclo.

O Romance d’A Pedra do Reino e o Príncipe do Sangue do Vai-e-Volta é definido por seu narrador como “romance heróico-brasileiro, ibero-aventuresco, criminológico-dialético e tapuio-enigmático de galhofa e safadeza, de amor lendário e de cavalaria épico-sertaneja.” Ele poderia ter acrescentado: romance policial, de formação, satírico-humorístico, até mesmo apocalíptico. Assim como Grande Sertão: Veredas, é uma obra-prima ao mesmo tempo mítica e universal, mas também fortemente ancorada nas realidades concretas da fala, da cultura, do folclore brasileiros. Depois de uma obra debochada e demolidora como O Romance d’A Pedra, já não seria mais possível escrever a sério um romance como O quinze.

Em poesia, leremos Morte e vida Severina, um belíssimo auto de natal pernambucano, em perfeito equilíbrio entre rigor formal e engajamento político, que narra uma viagem pelo Sertão e através da morte, em direção ao litoral e ao renascimento: “Não há melhor resposta / que o espetáculo da vida / … / mesmo quando é a explosão / de uma vida severina.”

Obras principais

O quinze, de Rachel de Queiroz (José Olympio, 208pp)

O Romance d’A Pedra do Reino e o Príncipe do Sangue do Vai-e-Volta, de Ariano Suassuna (Nova Fronteira, 800pp)

Morte e vida Severina, de João Cabral de Melo, em edição separada (Alfaguara, 112pp), ou em sua obra completa (Alfaguara, 896pp)

História

Brasil: Uma Biografia: cap. 18 (Cia das Letras, 808pp)

História do Brasil contemporâneo: Da morte de Vargas aos dias atuais, de Carlos Fico (Contexto, 160pp)

Apoio, não-ficção

Emblemas da Sagração Armorial: Ariano Suassuna e o Movimento Armorial (1970-76), de Maria Thereza Didier (UFPE)

Narrativas e Narradores em A Pedra do Reino: Estruturas e Perspectivas Cambiantes, de Maria-Odilia Leal-McBride (Peter Lang, 199pp)

Temas

República Velha; Revolução de 30; regionalismo; coronelismo; romance de 30.

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10. Místicas & engajadas

(Quinta, 6 de janeiro de 2022)

Não consigo pensar em nenhuma outra pessoa autora que tenha escrito três romances no nível de Paixão segundo G.H (1964), Água viva (1973) e A hora da estrela (1977). Guimarães Rosa escreveu um. Machado de Assis, dois. Victor Hugo, dois. Clarice Lispector é um milagre inexplicável.

Poucos anos depois de O romance da pedra implodir o “romance de trinta”, Clarice Lispector indicou um novo caminho para a literatura brasileira. Nas mãos de outra escritora, A hora da estrela poderia facilmente ter se transformado em um “romance de trinta” tardio: escrito por uma pessoa da elite, olhando o Outro de cima para baixo, destacando sua situação precária e submissa, patética e subalterna, e enfatizando sua necessidade de contar com uma intelectual que lhe represente e fale em seu nome. Lispector, entretanto, insere um narrador intermediário entre ela e sua personagem subalterna: A hora da estrela é a história de um olhar: não sobre as dificuldades de uma nordestina pobre no Rio de Janeiro (uma mulher que Lispector não teria como não ver com condescendência), mas sim sobre as dificuldades de um escritor carioca privilegiado em contar a história de uma nordestina pobre no Rio de Janeiro. Em enxergá-la como gente. Em reconhecer sua humanidade. O esforço de Rodrigo S.M., narrador de A hora da estrela, é o próprio esforço da cultura dominante (dele, de Lispector, e o nosso) em entender e explorar, domar e deglutir, colonizar e controlar a “cultura” (que mal reconhecemos como cultura) do Outro (que mal reconhecemos como gente). Finalmente, o esforço fracassa: o subalterno não se presta ao papel de figurante que lhe reservaram. Macabéa implode os limites impostos por Rodrigo (e por Lispector) e acaba tendo que ser destruída — como quem abandona uma tese inconclusa, como quem sacrifica um cavalo manco. A hora da estrela problematiza, desconstrói e, enfim, coloca em xeque a própria possibilidade de uma intelectual privilegiada realmente contar a história de uma pessoa em posição de subalternidade. Como escrever “romances sociais” depois disso?

Não satisfeita em implodir o “romance social”, Lispector também implode o “romance psicológico”: em Paixão segundo G.H. e Água viva, ela esgarça até o limite os recursos existenciais do monólogo interior e consegue criar experiências literárias verdadeiramente místicas. Nada efetivamente acontece em nenhum dos dois romances: nas trezentas páginas de Paixão segundo G.H. uma patroa, entrando no quarto da empregada que acabara de abandonar o emprego, encontra uma barata morta… e a come; em Água viva, não acontece nem isso. Mas Lispector, escrevendo sempre no limite das palavras e tentando articular um conhecimento que não pode concebivelmente ser articulado, possibilita às leitoras um encontro com verdades profundas, iluminadas, transcendentais, incomunicáveis.

Um texto místico, quase uma contradição em termos, é sempre uma tentativa de explicar algo que, por definição, não pode ser explicado. Em poesia, leremos o único livro publicado de Ana Cristina César, talvez a mais famosa representante da poesia marginal dos anos 1970 e 1980 e fã assumida de Lispector: A teus pés (1982). Assim como Clarice na prosa, César também buscava criar uma poesia no limite do que poderia ser comunicado, uma busca mística por um significado além das próprias palavras.

Por fim, retomamos a dicotomia “civilização versus barbárie”, tema central da literatura brasileira e de todo o nosso curso. Quem representa a barbárie? Macabéa ou Rodrigo S.M.? A empregada ou a patroa? Será o bandido de quem temos medo ou será que somos nós, aqui, lendo literatura e fazendo cursos sobre a Grande Conversa? Esse é o espelho implacável que a obra de Lispector nos oferece. Sem ter para onde fugir, só nos resta comer a barata.

Obras principais

A hora da estrela, de Clarice Lispector (Rocco, 88pp)

Paixão segundo G.H, de Clarice Lispector. (Rocco, 180pp)

Água viva, de Clarice Lispector (Rocco, 96pp)

A teus pés, de Ana Cristina Cesar, em edição separada (Cia das Letras, 144pp), ou em sua obra completa (Cia das Letras, 504pp)

Apoio, ficção

Todos os contos, de Clarice Lispector (Rocco)

História

Brasil: Uma Biografia: conclusão, pós-escrito (Cia das Letras, 808pp)

História do Brasil contemporâneo: Da morte de Vargas aos dias atuais, de Carlos Fico (Contexto, 160pp)

Apoio, não-ficção

Clarice, uma vida que se conta, de Nádia Battella Gotlib (Edusp, 656pp)

Zen e a poética auto-reflexiva de Clarice Lispector: Uma literatura de vida e como vida, de Igor Rossoni (Unesp, 260pp)

A Mística Rediviva de Clarice Lispector: A Paixão Segundo G. H., de João Alfredo Montenegro (ABC)

Clarice Lispector, uma literatura pensante, de Evando Nascimento (Civilização Brasileira, 304pp)

O Humanismo em Clarice Lispector, de Ana Aparecida Arguelho de Souza (Musa, 149pp)

Temas

Década de 1980; pós-ditadura; Abertura; Anistia; Redemocratização; romance de 30; feminismo; empregadas domésticas; subalternidade; êxodo rural.

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Obras de referência

Para consulta em todas as aulas do curso.

Raízes do Brasil, de Sergio Buarque de Holanda (Cia das Letras, 256pp) Em minha opinião, o melhor ensaio interpretativo sobre o Brasil.

Brasil: Uma Biografia, de Lilia Schwarcz e Heloisa Starling (Cia das Letras, 808pp) A mais recente História do Brasil para adultos leigos, genérica, dos primórdios até hoje, bastante competente.

Iniciação à Literatura Brasileira, de Antonio Cândido (Ouro sobre Azul, 136pp) Em um livrinho de 130pp, um resumo da nossa literatura por nosso maior crítico literário.

Cem melhores poemas brasileiros do século, org. Ítalo Morriconi (Objetiva, 352pp Seleção competente e abrangente, apesar de esnobar Cora Coralina.

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História da literatura brasileira

História Concisa da Literatura Brasileira, de Alfredo Bosi (Cultrix, 568pp)

Historia da Literatura Brasileira, por Carlos Nejar (Nova Fronteira, 566pp)

Literatura e Sociedade, de Antônio Candido (Ouro Sobre Azul, 204pp)

Formação da Literatura Brasileira, de Antônio Candido (Ouro Sobre Azul, 800pp)

Dialética da colonização, de Alfredo Bosi (Cia das Letras, 424pp)

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O cânone brasileiro

Flavio R. Kothe é o crítico literário mais rabugento do Brasil e eu sou viciado em seus livros.

O Cânone Colonial, de Flávio R. Kothe (UnB, 418pp)

O Cânone Imperial, de Flávio R. Kothe (UnB, 604pp)

O Cânone Republicano, Volume 1, de Flávio R. Kothe (UnB, 610pp)

O Cânone Republicano, Volume 2, de Flávio R. Kothe (UnB, 510pp)

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Linguagem não-sexista

Em meus textos, para chamar atenção para o sexismo de nossa língua, inverto a norma e uso o feminino como gênero neutro. Não porque troquei um sexismo por outro, mas porque o gênero da palavra “pessoa” é feminino.

Trocar:

“Meus alunos não calam a boca.”

Por:

“Minhas alunas não calam a boca.”

Só mantém o sexismo da língua. Pior: sugere que são apenas as minhas alunas mulheres que não calam a boca.

Por isso, hoje, digo:

“Minhas pessoas alunas não calam a boca.”

Essa tem sido, pra mim, a maneira não-sexista de escrever.

Mais detalhes aqui: Mini manual pessoal para uso não-sexista da língua.

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