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A cruz e o carma

Outro dia, um moço me procurou. Setenta anos, alguns distúrbios mentais, um câncer no cérebro. Estava raivoso, puto, frustrado.

Em um dado momento, me acusou de não estar fazendo nada para ajudá-lo. Que o que ele precisava mesmo era que eu pegasse aquele câncer pra mim. Afinal, por que no cérebro dele e não no meu?!

E eu respondi:

“Se você pudesse pegar o meu diabetes, a minha hipertensão, a minha gota, a minha gastrite, eu pegaria o seu câncer de cérebro.”

cancer battle

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aula 04: cristãos grande conversa zen

Os Padres do Deserto

Foram talvez os últimos cristãos verdadeiros, os últimos iconoclastas que escolheram seguir os ensinamentos da pessoa Jesus em detrimento das ordens da instituição criada por Paulo.

padres do deserto

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Por quê?

Um tipo de pergunta que me fazem muito:

“Alex, no templo zen, por que vocês meditam de frente para a parede? Ou se prostram para o altar? Ou andam em ângulos retos?” etc etc.

question everything why

E só tenho uma resposta:

“Não sei. Por toda a minha vida, sempre fui a pessoa que queria saber o porquê de tudo. Hoje, minha prática zen é desapegar do meu ego questionador e aprender a fazer as coisas sem precisar saber seus porquês.”

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aula 04: cristãos grande conversa leituras zen

Noite escura, de João da Cruz

Meditamos não para fugir da realidade ou para nos isolar do mundo, mas por perceber que a vida não-contemplativa, a vida do ego, a vida do consumo, a vida do apego, é fundamentalmente irreal. Meditar é a nossa maneira de mergulharmos plenamente na realidade ilimitada.

Mas nem sempre a espiritualidade, a contemplação, a meditação trazem a paz: essa não-paz é o que João da Cruz chama de “noite escura”.

noite escura da alma joao da cruz

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textos zen

Zen FLIP

A experiência da FLIP para uma pessoa que vive de escrever e está apegada ao Ego (perdão pela redundância) é uma verdadeira montanha russa emocional.

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zen

a importância dos rituais

nem todo ritual é bobagem.

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entropia zen

tudo é prática

cada palavra conta. cada interação conta. tudo é prática.

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Notas de um retiro em um campo de concentração

Na primeira semana de novembro de 2016 — entre o Dia de Todos os Santos, quando todos os maus espíritos estão soltos no mundo, e uma eleição norte-americana entre uma direitista militarista e um louco racista misógino; enquanto meu país sofre sob um desgoverno ilegítimo e meu estado enfrenta a ressaca pós-olímpica cortando serviços essenciais — participei de um retiro zen-budista em Auschwitz, na Polônia, realizado pela Ordem dos Pacificadores Zen.

Para quem está chegando agora, recomendo começar por meu texto Um escritor no campo de concentração, escrito antes do retiro. Abaixo, algumas palavras sobre a experiência pós-retiro zen em Auschwitz.

tomando sopa do lado de fora do campo de concentração auschwitz-birkenau. tomávamos sopa trazida em um caminhão, sempre com a mesma cumbuca e não podíamos usar colher
tomando sopa do lado de fora do campo de concentração auschwitz-birkenau. tomávamos sopa trazida em um caminhão, sempre com a mesma cumbuca e não podíamos usar colher

* * *

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Prisão Conhecimento

Cultivando o não-conhecimento e abraçando a não-certeza, exercendo a não-opinião e praticando o não-debate. Ouvindo e aceitando, acolhendo e abraçando.

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zen

um escritor no campo de concentração

retiro-auschwitz-2

não há nada a ser ensinado. não há nada a ser aprendido. só existe a dor para ser compartilhada.

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zen

cinco perguntas sobre religião

o que é ser uma pessoa religiosa?

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as cinco lembranças

— adoecer faz parte da minha natureza. adoecer é uma lembrança da presença do mundo em mim.

— envelhecer faz parte da minha natureza. envelhecer é o ornamento da minha impermanência.

— morrer faz parte da minha natureza. morrer é uma dádiva da impermanência.

— tudo aquilo que amo ou odeio (objetos, parentes, pessoas amigas e inimigas) também compartilham da mesma natureza impermanente e passageira.

— somente as minhas ações são os meus pertences verdadeiros. não posso fugir às suas consequências. minhas ações são o chão que fazem o meu caminho.

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bio zen

quem sou eu, uma vídeo-biografia de alex castro

mais e mais pessoas autoras & artistas têm criado vídeos quem sou eu, onde falam sobre suas vidas & suas prioridades, seu trabalho & sua produção.

então, aqui vai a minha vídeo-biografia:

uma biografia em vídeo, do alex castro.

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habitar a dor

diz o budismo que toda emoção é dor: ou ela é literalmente dor, ou ela é uma felicidade transitória que em breve se tornará dor.

tenho algumas ausências que doem todo dia.

mas a ausência só dói porque está vinculada a coisas muito bonitas e incríveis que aconteceram e que fazem falta.

então, quando bate a dor, eu procuro uma dessas lembranças prazeirosas e entro fisicamente dentro dela, como quem entra em um quarto que está lá me esperando, com todos os seus toques, cheiros, sons, palavras.

não faço isso para negar a dor.

(a dor é minha e faz parte de mim. se eu quisesse negá-la, na minha esquina tem uma farmácia cheia de remédio pra isso.)

eu habito o momento de prazer para mostrar à dor de onde ela vem:

“você está doendo hoje, mas é só porque isso aqui ontem, ó, foi bão demais.”

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contágio

agora à noite, saindo do inhotim, uma senhora ao telefone:

— oi, meu amor. papai morreu. sim, acabei de saber, nesse minuto. estou aqui no ônibus voltando para bh. ele estava internado e…

a conversa continua. ela ainda faz outras duas ligações: providências a tomar, problemas a resolver, a burocracia da morte.

de repente, em meio àquele breu refrigerado, começa a soar um verdadeiro coro polifônico de vozes sussurradas e luzes azuladas:

— oi, pai.

— liguei só pra ouvir sua voz, papai.

— a bença, meu pai.

— pai, o senhor melhorou da tosse?

— estou aqui em minas e pensei em você, pai.

esse último fui eu.

 

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a importância das chaves

na minha rua, tem um chaveiro.

quando ele sai para atender alguém, deixa o quiosque aberto, como se tivesse ido só ali na esquina, mas ainda de olho, já voltando.

as pessoas aparecem para contratá-lo, veem tudo aberto e olham em volta — ele deve estar vindo, não?

mas ninguém chega.

aí perguntam pro garçom do boteco em frente:

“cadê o chaveiro?”

“deve estar atendendo alguém.”

“mas deixou tudo assim aberto e destrancado?! o chaveiro?”

“pra senhora ver!”

as quase-clientes bufam as ventas, circundam o quiosque, batem o pé: não sabem se ficam ou se saem, se guardam o forte ou se quebram tudo. acabam sempre indo embora, frustradas. onde já se viu!?

daqui a pouco, o chaveiro volta, senta lá dentro e espera, plácido, como um mestre zen dentro do seu koan, ensinando uma lição que ninguém compreende.

 

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as oito preocupações mundanas

1. querer elogio

2. não querer crítica

3. querer prazer

4. não querer dor

5. querer vitória

6. não querer derrota

7. querer reconhecimento

8. não querer menosprezo

* * *

(fonte: carta a um amigo, de nagarjuna, estrofe 29, adaptadas levemente por mim.)

sobre zen.

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zen

alguns pensamentos esparsos sobre a prática zen.

Aqui existe o vazio

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viver sem esperança

um belo texto de charlotte joko beck, do livro sempre zen. um trecho:

Uma vida vivida sem esperança é pacífica, alegre e compadecida. Enquanto nos identificarmos com esta mente e este corpo — e todos fazem isso —esperaremos que aconteçam coisas que, em nossa opinião, tomarão conta de nosso corpo e de nossa mente. Esperamos ter sucesso. Esperamos ter saúde. Esperamos alcançar a iluminação. Há todo tipo de coisa que esperamos nos aconteça; e, evidentemente, toda forma de esperança consiste em dimensionar o passado e projetá-lo no futuro. A pessoa que já praticou o sentar, seja qual for o período que durou sua prática, sabe que não existe passado ou futuro, exceto em nossa mente. Não há nada além do si-mesmo e o si-mesmo está sempre aí, presente.

leiam o texto inteiro: sem esperança.

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simplicidade voluntária

no programa capital natural, da bandnews, falando sobre simplicidade voluntária.