Todas nós, mesmo as mais tranquilas e bem-resolvidas, estamos sempre travando batalhas internas, carregando problemas pesados, buscando conexões significativas.
Por isso, todos os dias, sempre das 17h às 19h, faço questão de estar disponível para receber quaisquer visitantes que precisem de ombros amigos, ouvidos atentos, abraços apertados.
Não é necessário ter intimidade, ser interessante. Basta vir.
Poucas coisas têm me trazido tanta satisfação quanto poder acolher as pessoas que me trazem suas histórias e seus traumas, suas dores e seus medos, suas esperanças e seus sonhos.
Quando estou com outras pessoas e ouço suas histórias com atenção plena, é como se minhas próprias preocupações mesquinhas não existissem.
De repente, percebo que se passaram várias horas, horas em que não mastiguei rejeições, não remoí desfeitas, não remendei vaidades; horas em que estive livre da ditadura do meu Eu.
Só consigo me libertar do fascismo de mim mesmo quando estou me doando.
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Em casa, minha rotina é simples: trabalhar do nascer ao pôr do sol, com intervalos para meditar, cozinhar, ler. Lá pelas cinco da tarde, cansado, meu ritmo de produção começa a diminuir.
Essa é a hora perfeita para me visitar.
Aí, quem sabe, podemos beber um chá aqui no meu apartamento, tomar um açaí na casa de suco da esquina, ver o pôr-do-sol no Arpoador.
Minhas informações de contato atualizadas estão sempre na minha página de contato.
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Quase todo dia tem aparecido pessoas diferentes, trazendo novas histórias de vida.
Sou um privilegiado de passar o dia inteiro fazendo aquilo que amo e ainda conhecer pessoas incríveis todos os dias.
Obrigado.
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Um comentário que escuto com alguma frequência:
“Ai, Alex, não é muito carente implorar assim pra receber visitas?”
As visitas não são pra suprir as minhas carências: essas eu resolvo com minha esposa, com minhas cachorras, com minhas amigas.
As visitas são um serviço que eu presto, tanto como artista ao público que me consome (uma artista deve estar disponível ao seu público), como quanto irmão ordenado no zen-budismo a qualquer pessoa que precise de ajuda ou de acolhimento, de ouvidos carinhosos ou de abraços apertados.
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Uma outra dúvida que surge:
“Alex, como você aguenta receber visitas de pessoas desconhecidas? E se elas forem chatas, tediosas, pentelhas?”
A chatice que enxergamos na outra pessoa é a nossa própria.
Nenhuma pessoa pode ser mais desinteressante do que aquela que não está interessada nas outras à sua volta.
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Filmes e livros podem ser interessantes ou desinteressantes.
Já uma pessoa é um universo de questões e entranhas, traumas e braços, sonhos e pêlos.
Ela não é nem interessante nem desinteressante, pois não está lá para me entreter, me divertir, me empolgar.
(Ou seja, não é uma relação de consumo, onde ela é o produto e eu sou o consumidor.)
A outra pessoa só é.
Ela está ali, em busca de conexão humana significativa (como todas nós), e a única questão realmente importante é se vou me fechar ou interagir, bloqueá-la ou acolhê-la.
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Vivi 48 anos cercado por pessoas e ainda não encontrei essa tal mítica pessoa chata, desinteressante, tediosa.
Existem várias pessoas que, por questões de compatibilidade, eu não gostaria de conviver por longos períodos, mas nunca encontrei ninguém cujo convívio fosse insuportável, desagradável ou mesmo tedioso por curtos intervalos — digamos, duas, três horas.
Como alguém pode ser desinteressante por três horas?
Ao final das três horas, a pessoa ainda é um mistério quase tão grande quanto no começo: um universo ainda praticamente inexplorado e desconhecido de planos e ressentimentos, alegrias e ciúmes; uma fonte ainda inesgotada, talvez inesgotável, de histórias e amores, fofocas e ódios.
Há tanta coisa a ser descoberta, a ser dita, a ser ouvida, que me parece inconcebível eu me sentir entediada.
Se estou entediada, isso revela não que a outra pessoa é desinteressante, mas sim a minha falta de interesse por ela.
E o que pode ser tedioso, chato, pentelho do que uma pessoa como essa, interessada apenas em si mesma?
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O primeiro Exercício de Atenção é praticar um olhar generoso.