Só faz sentido escrever sobre Prisões porque as pessoas estão presas.
Um comentário que recebi hoje:
“Alex, tem um aspecto que sempre vejo você desconsiderando nas suas análises, que é o complexo e o medo da rejeição. Não é próprio da sua experiência, não é da sua personalidade, mas é um fator com um peso gigante na vida das pessoas mais inseguras. Eu diria que metade dos adolescentes sofrem primordialmente por isso (eu) enquanto a outra metade se sente no topo do mundo nesta fase (você?). Junto com o aspecto identitário que você descreveu, tem a dor de ser rejeitado pelo parceiro e pelo empregador, de não ser bom o suficiente pra ser amado/aceito/apreciado.”
Se todas as pessoas fossem bem-resolvidas como você acha que eu sou, meus textos perderiam totalmente a razão de ser.
Se eu achasse que todas as pessoas eram bem-resolvidas como você acha que eu sou, eu definitivamente estaria escrevendo outras coisas.
Afinal, pessoas livres, bem-resolvidas, no topo do mundo, etc, não estão procurando textos sobre a Prisão Trabalho, a Prisão Monogamia, etc.
Eu só escrevo sobre Prisões porque
1) eu SEI que a maioria das pessoas é aprisionada por inseguranças galopantes e
2) estou tentando ajudá-las.
Sem qualquer uma dessas duas condições, ou seja, se eu não soubesse como as pessoas são inseguras ou se eu não quisesse ajudá-las, os textos das Prisões simplesmente não fariam sentido e eu teria passado os meus últimos anos fazendo alguma outra coisa.
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Projeto As Prisões
Desde 2002, venho escrevendo sobre As Prisões, ou seja, as bolas de ferro mentais e emocionais que arrastamos pela vida: as ideias pré-concebidas, as tradições mal explicadas, os costumes sem sentido.
O que chamo de As Prisões são sempre prisões cognitivas: armadilhas mentais que construímos para nós mesmas, mentiras gigantescas que nunca questionamos, escolhas hegemônicas que ofuscam possíveis alternativas.
A Monogamia, por exemplo, é uma prisão não porque seja ruim ou desaconselhável em si, mas porque se apresenta como sendo a única opção concebível de organizar nossos relacionamentos, consignando todas as outras alternativas à imoralidade, à falta de sentimentos, ao fracasso: “relacionamento aberto não funciona, é coisa de quem não ama de verdade”.
A Felicidade é uma prisão não porque seja ruim ou desaconselhável em si, mas porque se apresenta como sendo a única opção de fim último para nossas vidas, consignando todas as outras alternativas à condição de suas coadjuvantes e dependentes: “não é que o seu fim último seja ser virtuosa, mas você quer ser virtuosa para ser feliz, logo o seu fim último é ser feliz”.
Quem está “presa” na Prisão Monogamia não é a pessoa que fez a escolha livre e consciente de viver relacionamentos monogâmicos, mas sim aquela que, por ignorar a opção de não fazer isso, por nunca ter percebido a verdadeira gama de diferentes alternativas que lhe estavam abertas, vive relacionamentos monogâmicos por default, como se essa fosse a única possibilidade concebível. Sua prisão (cognitiva) não é viver a Monogamia, mas ignorar a realidade que existe além dela.
Quem está “presa” na Prisão Felicidade não é a pessoa que fez a escolha livre e consciente de colocar sua própria felicidade individual como fim último de sua vida, mas sim aquela que, por ignorar a opção de não fazer isso, por nunca ter percebido a verdadeira gama de diferentes alternativas que lhe estavam abertas, busca sua própria felicidade por default, como se essa fosse a única possibilidade concebível. Sua prisão (cognitiva) não é buscar a Felicidade, mas ignorar a realidade que existe além dela.
Cada uma das Prisões, da Verdade à Religião, do Dinheiro ao Trabalho, é sempre, antes de mais nada, uma prisão cognitiva, uma percepção incompleta da realidade. Por trás de todas as Prisões está sempre a mesma inimiga: a ignorância. (O Livro das Prisões será publicado pela Rocco em breve.)
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O encontro As Prisões: Práticas de Atenção
O encontro As Prisões: Práticas de Atenção é uma instalação artística, indefinível e improvisada, onde exploramos os limites e as possibilidades de nossa atenção, de nossa generosidade, de nosso cuidado. Um espaço de prática, sempre imprevisível, onde pessoas se juntam e se chacoalham, compartilham vivências e trocam histórias e, no processo, criam novos tipos de interação. Um evento que só pode ser presencial, pois foi criado para só poder ser presencial, justamente para fazermos aquilo que é impossível de ser feito através de textos.
Foi nesses mais de cem encontros, realizados desde 2013 nas cinco regiões do Brasil, no contato energizante e polifônico com milhares de pessoas, que as práticas de atenção foram sendo lentamente criadas e aprimoradas e são, até hoje, praticadas.
Tudo o que faço é sempre fundamentalmente gratuito, e os encontros não seriam a exceção. Existe um preço sugerido mas paga quem quer, o quanto quiser. Hoje, eu literalmente vivo da generosidade alheia: graças às pessoas mecenas, que me sustentam com suas contribuições, não preciso ganhar a vida. Então, o mínimo que posso fazer com essa vida que me foi dada ganha é passar adiante a generosidade: promovo esses encontros como um serviço para as pessoas que precisam dele.
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Imersão “As Prisões: Práticas de Atenção”
Fins de semana, de sexta, às 18h, a domingo, às 17h.
Sudeste 18-20jan2019 — Areias, SP (de $400 por $250 até 15nov)
Nordeste 1-3fev2019 — Taíba, CE (de $400 por $150 até 15out)
Para saber mais e se inscrever: