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Pequeno conto de metaterror

E eu pensei que aquilo, de algum modo, poderia dar um bom argumento de história de terror.

Eram umas três e quinze quando liguei para Gláucia. Ela atendeu meio grogue, alô?, hã?, quem é? Respondi: sou eu, Alex, te acordei? Sim, tava tirando um cochilo, o remédio me derrubou. Bem, são três e quinze, eu liguei mesmo só pra saber se você tinha melhorado, se estava bem. Estou, estou sim, já melhorei, só estou com soooono!, e bocejou. Achei melhor deixá-la dormir e disse: então tá, era só isso que eu queria saber, vai cochilar, a gente se fala direito mais tarde.

Na verdade, só de ouvi-la bocejar também peguei sono e decidi me deitar um pouquinho. Quando acordei, já noite alta, tinha uma mensagem piscando na minha secretária eletrônica. Oi Alex, aqui é a Gláucia, são oito da noite. Você me ligou hoje à tarde? Lá pelas três e quinze? Eu tava tão sonada que nem me lembro. Acho que sonhei que você tinha me ligado. Foi você mesmo ou foi delírio da febre? De qualquer modo, estou ok. Depois me liga.

E eu pensei que aquilo, de algum modo, poderia dar um bom argumento de história de terror. Imagina se ela acorda assim, sem saber se falou comigo ou não, deixa esse recado na secretária eletrônica, e depois descobre: sinto muito, Gláucia, ninguém te contou?, o Alex faleceu, ninguém entendeu nada, tudo tão súbito, teve um piripaque e caiu com a cara na sopa. Às três e quinze, nunca vou esquecer, meu filhinho! Oh, mas eu falei com ele hoje às três e quinze. Será que foi mesmo sonho? Ou será que há mais coisas entre o céu e a terra do que desconfia nossa vã filosofia?

Ri comigo mesmo e liguei pra ela pra contar a historinha. Gláucia era tão mórbida quanto eu, iria achar a maior graça. Ninguém atendeu em sua casa, caiu direto na sua secretária eletrônica, uma gravação estranha, com a voz do seu irmão: a família deseja agradecer a todos pelas manifestações de apoio. Desculpem não atendermos o telefone, ainda estamos em choque. A Gláucia teve uma piora súbita da febre, foi internada e acabou falecendo de infecção generalizada hoje à tarde, às três e quinze. O velório será etc. Por favor, não mandem flores.

Coloquei o telefone no gancho horrorizado, ainda tentando digerir aquilo tudo, poderia ser verdade? Gláucia, morta? E antes que eu pudesse fazer qualquer coisa, o telefone voltou a tocar, dei mais dois passos para trás, não queria falar com ninguém, mas minha mãe entrou no quarto e atendeu:

Alô, é a mãe dele. Obrigada. Sim, hoje à tarde. Às três e quinze. Não sabemos. Os médicos não conseguiram explicar o que houve. Só sei que perdi meu filho! Meu pobre Alex!

Etc ad eternum ad nauseum para sempre.

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Imersão do Sudeste com desconto

A imersão As Prisões: Exercícios de Atenção do Sudeste está saindo com desconto até quarta-feira de cinzas: de R$300 por R$250.

O evento acontece em local paradisíaco: a Pousada da Fazenda Sítio Velho, em Areias, SP, bem no meio do caminho entre as cidades do Rio de Janeiro e São Paulo.

(Além disso, é a melhor comida de todos os tempos: espero o ano inteiro para voltar pra lá.)

Abaixo, algumas dúvidas que surgem:

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Não posso pagar tudo de uma vez, e agora?

O valor do evento em si dá pra parcelar pelo PagSeguro. O valor da hospedagem e alimentação é metade agora e a outra metade só no dia.

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Não tenho dinheiro, e agora?

Não posso fazer caridade com o bolso dos outros, então, você vai ter que pagar a hospedagem e a alimentação. Mas pode não pagar a minha parte, se quiser. Fala comigo.

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Não tenho como chegar lá, e agora?

Em todas as imersões, nunca ninguém deixou de ir por falta de transporte. Sempre temos muitas pessoas-com-carro, e elas sempre conseguem trazer todas as pessoas-sem-carro. Pode ficar tranquila.

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Moro longe e vou ter que pegar avião, e agora?

Basta você chegar no Rio ou SP até sexta feira de manhã, e a gente te arruma uma carona fácil. Marque see voo/ônibus de saída para a noite de domingo, ou manhã de segunda.

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Para se inscrever e saber mais, visite minha página de encontros.

2 respostas em “Pequeno conto de metaterror”

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