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“Escritor” e outros rótulos vazios

Eu não sou o que digo que sou. Eu sou o que eu faço.

Alguém me perguntou:

“Alex, você é budista?”

Sou? Não sou? O quê sou?

(Ah, saiu meu novo curso online Introdução à Grande Conversa: Um passeio pela história do ocidente através da literatura. Clique no link pra saber mais e me diga o que você acha.)

* * *

Fui vegetariano entre os 19 e os 21 e parei, entre outras coisas, porque causava uma enorme tensão em todas as pessoas que visitava. (“Meu Deus, o que preparar para ele?”)

Agora, quando me perguntam se sou vegetariano, respondo que sou como-o-que-me-der-na-telha-ano.

Hoje, por acaso, 18 de janeiro de 2018, não estou a fim de comer bicho morto. Em vários ontens das últimas décadas, comi. Nos vários amanhãs que ainda me restam, quem sabe o que vou comer?

Se calhar de ficar o resto da vida sem querer comer carne, um dia após o outro, continuarei ainda assim como-o-que-me-der-na-telha-ano.

Porque, nesse ponto da minha vida, com certeza me reservo o direito de comer o que me der na telha, sem me restringir por rótulos ou conceitos.

* * *

Às vezes, me perguntam se sou fumante.

Como responder? Como definir? O que é ser fumante? É uma categoria ontológica? Existencial? Política?

Pra mim, fumar com certeza é uma das cinco coisas mais deliciosas da vida.

(Então, quer dizer que sou fumante?)

No ano de 2017, fumei exatamente cinco charutos.

(Então, quer dizer que não sou fumante?)

Pra facilitar, se a pergunta é “você é fumante?”, respondo “não”, porque com certeza não me sinto contemplado por esse rótulo “fumante”.

* * *

Não vamos nem falar dos rótulos sexuais.

Se sempre senti tesão por homens mas nunca fiz nada com nenhum… sou gay?

Se nunca senti tesão por homens, mas já chupei vários paus porque minha namorada sentia tesão de ver essa cena… sou gay?

O problema desses rótulos é que só fazem sentido superficialmente. Se começamos a pensar, quase todos se desfazem.

(Veja meu texto: Sexo, o que é, como definir.)

* * *

Enfim, a resposta é não, não sou budista.

Mas também não acho que deixe de ser.

Afinal, tudo é contingente, como diria Nagarjuna — certamente outro chato que também não diria ser budista apesar de claramente praticar o budismo.

Somos o que fazemos.

(A prática de atenção, Escolher agir com cuidado, do meu livro Atenção., é sobre isso.)

* * *

O único rótulo que ainda aplico a mim mesmo é “escritor”, por duas imensas vantagens.

1) É 100% auto-outorgado: não depende de diploma, projeto de lei, qualificação, sindicato, órgão de classe. Basta dizer que sou e pronto.

(Igualmente, pelos mesmos motivos, qualquer pessoa pode dizer que não sou e, também, pronto. Tenho tanto direito de me dizer escritor quanto qualquer pessoa de dizer que não sou.)

2) De todos os rótulos possíveis e imaginários que poderia usar a meu respeito (divorciado, escorpiano, gaúcho, engenheiro, brocha, etc), é o menos revelador.

Se digo que sou engenheiro, você já sabe que tenho uma mente de Exatas, que fiz curso superior, que tenho CREA, e que (provavelmente) estou na classe alta e tenho tendências políticas mais para a direita.

Se digo que sou sociólogo, você já sabe que fiz curso superior e que (provavelmente) tenho tendências políticas mais para a esquerda.

Mas, quando digo que sou escritor, você não pode concluir praticamente nada sobre mim.

Existem muitas e muitas pessoas escritoras publicadas e não-publicadas, ricas e pobres, de esquerda e de direita, que escrevem sobre Youtube ou sobre física quântica, etc e etc.

De todas as opções de possíveis auto-rótulos abertas para mim, é o que menos comunica e menos revela, mais sugere e mais possibilita.

Definir é matar, sugerir é criar.

(Falo um pouco sobre isso na primeira prática do meu livro Atenção.)

* * *

Pós-escrito

Eu teria feito uma remessa dos meus livros na quarta, mas não fiz por motivo de “vendeu muito, acabaram os envelopes”. Então, pedi mais envelopes pela internet e estou esperando chegar.  (A nova remessa deve ser na quarta, 10 de junho.)

Ou seja, enquanto isso, por favor, continuem comprando: Atenção. & A autobiografia do poeta-escravo

(A Autobiografia já está acabando. Não sei se vai ter mais. A editora teria que reimprimir, aquelas dificuldades, ainda mais na pandemia. Então, garanta o seu.)

* * *

“Escritor” e outros rótulos vazios é um texto no site do Alex Castro, publicado no dia 5 de junho de 2020, disponível na URL: alexcastro.com.br/rotulos-vazios // Se gostou, repasse para as pessoas amigas ou me siga nas redes sociais: Newsletter, Instagram, Facebook, Twitter, Goodreads. Esse, e todos os meus textos, só foram escritos graças à generosidade das pessoas mecenas. Se gostou muito, considere contribuir: alexcastro.com.br/mecenato

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