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“as prisões”: bibliografia

todas as obras citadas durante a palestra “as prisões”. boas leituras.

abaixo, a lista de todas as obras citadas durante a palestra “as prisões”. boas leituras.

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introdução

a frase sobre o objetivo da prática budista ser virar sua vida de cabeça para baixo está em “not for happiness: a guide to the so-called preliminary practices” (2012), de dzongsar jamyang khyentse. esse livro é bastante avançado. para quem está começando a se interessar em budismo, recomendo, do mesmo autor, “o que faz você ser budista”, publicado no brasil pela pensamento em 2008.

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verdade

a frase “penso, logo existo” está no “discurso do método” (1637), de rené descartes, um livro essencial, importantíssimo e muito acessível. (baixe e leia em português.)

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dinheiro

o seu tempo “livre” é livre mesmo ou é só o tempo que seu empregador te dá para você poder trabalhar mais?

o ensaio “tempo livre” (“free time”, publicado postumamente pela primeira vez em 1977), do filósofo alemão theodor adorno, pode ser encontrado no livro “indústria cultural e sociedade”, publicado pela paz e terra em 2009. (leia em português ou em inglês.)

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o tempo, como entendemos hoje, não existe desde sempre e também é uma criação humana: para controlar nossos lanches e idas ao banheiro.

o ensaio “tempo, disciplina de trabalho e o capitalismo industrial” (“time, work-discipline, and industrial capitalism”, 1967), do historiador britânico e. p. thompson, pode ser encontrado no livro “costumes em comum”, publicado pela cia das letras em 1998. (um fichamento em português ou leia em inglês.)

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quanto menos tempo você tem, mais dinheiro vai gastar. não é coincidência.

o artigo “o seu estilo de vida já foi projetado” (“your lifestyle has already been designed” 2010), de david cain(em português & em inglês.)

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privilégio

o privilégio está em ser visto. em existir. em não ser invisível. umllivro que mudou minha vida e meu modo de ver.

“homens invisiveis, relatos de humilhação social”, de fernando braga da costa, publicado pela editora globo em 2004.

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toda a obra de górki consegue a façanha de expor o horror da dominação econômica e da pobreza, com enorme vigor e gigantesca empatia, nunca romanceando nem bestializando os pobres.

sua obra-prima é “a trilogia autobiográfica”, lançada pela cosac naify em 2007. a peça “ralé” (1901) também é excepcional.

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um primeiríssimo passo para quem quer sair da sua bolha de privilégio e saber mais como a pobreza no brasil.

“a ralé brasileira: quem é e como vive”, de jessé souza, publicado pela editora da ufmg em 2009.

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também recomendo os contos de turgeniev sobre os servos da rússia. acho que nunca foi lançado no brasil. tem uma edição portuguesa com o título “cadernos de um caçador”, da relógio d’água. talvez a tradução mais fácil de encontrar seja da penguin, com o título “sketches from a hunter’s album”.

um dos grandes autores de todos os tempos, em seu primeiro livro. ainda cheio de falhas mas cheio de vigor e empatia. eu prefiro o livro falhado e vigoroso da juventude de um grande autor às suas obras mais técnicas, mais frias, mais perfeitinhas da maturidade.

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sexismo

“problemas de gênero: feminismo e subversão da identidade” (1990), de judith butler, publicado no brasil em 2010 pela civilização brasileira.

pode ser um pouco árido, para quem não está acostumado à leitura acadêmica, mas vale a pena.

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o ainda invicto e indispensável “o segundo sexo” (1949), de simone de beauvoir. (baixe em português.)

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“as virtudes de medo”, de gavin de becker, publicado pela rocco em 1999. para quem quiser, tenho o pdf da edição em inglês.

um dos livros mais importantes da minha vida. com certeza, o livro que mais presenteei: já pra mais de doze vezes. esse livro salva vidas.

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racismo

“the racial contract” (1997), de charles w. mills. (sobre o livro.)

um livro que pensa o racismo de formas realmente radicais e originais. importantíssimo.

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“racismo à brasileira: uma nova perspectiva sociológica” (2003), de edward telles, publicado pela relume-dumará.

para entender os números do racismo no brasil, sem precisar depender da evidência anedótica do seu amigo negro que adooooora ser chamado de “tição”.

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monogamia

livros “sem tesão não há solução” (1987) e “ame e dê vexame” (1990), ambos de roberto freire(baixe em português: “ame” & “tesão“) 

dois livros poderosos, importantes, humanos, belíssimos. das coisas mais lindas que já se escreveu no brasil.

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religião

“o futuro de uma ilusão” (1927), de sigmund freud, publicado pela l&pm. (baixe em português.)

freud-o-psicanalista já foi superado faz tempo. freud-o-cientista social, de totem e tabu, moisés e monoteísmo, o futuro de uma ilusão & o mal-estar da civilização, sempre será um prazer de ler, em todas as épocas. aqui, ele dispara suas armas mais pesadas contra a religião.

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“o existencialismo é um humanismo” (1946), de jean-paul sartre. (baixe em português.)

um dos textos mais belos, mais humanos, mais abertos que já li. incrível imaginar um texto desses sendo escrito em 1946, em um país recém-liberado, em um continente que acabara de enfrentar a pior guerra de todos os tempos. na verdade, quem sabe, esse texto só poderia ser escrito nesse contexto.

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“porque não sou cristão” (1927), de bertrand russell. (baixe em português.)

boas razões.

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“da natureza”, de lucrécio. (em português de portugal antigo ou em inglês.)

esse texto revolucionário, escrito na roma antiga, manteve o epicurismo vivo e, ao ser redescoberto no final da idade média, praticamente inaugurou o renascimento. é fascinante ler um texto tão antigo e, ao mesmo tempo, tão próximo, tão moderno. sua defesa da descrença em um poder sobrenatural é linda, belíssima.

em 2012, stephen greenblatt venceu o pulitzer com um livro sobre o impacto da redescoberta de lucrécio: “a virada, o nascimento do mundo moderno”, publicado no brasil pela cia das letras.

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todos os fragmentos de epicuro. epicuro não é quem você pensa que ele é.

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minha definição de ideologia vem de althusser, em “aparelhos ideológicos de estado” (baixe em português):

a ideologia é a relação imaginária dos indivíduos com suas condições reais de existência, gerando assim uma representação distorcida da realidade. ou seja, o conjunto de ideias, saberes, preconceitos, etc, que permite que as pessoas se relacionem com e façam sentido da realidade: são as lentes através das quais percebem o mundo.

também gosto da definição de barbara fields:

“a ideologia é melhor compreendida como um vocabulário descrito da vida cotidiana, necessário para que as pessoas possam conferir um sentido básico à realidade social, vivida e criada por elas a cada dia. é a linguagem da consciência que possibilita a relação específica entre pessoas. É a interpretação em pensamento das relações sociais através da qual elas constantemente produzem e reproduzem o seu ser coletivo em todas as suas mais diversas formas: família, clã, tribo, nação, classe, partido, empreendimento, igreja, exército, associação, etc. deste modo, as ideologias não são ilusões, mas sim reais, tão reais quanto as relações sociais pelas quais elas se mantém.”

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patriotismo

o patriotismo é a ilusão construída de que um amazonense tem mais em comum com um gaúcho do que um uruguaio e que, em caso de conflito, vale a pena vestir um uniforminho e morrer para defender essa construção abstrata.

o pensador que melhor explica como fomos convencidos disso é benedict anderson, em “comunidades imaginadas, reflexões sobre a origem e a difusão do nacionalismo”, publicado pela cia das letras, em 2008, em excelente tradução da ótima denise bottman.

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respeito

o diálogo de thoreau com emerson está em “desobediência civil” (1849), de thoreau. também recomendo “walden” (1854), do mesmo autor. thoreau é um dos grandes inspiradores das prisões. (baixe “desobediência” & “walden“, em português.)

 

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os outros

a frase “o inferno são os outros” é da peça “entre quatro paredes” (1944), de sartre, às vezes também encenada no brasil com o título original “huis clos”. (baixe em português.)

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livro “teoria da classe ociosa” (“theory of the leisure class”, 1899), do economista norte-americano thorstein veblen. (leia em inglês, em português ou outra versão em português.)

sobre as dinâmicas sociais que fazem com que nos importemos tanto com a opinião dos outros. um livro imbatível e hilário. em inglês, existem diversas edições e está em domínio público na internet. em português, pode ser encontrado na coleção “os pensadores”, figurinha fácil em qualquer biblioteca.

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felicidade

sobre a obrigação de ser feliz, recomendo (com muitas ressalvas) “perpetual euphoria: on the duty to be happy”, do filósofo francês pascal bruckner, publicado em inglês no ano de 2011 pela universidade de princeton.

bruckner é bastante conservador e comete alguns horrores de vez em quando, mas vale a pena. do mesmo bruckner, também recomendo, com as mesmas ressalvas, “the tears of the white man: compassion as contempt” (1986) e “the tyranny of guilt” (2010).

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a frase de tchecov sobre o homem e o martelo está na história “gooseberries”. ela já deve ter sido traduzida para o português, mas não consegui localizar. (leia uma tradução inglesa.)

tchecov é meu autor de ficção preferido e recomendo todos os seus contos, em especial as traduções para o português feitas por bóris chnaidermann e publicadas recentemente pela editora 34.

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narcissimo

sobre como lidar com pais e mães narcissistas, o site que salva vidas é daughters of narcissistic mothers“.

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o narcissismo é o assunto principal do pensador vivo que atualmente mais respeito, a pessoa que se assina “the last psychiatrist“.

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sobre a epidemia de narcissismo na nossa sociedade, recomendo “the narcissism epidemic: living in the age of entitlement” (2009), de jean m. twenge e w. keith campbell.

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sobre empatia, recomendo o discurso de formatura “this is water”, dado por david foster wallace em kenyon college em, 2005. (leia em inglês ou em português.)

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de modo geral, recomendo a obra de henry miller, especialmente a trilogia “trópico de câncer” (1934), “primavera negra” (1936) & “trópico de capricórnio” (1939). em vários momentos, os livros são terrivelmente sexistas e conservadores, mas tenham paciência com o velho henry: os tempos eram outros.

também indispensável é a coleção de poemas de walt whitman, “folhas de relva”.

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tem um mundo de recomendações de leitura aí para vocês. espero que seja útil.

para saber mais quando serão minhas próximas palestras, é só conferir sempre essa página: alexcastro.com.br/palestras