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Toda poesia é oral

Poesia não é conteúdo: poesia é forma, poesia é voz. (Guia de leitura para o curso Introdução à Grande Conversa)

Não tenho como exagerar a importância de ler poesia em voz alta.

A poesia é um meio eminentemente oral: o som das palavras, a cadência, o ritmo, é tão importante quanto o conteúdo do texto.

Por isso, recomendo que toda pessoa, ao ler poesia, leia em voz alta para si mesma.

Ainda que leia mal (e é obvio que todo mundo lê tecnicamente mal porque não somos locutoras profissionais), ela vai estabelecer uma relação mais próxima e mais amorosa com o som das palavras do texto, vai sentir melhor o ritmo e a cadência, vai inclusive conseguir extrair sentido de frases que, silenciosamente na página, pareciam confusas.

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Uma enorme ajuda para própria leitura em voz alta é ouvir alguma boa narradora profissional lendo o mesmo texto, pois ela nos dará dicas de como ler, como respirar, onde pausar, onde acelerar, etc. Às vezes, basta ouvir uma boa narradora por somente alguns minutos, para virarmos uma chave em nosso ouvido e conseguirmos, então, ler sozinhas o texto em voz alta com muito mais qualidade.

Mas só funciona se for um livro bem narrado, desses que ouvimos e nos sentimos imediatamente transportadas para dentro do texto.

No curso Introdução à Grande Conversa, vamos ler quatro poesias longas, que estão entre as obras mais importantes da humanidade:

A Ilíada, hoje em dia, poucas pessoas brasileiras conseguem ler no original. Mas, das outras três, uma está na nossa língua, Os Lusíadas, e as outras duas, não por acaso, estão nas duas línguas mais prováveis de uma pessoa brasileira falar: Paraíso Perdido, em inglês, e Martín Fierro, em espanhol.

Os Lusíadas, infelizmente, não tem audiobook, porque, como sempre digo, o mercado editorial lusófono é uma tristeza. Mas existem mil excelentes audiolivros de Paraíso Perdido e Martín Fierro.

(Meu áudiolivro preferido de Paraíso Perdido está disponível gratuitamente pela Audible.)

Iniciativas como LibriVox, ou livros narrados por robôs, são socialmente importantíssimas, porque infelizmente nem todo mundo consegue ler: dos nossos dez autores, quatro eram cegos ou quase cegos. (Morro de medo de entrar nesse grupo.)

Entretanto, uma narração amadora do Librivox, um ato voluntário e valiossíssimo de amor e de altruísmo, que pode ser a diferença entre uma pessoa cega ter acesso ou não a Paraíso Perdido, não é a mesma coisa que um audiolivro, narrado por um ator profissional, dirigida por um diretor profissional, gravada em estúdio profissional, com valor de produção profissional.

As iniciativas amadoras tem um enorme valor, mas não dá pra comparar a qualidade de um audiolivro amador e de um profissional.

A Audible, melhor produtora de audiolivros do mundo, tem vários gratuitos aqui, inclusive de Paraíso Perdido e Os miseráveis. (Quase todos em inglês, sinto muito, mas alguns também em português.)

Mesmo quem não fala inglês e espanhol pode e deve acompanhar a leitura ouvindo um bom audiolivro, nem que apenas para absorver o som, o ritmo, a cadência.

É fundamental. Sem isso, não tem poesia.

Poesia não é conteúdo: poesia é forma.

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Então, para as obras de poesia que leremos, minhas recomendações são:

1) ler em voz alta;

2) ouvir simultaneamente (ou pelo menos alguns minutos) de um bom audiolivro profissional.

O que não recomendo é:

1) ouvir audiolivro amador, mal narrado, robótico;

2) ler silenciosamente.

Falo mais sobre isso aqui: Ler em voz alta

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Esse texto faz parte dos guias de leitura para a primeira e segunda aulas do meu curso Introdução à Grande Conversa: um passeio pela história do ocidente através da literatura. Esses guias são escritos especialmente para as pessoas alunas, para responder suas dúvidas e ajudar em suas leituras. Entretanto, como acredito que o conhecimento deve ser sempre aberto e que esses textos podem ajudar outras pessoas, também faço questão de também publicá-los aqui no site. Todos os guias de leitura da primeira aula estão aqui. O curso começou no dia 2 de julho de 2020 — quem se inscrever depois dessa data terá acesso aos vídeos das aulas anteriores.

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Toda poesia é oral é um texto no site do Alex Castro, publicado no dia 17 de julho de 2020, disponível na URL: alexcastro.com.br/poesia-oral // Se gostou, repasse para as pessoas amigas ou me siga nas redes sociais: Newsletter, Instagram, Facebook, Twitter, Goodreads. Esse, e todos os meus textos, só foram escritos graças à generosidade das pessoas mecenas. Se gostou muito, considere contribuir: alexcastro.com.br/mecenato

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