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Pessoas que nos olham

Que privilégio ser olhado com tanto amor, nem que apenas por uma estranha, por um engano, por um segundo.

Hoje, no metrô lotado. Em pé, ao meu lado, um casal. Conversam se olhando nos olhos, sorrindo, se abraçando. Ela conserta sua gola, a gola entorta, ela conserta de novo.

Na muvuca do desembarque, todo mundo empurrando todo mundo, se separam.

De repente, já na plataforma, ela olha para o lado, esperando vê-lo.

Não foi um super olhar. Não foi um olhar mega romântico. Não foi nada de mais.

Foi apenas um olhar rápido de quem olha para o lado esperando ver a pessoa amada, a pessoa com quem escolheu passar a vida, a pessoa que estava colada no seu corpo até dez segundos antes.

Mas quem estava ao seu lado era eu.

Não foi um olhar de horror. Não foi um olhar de desprezo. Não foi nada de mais.

Foi apenas um rosto humano, transicionando rapidamente entre o olhar que damos para a pessoa que amamos e o olhar que damos para pessoas aleatórias com quem cruzamos os olhos na plataforma do metrô.

Ainda assim, que privilégio ser olhado com tanto amor, nem que apenas por uma estranha, por um engano, por um segundo.

O problema de quem não nos ama mais é que, sem esse olhar nos olhos, mal conseguimos reconhecê-las: parecem mesmo outras pessoas.

* * *

(Um beijo na minha namorada, que me olha das maneiras mais lindas que uma pessoa pode olhar uma outra.)

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