A filha de uma de minhas melhores amigas iria fazer aniversário e, por isso, perguntei a outra amiga:
“Eu não entendo nada de criança. Tem problema se eu der um vale-presente?”
E a amiga colocou uma mão carinhosa em meu ombro e respondeu:
“Imagina. Vindo de você, não tem problema nenhum!”
Mas esqueci de dar o vale-presente.
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Ser artista é sofrer em público para o benefício das outras pessoas e se abrir ao seu julgamento — às vezes impiedoso, muitas vezes surpreendentemente generoso.
Se perguntamos a uma turma de jardim de infância, quem é artista, todos os braços se levantam. Ao longo dos anos, os braços vão minguando. Lá pela sexta série, as autodeclaradas artistas são apenas uma ou duas, levantando o braço de maneira bem hesitante, olhando em volta, temendo o julgamento de seus pares, não querendo nunca se tornar as esquisitas da turma.
Mas ocupar esse lugar da pessoa excêntrica e fora-do-padrão, pode ser salvador: ele nos permite transgredir as regras com uma liberdade que teria custado socialmente muito caro às outras pessoas.
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Cultivar uma reputação de excentricidade foi uma das melhores coisas que fiz por mim mesmo.
Na adolescência, o peso das regras de conformidade social da minha escola teria me esmagado. Ser excêntrico, ser artista, ser esquisitão, salvou minha vida e minha sanidade.
Continua salvando até hoje.