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Os Favoritos de Alex Castro

Entrevista concedida a Simone Magno, para o Tempo de Letras, da Rábio CBN, em 28 de junho de 2010.

O quadro desta semana é com o escritor carioca Alex Castro, radicado em Nova Orleans, que no momento percorre Macau e Timor Leste em busca da literatura em língua portuguesa fora de Portugal e Brasil, para uma série de ensaios. Ele é autor de Mulher de um homem só.

TL – Qual o primeiro livro que marcou sua vida?

AC – O pequeno Nicolau, escrito por Goscinny e ilustrado por Sempé, em uma edição da Artenova, capa cinza, grosso. Eu tinha sete anos e era meu primeiro livro de texto corrido, em formato normal, com fonte pequena, parágrafos atrás de parágrafos. O primeiro livro que sabia que eu era criança, que sabia que eu tinha preocupações de criança, mas que, ainda assim, não me tratava como criança. O primeiro livro que me fez sentir… adulto. Toda minha vida literária, toda minha carreira de leitor, começou com O pequeno Nicolau.

TL – Qual o livro que mais mexeu com você?

AC – Gosto muito de escrever em livros, sublinhar, marcar, e tenho a seguinte teoria: o livro que você não marca é porque não te marcou. Então, mudando a metáfora, eu diria que o livro que mais mexeu comigo seria o livro no qual eu mais quis mexer, intervir, interferir. Em 2004, Fernando Braga da Costa, doutor em Psicologia, publicou Homens invisíveis: Retratos de uma humilhação social, sobre seus dias de trabalho voluntário entre os garis da USP. As histórias vividas pelo Fernando e por seus colegas, histórias de vergonha, humilhação, invisibilidade, me marcaram profundamente e foram a inspiração primordial para o romance que estou escrevendo agora, Cria da casa: Histórias de empregadas & escravos. Meu livro nada mais é do que eu mexendo e interferindo nesse livro que tanto mexeu comigo, levando-o para uma plataforma ficcional e tentando descobrir o que vai acontecer.

TL – O que você está lendo agora?

AC – Confesso: amo literatura, mas não tenho nenhum amor pelo suporte livro. Nesse momento, estou viajando pela Ásia e, pela primeira vez, levando meu Kindle, sem precisar carregar uma mala de livros nas costas! Estou adorando a possibilidade de, ao mesmo tempo, dispor de tantos livros e não carregar tanto peso. O Kindle é perfeito tanto para ler livros novíssimos que acabaram de sair como para ler livros de domínio público, que encontro de graça pela internet. Então, acabei de ler o monólogo-desabafo final de Molly Bloom, em Ulisses, de Joyce, para um projeto atual. Também li duas versões diferentes, em prosa e em poesia, do segundo canto da Eneida, de Virgílio, para um futuro romance que estou planejando, comparando a decisão de um carioca de sair do Rio de Janeiro, com Enéias dividido entre fugir de Tróia ou ficar e lutar até a morte. A Eneida é meio tediosa, mas o segundo canto é simplesmente magistral. E, por fim, no campo dos livros recentes, depois desses dois clássicos, comecei a ler 2666, do Roberto Bolaño, meu primeiro livro desse autor, que me chegou altamente recomendado, e simplesmente não consigo parar de ler, é enorme, delicioso, colossal. A primeira parte, sobre os acadêmicos europeus obcecados por um autor alemão, tem muito a ver com minhas experiências estudando literatura latino-americana nos Estados Unidos.

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