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O Uber, a exploração, o livre-arbítrio

Devemos usar o Uber? As motoristas do Uber estão sendo exploradas? Temos efetivamente livre-arbítrio?

Devemos usar o Uber? As motoristas do Uber estão sendo exploradas? Temos efetivamente livre-arbítrio?

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Sim, o Uber é mais barato que táxi.

Assim como roupa feita com trabalho escravo é mais barata que roupa feita por trabalhadoras bem-pagas.

Aliás, barato por barato, ônibus é mais barato que Uber e sair mais cedo e ir a pé é o mais barato de todos e ainda economiza academia.

A questão não é o barato.

A questão é se queremos ser cúmplices.

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Inventaram o livre-arbítrio só para nos punir, disse Nietszche.

E eu acrescentaria: também para nos manipular.

Artigo do NYT, publicado em português pelo UOL, longo e elaborado, detalha todos os truques psicológicos que o Uber utiliza para manipular suas pessoas motoristas.

A premissa, naturalmente, é que as motoristas não são funcionárias: elas são colaboradoras voluntárias e autônomas que podem trabalhar na hora que quierem, onde quiserem.

Então, essa própria “liberdade” é o que justifica o Uber usar de sutis ferramentas de manipulação para que as motoristas dirijam por mais horas e nas áreas onde a companhia deseja.

Afinal, elas podem parar de dirigir a hora que quiserem, não? A liberdade é delas!

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Se, ao ler o artigo, você se sentir indignada, lembre-se do seguinte:

As técnicas que o Uber usa para manipular suas motoristas a dirigir mais são as mesmas que todas as empresas usam para manipular suas consumidoras a consumir mais.

Como as pessoas motoristas do Uber não são funcionárias e, portanto, não estão sob proteção das leis do trabalho, a única perversa novidade do Uber é utilizar essas mesmas técnicas para manipulação interna, em vez de externa.

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Caímos nesses truques porque achamos que temos o livre-arbítrio para não cair nesses truques: “eu páro a hora que eu quiser, etc”.

Talvez o mais sábio fosse reconhecermos nossa fragilidade mental diante desses truques e, sabendo disso, tentar ao máximo não nos expor a eles.

Se sei que fico com vontade de comer pizza ao ver anúncio de pizza (e fico mesmo, e muito), a melhor tática talvez seja simplesmente me expor à publicidade o mínimo possível: alcoolatra não pode ter alcool em casa.

Estou escrevendo a Prisão Liberdade, que vai tratar dessa e de outras questões similares, e com certeza vou mencionar esse artigo.

Uma resposta em “O Uber, a exploração, o livre-arbítrio”

A única e óbvia razão pelo qual qualquer pessoa usa o Uber é porque o serviço oferecido por eles é melhor do que o do táxi. Usar o Uber estimula sua ampliação e que mais e mais pessoas tenham acesso ao bom serviço. Imoral seria deliberadamente usar o serviço pior, dando crédito a quem não merece e diminuindo o acesso de quem precisa.

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