as duas classes sociais do brasil: pessoas-com-escolhas e pessoas-sem-escolhas.
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escrevo para pessoas privilegiadas sobre escolhas justamente por saber como essa palavra é carregada, renegada.
justamente por eu saber como contamos para nós mesmas uma narrativa de nossas próprias vidas como se não tivéssemos escolha de nada nunca.
justamente porque encarar nossas escolhas coloca o peso da responsabilidade de novo nos nossos ombros.
escolhemos o dia todo e, então, quando alguém nos aponta o dedo dizendo que isso está assim por escolha NOSSA, fugimos dessa palavra como o diabo foge da cruz: de repente, nada é escolha, não escolhi nada, deus me livre.
mas sim, escolher contratar plano de saude porque o SUS é um caos, escolher comprar carro porque o ônibus demora a passar… são escolhas.
porque havia outras escolhas.
lutar para melhorar o SUS e o sistema de ônibus é uma delas.
comprar carro e contratar plano de saúde, tirar o nosso da reta e lavar as mãos, é outra.
“mas que tipo de escolha é essa? uma escolha de sofia entre falsas opções?!”, perguntou uma leitora.
sim, é uma escolha de merda, causada por um sistema falho que não cumpre suas obrigações. mas como a frase mesma diz, é uma escolha.
escolhas, escolhas.
escolhas que nem todo mundo tem.
e as pessoas que TÊM escolhas ao invés de refletir sobre o seu privilégio em relação às pessoas que NÃO TÊM…
…preferem reclamar de que suas escolhas na verdade não são escolhas, que suas escolhas na verdade são escolhas entre opções ruins, etc etc, tudo, qualquer coisa….
…para não ter que encarar seu PRÓPRIO privilégio em relação às pessoas que nem mesmo TÊM como fazer essas “escolhas de merda entre opções ruins”.
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a verdadeira divisão social do brasil é entre as pessoas que têm escolhas e as que não têm.
entre a classe social das pessoas que, diante do caos do SUS ou do transporte público, possuem os MEIOS financeiros para ESCOLHER contratar plano de saúde ou comprar carro…
… e a classe social das pessoas que precisam usar o SUS e o transporte público porque não possuem os MEIOS nem para escolher as escolhas ruins das quais as pessoas privilegiadas reclamam tanto.
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essa é praticamente a definição de privilégio:
reclamar da “escolha de merda” de ter escolhido X…
(“na verdade, fui obrigada a contratar plano de saúde, né? que escolha eu tinha, de verdade? você já viu o estado das UPAS?!)
…enquanto vive cercada por uma multidão que SONHA em ter condições financeiras de poder fazer essa mesma “escolha de merda”.
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desenvolvo mais essa questão na Prisão Dinheiro e na Prisão Privilégio.