existem poucas atitudes mais vaidosas do que autorizar sua própria biografia.
são sempre pessoas públicas que já enfrentaram escândalos, ataques e polêmicas. e parecem pensar: ah, fulano me odiava porque não me conhecia; fulana fez campanha pra me destruir porque não entendeu minha mensagem. pois, acreditam, ninguém que realmente as conheça, ninguém que realmente as entenda poderia odiá-las, confrontá-las, atacá-las.
só essa certeza tão vaidosa justifica autorizar uma biografia e entregar todos seus arquivos ao escrutínio de um terceiro.
a vaidade está em acreditar que se o biógrafo ler todas as cartas, consultar todos os documentos, falar com todos os amigos, então, será impossível não amar o biografado.
a vaidade está em não perceber que ninguém está ou esteve ou estará a altura dessa presunção. que ninguém é ou foi ou será amado por todos.
que as pessoas não nos entendem e talvez nos odeiem não porque não nos conhecem direito ou porque não ouviram com cuidado nossa mensagem, e nem mesmo porque são escrotas, cretinas ou mal-intencionadas, mas sim porque são outras pessoas, que fizeram outras escolhas, que tem outras prioridades, que viveram outras vidas.