Eric Hobsbawm afirmava ter dedicado toda sua vida a um projeto que considerava fracassado, mas que nada aguçava tanto a mente do historiador quanto a derrota: afinal, quem consegue ser reflexivo enquanto está ganhando? Quem consegue aprender com suas vitórias?
A palavra “autocrítica” tem o sufixo “auto” porque é uma crítica que uma pessoa ou grupo faz a si mesma. Pedir ou exigir “auto”crítica a outrem é uma forma disfarçada e hipócrita de criticar.
Não posso fazer autocrítica do PT pois não sou nem nunca fui petista, nem pensaria jamais em exigir isso do partido e de suas pessoas apoiadoras: elas que decidam o que querem fazer de si mesmas e de seu projeto político.
Mas sou de esquerda e, já faz anos, escrevo publicamente como homem de esquerda: publiquei até um livro chamado “Outrofobia: textos militantes” e mantive um blog de mesmo nome na Revista Fórum.
Primeiro, é preciso encarar a realidade, sem dourar pílulas: nós, as pessoas que nos consideramos de esquerda, sofremos uma derrota achapante e literalmente traumática (tenho várias amigas sinceramente traumatizadas, chorando, deprimidas), a maior na minha geração.
Política não é a arte de ser o mais certo e puro e lacrador do partido derrotado, mas de chegar ao poder, por meios democráticos, para assim implementar nosso projeto de governo legitimado pelo voto popular.
Nisso, falhamos miseravelmente. Isso é fato. As urnas comprovam.
Como falhamos? Por que falhamos? Como devemos fazer de agora em diante?
Não sei. Realmente, não sei.
Mas sei que essa é a grande questão que vou estar me colocando, de mim para mim mesmo, nos próximos meses e anos.
Não sei como agirei daqui pra frente, mas com certeza mudarei o meu jeito de fazer/pensar/articular política.
Porque, claramente, não deu certo.
Uma resposta em “Levamos uma surra achapante”
“Como falhamos? Por que falhamos? Como devemos fazer de agora em diante?”
Principalmente a corrupção centrada no PT e PMDB e a economia capenga por culpa da Dilma. Se o PT reconhecesse e assumisse erros, e tentasse corrigir e acertar, talvez ainda estaria no poder. Por exemplo, a PF pegou um sujeito do PT praticando corrupção. O partido tem que chegar e dizer “esse cara está errado e vai ser expulso do partido, não é assim que gostamos de trabalhar”. Mas eles não fizeram isso nenhuma vez. Passaram a mão na cabeça dos corruptos e aumentaram o tom do “nós contra eles” quando foram pegos fazendo coisa errada. A sociedade ficou indignada com essa postura e foi em peso votar naquele que representava o contrário do PT.