para quem está muito preocupada com sua própria individualidade, em não seguir os outros, em não ser só mais uma, em decifrar seus próprios dilemas existenciais, e em toda essa infindável masturbação mental, sempre recomendo a história da boneca de sal.
era uma vez uma boneca de sal. após peregrinar por terras áridas, descobriu o mar e não conseguiu comprendê-lo. perguntou ao mar: “quem é você?”
e o mar respondeu: “sou o mar.”
“mas o que é o mar?”
e o mar respondeu: “o mar sou eu.”
“não entendo”, disse a boneca de sal, “mas gostaria muito de entender. como faço?”
o mar respondeu: “encoste em mim.”
então, a boneca de sal timidamente encostou no mar com as pontas dos dedos do pé. sentiu que começava a entender mas também sentiu que acabara de perder o pé, dissolvido na água.
“mar, o que você fez?!”
e o mar respondeu:
“eu te dei um pouco de entendimento e você me deu um pouco de você. para entender tudo, é necessário dar tudo.”
ansiosa pelo conhecimento, mas também com medo, a boneca de sal começou a entrar no mar. quanto mais entrava, e quanto mais se dissolvia, mais compreendia a enormidade do mar e da natureza, mas ainda faltava alguma coisa:
“afinal, o que é o mar?”
então, foi coberta por uma onda. em seu último momento de consciência individual, antes de diluir-se completamente na água, a boneca ainda conseguiu dizer:
“o mar… o mar sou eu!”
* * *
a história pode ter várias mensagens. uma delas é aprender a não fazer perguntas idiotas. outra, que todo conhecimento tem um custo. também outra, que a verdadeira compreensão só pode se dar de dentro. ou, melhor, que só saindo de si mesma, só através do desapego, é possível uma verdadeira compreensão do outro, do universo, de qualquer coisa.
meu texto acima foi adaptado das versões do frei leonardo boff e do padre jesuíta anthony de mello. apesar das duas fontes cristãs, a história me parece profundamente budista.
e me fez recordar a historinha abaixo.
* * *
depois de um concerto, a fã aborda a pianista e diz:
“eu daria minha vida para tocar tão bem assim.”
e ela responde, simplesmente:
“eu dei.”
Uma resposta em “a boneca de sal”
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