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Uma ótima introdução ao budismo que importa: resenha de Atenção., de Alex Castro

“Sem passado, sem futuro, sem relações externas, sem loucuras internas, ficamos com o nada. E isso é o suficiente.” Resenha de Leandro Franz.

Por Leandro Franz, no Goodreads, a 1º de abril de 2019.

“Assim como uma espada não consegue cortar sua própria lâmina, assim como um acrobata não consegue subir em seus próprios ombros, a mente não consegue enxergar-se.” Guia do caminho do Bodisatva, de Shantideva (IX, 17-18).

O livro começa desconstruindo as relações externas que temos com outras pessoas, com desconhecidos ou com amigos e família. Depois, desconstrói nossa relação com objetos e produtos que compramos, com lugares que gostamos, com imagens, sons até com os conceitos de tempo e espaço.

Aí, quando estamos já repensando diversas crenças, o livro vem e desconstrói nossos próprios pensamentos e intenções.

Por fim, quando parece restar apenas nossa própria individualidade para nos dar algum conforto, as práticas sugeridas pelo livro também lhe dão uma rasteira.

E ficamos com o nada.

Sem passado, sem futuro, sem relações externas, sem loucuras internas, sem um Eu pra analisar tudo isso, só resta a observação e o título do livro: atenção ao presente. E isso é o suficiente.

A linha filosófica é o budismo, mas o “de raiz”. Não aquele da moda, de best-sellers e gurus, da busca por autoconhecimento e autoajuda. O “budismo raiz” justamente desconstrói o que é conhecimento, desconstrói o que é ego (auto), desconstroi a busca. É o que se contenta com o nada. E isso já é o suficiente.

Resumindo, é daqueles livros ótimos de dar no amigo secreto e depois conferir, na véspera do réveillon, se o amigo perdeu a noção das certezas e promessas que imaginava para o ano novo. É daqueles presentes que bagunçam e, por isso, geram necessidade de reconstruções.

Só assim o budismo deixa de ser fleumático e se torna engajado:

“De um modo ou de outro, julgamos as outras pessoas por suas ações, mas queremos ser julgadas por nossas intenções.”

Com o perigo de impactar politicamente a cabeça de quem lê, o livro também é uma grande pesquisa bem organizada e ilustrada por parábolas que aproximam o tema, que simplificam. Por exemplo, e para finalizar, uma parábola que resume o sentimento de quem termina a leitura:

“Era uma vez uma boneca de sal. Após peregrinar por terras áridas, descobriu o mar e não conseguiu compreendê-lo. Perguntou ao mar: — Quem é você? E o mar respondeu: — Sou o mar. — Mas o que é o mar? E o mar respondeu: — O mar sou eu. — Não entendo — disse a boneca de sal —, mas gostaria muito de entender. Como faço? O mar respondeu: — Encoste em mim. Então, a boneca de sal timidamente encostou no mar com as pontas dos dedos do pé. Sentiu que começava a entender, mas também sentiu que acabara de perder o pé, dissolvido na água. — Mar, o que você fez?! E o mar respondeu: — Eu te dei um pouco de entendimento e você me deu um pouco de você. Para entender tudo, é necessário dar tudo. Ansiosa pelo conhecimento, mas também com medo, a boneca de sal começou a entrar no mar. Quanto mais entrava, e quanto mais se dissolvia, mais compreendia a enormidade do mar e da natureza, mas ainda faltava alguma coisa: — Afinal, o que é o mar? Então, foi coberta por uma onda. Em seu último momento de consciência individual, antes de diluir-se completamente na água, a boneca ainda conseguiu dizer: — O mar… o mar sou eu!”

* * *

Próximo lançamento:

Belo Horizonte, sábado, 6 de abril, às 18h, na Livraria Leitura, Shopping Boulevard.

Para saber mais sobre Atenção. e comprar:
alexcastro.com.br/atencao

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