Em julho, começo a ensinar o curso online “Introdução à Grande Conversa: um passeio pela história do ocidente através da literatura“. A primeira aula, que acontece no dia 2 de julho, será sobre o Antigo Testamento. Abaixo, a descrição da aula. Nos próximos dias, vou publicar vários textos em preparação para essa aula, produzidos especialmente para as pessoas alunas, mas, como acredito que o conhecimento deve ser público, compartilho também com todas minhas leitoras aqui no site. Para saber todos os detalhes do curso e se inscrever, clique aqui.
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Estudar a Bíblia como literatura exige um equilíbrio impossível entre duas atitudes opostas e excludentes: em primeiro lugar, é preciso esquecer que a Bíblia é a Bíblia, é preciso esquecer pastores mal-intencionados e catequismos mal-ensinados, e tentar chegar ao texto como chegamos em qualquer texto, lendo-o por si só. Por outro lado, o motivo principal de lermos a Bíblia é justamente por ela ser uma das pedras fundacionais da nossa cultura, que reverbera ao longo dos séculos, dando origem, entre outras coisas, aos pastores mal-intencionados e catequismos mal-ensinados. No fio dessa navalha, dançaremos.
Gênese é o cerne mitológico da Bíblia, fonte de um sem-fim de imagens e alegorias, lendas e maravilhas, desde Adão e Eva até a Arca de Noé, da Torre de Babel à José e seus irmãos. Samuel é um dos mais ricos livros históricos, onde habitam personagens inesquecíveis como Davi e Saul, Jônatas e Joabe, Betsabá e Urias. Jó, talvez o ponto alto da literatura bíblica, interpela corajosamente o problema do Mal. Eclesiastes, pequena jóia sapiencial, pode ser considerado o texto fundador do Existencialismo. Por fim, em Jeremias, encontramos alguns dos mais antigos gritos por justiça social da história humana.
Nos textos de apoio, três dos maiores ensaístas de todos os tempos: Erich Auerbach compara os estilos literários do Gênese e da Odisséia (na prática, dos gregos e dos israelitas); Sigmund Freud especula sobre a verdadeira identidade de Moisés; e René Girard argumenta que Jó, anti-Édipo, mudou a História ao recusar o papel de bode-expiatório.
Textos principais:
— Gênese
— Samuel
— Jó
— Eclesiastes
— Jeremias
Textos secundários:
— Êxodo
— Juízes
— Reis
— Jonas
— Isaías.
Edições:
Recomendo Bíblia do Peregrino ou Bíblia de Jerusalém, ambas da ed. Paulus. Também gosto: Pastoral (a mais marxista), Nova Tradução na Linguagem de Hoje – NTLH (linguagem acessível, mas sem notas) e Ave-Maria. Para quem lê inglês, recomendo muito a belíssima tradução da King James Bible, mas não faz sentido lê-la em retradução para o português. Evitem Bíblias que não sejam de estudo, que não tenham notas. Para quem gosta de ouvir, tem a Bíblia narrada por Cid Moreira (NTLH): o tom é meio dramático demais, e não gosto muito da música. (Um texto específico sobre diferentes traduções da Bíblia.)
Textos de apoio:
O Gênese e a Odisséia:
— “A cicatriz de Ulisses” em Mimesis: A representação da realidade na literatura ocidental, de Erich Auerbach (Perspectiva, 1998)
Jó:
— A Rota Antiga dos Homens Perversos, de René Girard (Paulus, 2009.)
Jeremias e os profetas:
— Introdução ao profetismo bíblico, de José Luis Sicre Díaz (Vozes, 2016.)
Freud, ensaísta da Religião e do Mito:
— “Moisés e o monoteísmo”, em Moisés e o monoteísmo, Compêndio de psicanálise e outros textos (1937-1939), de Sigmund Freud (trad. Paulo César de Souza, Cia das Letras, 2018.)
— “O futuro de uma ilusão” em Inibição, sintoma e angústia, O futuro de uma ilusão e outros textos (1926‑1929) (2014)
— “Totem e tabu”, em Totem e tabu, Contribuição à história do movimento psicanalítico e outros textos (1912-1914) (2012.)
Bíblia como literatura:
— Guia literário da Bíblia, de Robert Alter e Frank Kermode (Unesp, 2001.)
— Gênio, capítulo “O Javista”, de Harold Bloom (Objetiva, 2016)
— A Bíblia como literatura, de John B. Gabel e Charles B. Wheeler (Edições Loyola, 1993)
Historicidade da Bíblia:
— História política de Israel, desde as origens até Alexandre Magno, de Henri Cazelles (Paulus, 2008.)
— Introdução socioliterária à Bíblia Hebráica, de Norman Gottwald (Paulus, 2011)
— A Bíblia, uma biografia, de Karen Armstrong (Zahar, 2007)
— Bíblia, verdade e ficção, de Robin Lane Fox (Cia das Letras, 1993)
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Israelitas: monoteísmo & justiça social na Bíblia é um texto no site do Alex Castro, publicado no dia 8 de junho de 2020, disponível na URL: alexcastro.com.br/aula-1-hebreus // Se gostou, repasse para as pessoas amigas ou me siga nas redes sociais: Newsletter, Instagram, Facebook, Twitter, Goodreads. Esse, e todos os meus textos, só foram escritos graças à generosidade das pessoas mecenas. Se gostou muito, considere contribuir: alexcastro.com.br/mecenato