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voltando aos seus braços

Nesses seis anos, nunca perdemos o contato: passei sempre cinco meses por ano com você, trabalhando, namorando, alugando apartamento, vivendo a vida cotidiana ao seu lado, justamente pra não perder o seu cheiro e o seu ritmo, as gírias e as modas, pra não virar haole – deus me livre! Ninguém pode me acusar de te idealizar: conheço cada estria, cada arrastão; amo cada celulite, cada chacina.

Muita coisa mudou. Você passou no teste do Pan – confesso que eu estava cético! Foi retratada em dois Tropas de Elite – belíssimas obras que elevaram ao nível da arte todos os nossos maiores dilemas e apreensões. Depois, descobriram uma quantidade enorme de petróleo na sua costa – que querem lhe tomar no tapetão! Agora, esse ano, vai sediar os jogos militares (quarto maior evento esportivo do mundo) e, daqui a pouco, uma copa (incluindo a final!) e uma olimpíada.

Hoje, aqui de longe, você me parece revitalizada, linda, cheia de esperanças – potencializando seu duplo caráter turístico e petroquímico. Será que, em 2005, fui pessimista demais e não lhe dei o devido valor? Será que você está ressurgindo? Desculpa se não confiei em você, meu amor! Você me perdoa?

Pra mim, nesse momento, a pergunta é a seguinte: onde quero estar nos próximos vinte anos? De onde quero observar o futuro acontecer? De qual processo histórico quero ser testemunha? Nada me prende. Posso ir pra qualquer lugar. Acabei de viver os seis anos imediatamente pós-Katrina em Nova Orleans – um período único que nunca mais vai se repetir.

Confesso que Havana é uma forte finalista: assim que morrerem os irmãos Castro, a batalha dupla pela democracia em Cuba e pela manutenção do legado revolucionário vai ser feroz, linda, necessária. Gostaria de fazer parte dessa aventura, de me meter nessa briga, mas quem estou enganando, não é? Havana é uma amante querida, uma jineteira sem-vergonha, mas você é minha esposa. É o seu futuro que quero ver, é da sua História que quero participar, é nos seus braços que quero morrer.

Crescendo ao seu lado, havia sempre algum gringo maluco com a mesma história: estava de passagem, esbarrou em você, ficou para sempre. E eu os invejava, sabe? Por um lado, eu nasci dentro de você – o que, pra mim, não é fonte de orgulho mas mero acidente histórico. Já eles, caramba!, eles te escolheram! Nasceram em Tucson, Estocolmo, Florença mas bastou te conhecerem para saberem na hora: é aqui que vou ficar!

E você, hospitaleira e sem-vergonha, é dessas que só dizem sim: mesmo sem renda e sem prenda, você nos faz as vontades, nos diz meias-verdades e nos faz acreditar (vaidosos!) que somos o povo mais privilegiado do mundo. (Gueixa indiscriminada, você aceita igualmente todos os que te amam – carioca é quem se sente carioca.) Na manhã seguinte, naturalmente, antes de contarmos até vinte, podemos ter sido atingidos por uma bala perdida ou soterrados pela lama que desce o morro, mas é o risco que corremos. Existem muitas outras mais seguras, mais pacatas, mais civilizadas, mais respeitadoras: quem quiser, que fique com elas. (Curitiba é linda nessa época do ano!)

Nós, os que te escolhemos, aceitamos o positivo junto com o negativo, o risco com o dividendo, o ônus com o bônus. Na verdade, não é nem que aceitamos o ônus em si: aceitamos o ônus de positivar o negativo, de minizar o risco para para podermos melhor usufruir dos dividendos. Quem te escolhe também escolhe o ônus histórico de te amar, te preservar, te salvar de si mesma. Ninguém que assistiu Tropa de Elite pode alegar que não sabia onde estava se metendo.

E essa é a questão, não é? Passar seis anos longe me permitiu fazer algo que sempre desejei: te escolher. Estar ao seu lado não por um feliz acaso do destino, mas por decisão consciente, pensada, fatídica.

Te escolho.

4 respostas em “voltando aos seus braços”

Alex, esse seu site ficou tão bom que é o único que quando chega postagem nova no google reader eu sempre abro o link, só para mergulhar nesse oceano de brancura.

Ps.: Me apaixonei por Rio de Janeiro em agosto de 2009 pelo que eu agradeço ao IUPERJ e principalmente ao amigo Jeferson Mariano.

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