meu pai pergunta:
mas meu filho, você não pensa na sua velhice?
e respondo:
pai, você não conhece ninguém que pensa mais na própria velhice mais do que eu. literalmente tudo o que eu faço ou deixo de fazer é porque eu tenho uma consciência urgente de que, em breve, estarei velho, doente, fraco, cansado, morto.
* * *
para o meu pai, “pensar na velhice” quer dizer:
abdicar da minha vida hoje; pegar um emprego chato mas que pague bem; passar o dia em um escritório realizando as metas e projetos de outros em troca de dinheiro; fazer um pé-de-meia para a velhice.
para mim, “pensar na velhice” quer dizer:
não desperdiçar minha vida realizando os projetos dos outros e nem correndo atrás de dinheiro, e sim tentar amar e escrever o máximo que posso enquanto ainda tenho saúde e energia, pois o fim é inevitável e está chegando.
* * *
tenho quase quarenta. eis meu projeto para o meu último ano na casa dos trinta:
– alugar meu apartamento para ganhar uns trocados;
– morar de favor com uma amiga, leitora, mecenas;
– não ter internet em casa;
– não correr mais atrás de grana, não pegar frilas nem trabalhos;
– escrever ficção como se fosse um bichinho sem alma que tem somente (na melhor das hipóteses) uns vinte bons anos de produtividade antes de desaparecer para sempre.
o plano entra em efeito no dia 1º de maio. seja o que machado quiser.
7 respostas em ““alex, você não pensa na velhice?””
Alex desde que te conheci, ano passado, não fui a mesma. Há o fator alex castro na memória. Ler teu texto reto, direto, profundo e simples acima, fez acender uma luz aqui dentro… acho que certamente tu falas da prisão MEDO, mas teu texto me fez pensar na prisão do MEDO DA MORTE, cultuado em tudo que está posto.
Agradeço muito o tempero ALEX CASTRO, pois pra quem ainda não achou “o” seu caminho, é muito rico contar com gente como tu, que pensa, diz e compartilha o que escolheu viver, e escreve de um jeito tocante e intimista, trazendo possibilidade e uma certa…esperança lógica?!.. assim o sinto!
Um oásis na contemporaneidade. Um respiro no escuro. Uma estrela andando pela multidão. Em meio a tanto caos, tanta tecnologia, tantas e tantas prisões, teu trabalho traz luz a meu profundo mal estar na civilização.
Grata!
GOSTAR mais, GASTAR menos!
Pode difundir, se quiser essa “expressão”!
Quanto à velhice, é como a morte: sabemos que virá, mas não exatamente como e quando!
Enquanto isso, façamos o melhor de nossas escolhas!!
Parabéns por trilhar esta forma de ser e utilizar bem e sinceramente seu talento!
Carlos, eu concordo com você mas sempre penso, o que deve valer mais a pena, pagar pra alguém te limpar enquanto você não lembra de nada bom que tenha feito ou fazer tudo o que quiser agora e morrer afogado na merda mas em paz com seu passado? 50% pra cada é justo?
evitar um fim curto agonizante ou agonizar por uma vida?
*ops, invadem a seSSão da terapeuta, rs.
você é tão claro e honesto, alex. independente do seu eu lírico aí, que pode ser alex, sâmia e qualquer outro ou outra mortal. você escreve, e é isso, né. obrigada. tou pra depositar há tempos uma singela contribuição naquela sua conta (mecenas por um momentinho, coitada de mim, rs!) e prometo que farei isso breve. seus textos de fato me (de)formam e vez por outra invadem as seções da terapeuta.
grande abraço.
O fim inevitável, provavelmente, pode ser com menos sofrimento se você tiver um pé de meia, pra pagar dose extra de energia ou drogas caras para amenizar a dor ou pessoas pra te limpar e ajudar a comer… não seria essa a preocupação do seu pai? mitigar o risco de um fim agonizante?