(Por Rita Paschoalin, no blog Estrada Anil, a 19 de março de 2019.)
Foi quando li o último livro do Yuval Noah Harari no ano passado que considerei pela primeira vez a adoção da meditação em minha rotina. Nem nos anos de yoga, com alguns minutos dedicados a algo parecido em cada aula, cheguei a cogitar com seriedade a possibilidade. Tenho uma amiga que medita diariamente, e o pouco que já compartilhou comigo de sua experiência pessoal com a meditação me parece algo positivo. No livro do Harari, vi de forma mais elaborada e, digamos, didática os argumentos em prol das supostas benesses advindas do hábito de parar por alguns minutos diariamente para “simplesmente” prestar atenção à nossa respiração e tentar limpar nossa mente dos barulhos que produzimos e que nos cercam. Mesmo assim, não o fiz. O barulho segue adianto meu silêncio. Agora, mais uma vez, diante da angústia que tem me visitado a cada vez que leio os jornais, voltei a levar a sério a ideia de meditação como prática rotineira. Outras motivações também tornam a meditação algo simpático para mim, como a ideia de que, talvez, ao prestar atenção ao silêncio eu me torne capaz de lidar melhor com os ruídos – os emocionais, especialmente – e assim contribuir para que meus filhos também o façam.
Essa semana li o novo livro do Alex Castro, Atenção. – Por uma política do cuidado, que está sendo lançado pela Ed. Rocco. Alex, que pratica zen-budismo há anos, propõe uma abordagem radical: olhar para nosso meio social com atenção genuína, tentando nos esquivar de dogmas, julgamentos e de padrões de comportamento que nos aprisionam e que quase sempre nos impedem de ver o que deveria ser óbvio: nossa organização social é absurda. As práticas de Atenção sugeridas por Alex têm por finalidade o cuidado com o outro; portanto, o livro seria uma espécie de antítese da autoajuda, algo como um livro de “outroajuda”: a atenção como caminho para o cuidado com o outro. Nada nas práticas descritas por Alex teria como objetivo tornar os leitores e leitoras pessoas melhores para elas próprias, mas pessoas mais habilitadas a realmente enxergar cada outra pessoa como alguém tão completo como nós mesmos geralmente nos enxergamos. Um desafio titânico, de fato. A prática de meditação como forma de reverter o que o mundo moderno faz de nós, contudo, muito me atrai. Muito provavelmente jamais atingirei os níveis de desapego e atenção genuína apontadas no livro, mas creio que o impossível pode mesmo ser um excelente guia.
Se Harari celebra a meditação como um meio de conhecermos um pouco melhor o funcionamento de nossas mentes e assim nos protegermos dos algoritmos que caminham a passos largos para decifrarem esse funcionamento antes de nós, Alex celebra a atenção genuína como ferramenta importante no cuidado com o outro, num exercício desafiador de redefinição do valor que damos a nossos egos. Em ambos os casos, olhar para dentro, ouvir o silêncio, prestar atenção à respiração são práticas apontadas como caminho para uma caminhada mais sã e carregada de sentido.
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Pode parecer fuga. Diante de impropérios diários, o silêncio nunca me pareceu tão atraente. Mas vou chamar de foco.
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Retomar a prática da tradução foi uma das coisas mais generosas que fiz comigo mesma nos últimos tempos. Como reencontrar um amor antigo e se casar com ele – opa, já fiz isso também. Pois bem, parece que é um hábito. :-) Ave, palavra.
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Próximo lançamento:
Belo Horizonte, sábado, 6 de abril, às 18h, na Livraria Leitura, Shopping Boulevard.
Para saber mais sobre Atenção. e comprar:
alexcastro.com.br/atencao