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textos

o que sua empregada diria de você?

charles clements, médico e missionário quaker norte-americano, visitou el salvador no começo da década de 80, durante a guerra civil. foi o pequeno trecho abaixo que inspirou minha noveleta cães.

ao fazer sua pregação anti-violência aos guerrilheiros comunistas, eis o que clements ouviu de um deles:

vocês gringos estão sempre muito preocupados com a violência dos machetes e das metralhadoras. mas tem outras violências. trabalhei muitos anos em uma hacienda, cuidando dos cachorros do dueño. eu dava carne e leite pros bichos, comida que não podia dar para minha própria família. quando os cachorros ficavam doentes, eu levava pro veterinário. quando meus filhos ficavam doentes e morriam, o dueño me dava toda sua compaixão mas nenhum remédio.

you gringos are always worried about violence done with machine guns and machetes. but there is another kind of violence that you should be aware of, too. i used to work on a hacienda. my job was to take care of the dueño’s dogs. i gave them meat and bowls of milk, food that i couldn’t give my own family. when the dogs were sick, i took them to the veterinarian. when my children were sick, the dueño gave me his sympathy, but no medicine as they died.

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textos

esse não é um site pessoal

tudo o que escrevo aqui é profissional, é arte, é trabalho, é intenção, é ficção, é construção, é literatura.

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textos

agradecimento aos mecenas

algumas pessoas generosas me “assinam”.

essas “assinaturas” não dão direito a nada concreto. não existe uma área exclusiva do meu site para assinantes. meus textos são e continuarão a ser abertos e disponíveis para todos.

as assinaturas (na verdade, doações periódicas) compram apenas a satisfação pessoal de contribuir para a carreira de um artista que esses mecenas gostam e acompanham. de colaborar na criação artística. de participar do processo.

dão direito também a outra coisa não-mensurável: minha gratidão.

muito obrigado aos mecenas. vocês me possibilitam. de verdade. demais.

se você aprecia meu trabalho e gostaria de participar, clique aqui.

abaixo, com as devidas permissões, os nomes de alguns dos mecenas que possibilitam minha arte. os mecenas-midas fizeram doações de mais de cem reais.

assinantes
denizart fázio // leonardo ribeiro // luiz gustavo de santana // mayumi sato // regina lucena

midas
aiaiai // daniela vaz // fábio passerini // henrique augusto menarin

mecenas
alexandre catarino // andré girol // andré moraes // camila penachioni // douglas miguel // eduardo kaplan // fernanda nia ferreira // gabriela wolffenbüttel // gizah santos // guilherme mariani // gustavo lima // isabella schmidt // licinio branco // lilyan fernandes // lucas mesquita // marcio modesto // marcos ferreira // mariana tesch // maristela cardoso da rosa // paola matos // rafaela tosin // ricardo floriano de souza // rogério jaruzo dos santos // ronaud pereira // tainã andrade

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rio de janeiro textos

marketing

canga do biscoito globo: "é a melhor"

praia de copa. pergunto o preço de uma canga do biscoito globo. trinta e cinco reais. todas as outras eram vinte.

por que essa é a única mais cara?, pergunto.

porque é a melhor.

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arte zen

compromisso público

não sou guru, coach, terapeuta. não escrevo auto-ajuda.

não quero te convencer, não quero que você mude, não te digo o que fazer, não aponto dedos na sua cara, não te acuso, não te peço para concordar comigo.

não sou melhor que você, não levo uma vida melhor que a sua, não vendo meu estilo de vida.

não debato, não respondo provocações, não me irrito.

agradeço a atenção de quem me lê e, para quem acompanha e gosta, se não for fazer falta, peço uma doação correspondente ao valor que adicionei à sua vida:

www.alexcastro.com.br/mecenato

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textos

a função social mais importante da liberdade de expressão

sem a liberdade de expressão, como saberíamos quem são os nefandos?

deixar as pessoas falarem é a maneira mais eficiente de saber quem vale a pena e quem não.

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zen

o zen não enriquece ninguém

“where there is carrion lying, meat-eating birds circle and descend. life and death are two. the living attack the dead, to their own profit. the dead lose nothing by it. they gain too, by being disposed of. or they seem to, if you must think in terms of gain and loss. do you then approach the study of zen with the idea that there is something to be gained by it? this question is not intended as an implicit accusation. but it is, nevertheless, a serious question. where there is a lot of fuss about ‘spirituality,’ ‘enlightenment’ or just ‘turning on,’ it is often because there are buzzards hovering around a corpse. this hovering, this circling, this descending, this celebration of victory, are not what is meant by the study of zen — even though they may be a highly useful exercise in other contexts. and they enrich the birds of appetite.

zen enriches no one. there is no body to be found. the birds may come and circle for a while in the place where it is thought to be. but they soon go elsewhere. when they are gone, the ‘nothing,’ the ‘no-body’ that was there, suddenly appears. that is zen. it was there all the time but the scavengers missed it, because it was not their kind of prey.”

primeiras palavras do livro “zen and the birds of appetite”, do monge trapista chamado thomas merton, com comparações muito fecundas entre o zen e as tradições místicas e monásticas do cristianismo.

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textos

lei da ajuda

(ou “esse escroto não quer mais me dar carona!”):

quem te ajudou muito e depois parou de ajudar não é um canalha por ter parado, mas sim um cara legal por ter ajudado. ninguém tem obrigação de te ajudar, e muito menos pra sempre.

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leituras

aquelas velhas listas de pessoas autoras

minhas pessoas autoras preferidas, de todas as áreas: as que mais me deram prazer, me colocaram para pensar, me fizeram viajar.

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textos

progressão natural

sempre que começo a chorar por um motivo termino chorando por outro.

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textos

graffitti na parede do bar

“termine sua bebida, tem crianças sóbrias na etiópia”

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raça

shh!

“quem exige seu silêncio não é seu amigo.” alice walker (fonte)

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fotos

eu, no meu local de trabalho, de pé, no balcão

foto: fabio rossi/o globo. em casa, trabalhando. rj, mai13.
foto: fabio rossi/o globo. em casa, trabalhando. rj, mai13.
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menos

“o indivíduo que trabalha não é livre”

pepe mujica, presidente do uruguai, é a essência do viver com menos:

pepe mujica, a essência do viver com menos.
pepe mujica, a essência do viver com menos.

[Ele] “não concorda com o título que lhe foi atribuído pela imprensa internacional de “presidente mais pobre do mundo”, em razão de seu estilo de vida simples. Segundo ele, esse título é incorreto porque “pobres são aqueles que precisam de muito para viver”. Segundo ele, sua vida austera tem como objetivo “manter-se livre”.

“Eu não sou pobre. Pobre são aqueles que precisam de muito para viver, esses são os verdadeiros pobres, eu tenho o suficiente”, afirmou.

“Sou austero, sóbrio, carrego poucas coisas comigo, porque para viver não preciso muito mais do que tenho. Luto pela liberdade e liberdade é ter tempo para fazer o que se gosta”, disse o presidente. Ele considera que o indivíduo não é livre quando trabalha, porque está submetido à lei da necessidade. “Deve-se trabalhar muito, mas não me venham com essa história de que a vida é só isso”. (fonte)

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textos

tipificação

em breve, quando todos os crimes forem hediondos, teremos os crimes hediondo-hediondíssimos.

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entropia

só tecido morto não dói

levamos todos porrada da vida.

ninguém é sempre campeão. não somos semideuses.

atrás de toda pessoa feliz, deveria existir um homem com um martelo – para lhe golpear periodicamente a cabeça.

só porque a vida mais cedo ou mais tarde mostra suas garras.

só para lembrar que existem pessoas infelizes no mundo.

só pra lembrar que elas também amanhã estarão infelizes.

só porque ninguém é tão egoísta e autocentrado quanto alguém autenticamente feliz.

* * *

um belo dia, chega a porrada.

sofremos a traição e saboreamos a desilusão.

e é o fim de tudo: nunca mais confiaremos em ninguém, estamos fechados pro amor.

sentamos na sarjeta e choramos. choramos nossa miséria, nossa feiúra, nossa desesperança.

tão autocentrados, coitados de nós, quanto durante o auge da felicidade…

* * *

um dia, a dor também passa.

porque, afinal, apesar da dor e do horror, uma das mais importantes leis da física é a seguinte:

“lavou, tá novo.”

a dor e o prazer, a alegria e a tristeza: como diria o cobrador, é tudo passageiro.

não há mal que tanto dure, nem bem que tanto perdure.

* * *

mas existe um fascínio inegável pela sarjeta.

por andar se arrastando.

por fazer um espetáculo de nossa tristeza.

por jurar, copo de chope na mão, que o amor, ah!, esse nunca mais!

são como aqueles cachorros que você tenta acariciar… e eles estremecem de medo, se encolhem de horror, afastam a cabeça, se colocam fora da possibilidade do soco.

você percebe na hora: alguém um dia cobriu aquele cachorro de porrada.

ele apanhou.

ele sofreu.

e nunca mais esqueceu.

* * *

diz o budismo que toda emoção é dor.

que não existe emoção puramente prazeirosa que não vá, em algum momento, se converter em dor.

o carinho que sente pela namorada será inversamente proporcional à sua dor por perdê-la…. e perdê-la você vai, seja porque ela cansou de você, morreu ou o sol explodiu.

de qualquer modo, tudo é impermanente:

o bom e o mau. a dor de dente e o gozo. eu e a via láctea.

ainda assim, até fazermos nossos votos de monge budista, é preciso colocar a cara a tapa. se arriscar. tentar amar de novo.

mesmo sabendo que vamos sofrer. mesmo sabendo que vai doer.

porque sempre dói.

o hamburguer do mcdonald’s não apodrece porque não é comida. a maçã que você morde fica marrom porque ela está viva.

só tecido morto não dói.

* * *

tenho um conhecido cuja autodescrição do twitter é “pairando sobre um mundo hostil”.

fico triste por ele. ninguém merece viver num mundo hostil.

mesmo se o mundo for hostil de verdade.

especialmente se o mundo for hostil de verdade.

* * *

penso sempre em uma pintora que foi estuprada três vezes ao longo de sua vida. quando perguntaram como se recuperou e o que fez para voltar a ter relações saudáveis com homens, ela respondeu:

“em um dado momento, temos que escolher quem permitimos que nos influencie. eu poderia me permitir ser influenciada pelos três homens que me fuderam contra a vontade, ou podia escolher ser influenciada por van gogh. escolhi van gogh.

* * *

tomei lá minha farta dose de porradas em 2011 e 2012. quando achei que não tinha como ficar pior, ficou. quando achei que tinha me livrado dos malucos, apareceram piores.

mas me recuso a ser o cachorro que se encolhe diante da possibilidade do soco – ou da carícia.

sei que vou levar outros socos, e sei também que vou receber outras carícias. provavelmente, como quase sempre acontece, dadas pelas mesmas pessoas.

é melhor andar feliz e despreocupado por um mundo belo e seguro e, de vez em quando, levar uns tombos pelo caminho (eu sei me levantar!) do que viver sempre em um ambiente feio e hostil, cercado por cretinos e canalhas.

desfiz minhas barreiras. abaixei meus escudos. me expus à dor e ao amor.

sejam gentis.

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remando e fumando cachimbo

remando e fumando cachimbo no rio tapajós, em alter-do-chão, pará. foto por claudia regina.
no rio tapajós, em alter-do-chão, pará. foto por claudia regina.
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textos

a opinião do careca

faço alguma afirmação mais contundente e sempre aparece alguém para dizer, em tom de desagrado:

“bem, alex, essa é a SUA opinião, né?”

e respondo:

“não, claro que não. essa foi a opinião daquele careca que vai passando ali. agora vou dar a SUA opinião. a minha mesmo estou deixando pro final, pra causar mais impacto…”

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textos

lei da mulher de malandro

(ou “vocês não entendem, ele me ama de verdade, esse é só o jeito dele!”):

se você precisa convencer seus amigos e parentes que alguém te ama, então é porque essa pessoa não te ama.

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arte

entreouvido hoje em uma discussão sobre arte contemporânea no inhotim:

“esse negócio de estar vivo é muito mainstream!”