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entropia

o porta-retratos sem retratos

dormi recentemente na casa de uma moça formada em letras. havia um porta-retratos vazio na estante.

em algum momento, presumo, a moça abriu o porta-retratos e retirou dali seja a foto antiga (amigo estremecido? ex-namorado?) ou foto genérica que veio da loja.

então, com o porta-retratos aberto em sua frente, ela poderia ter simplesmente já colocado uma nova foto (amiga recente? sobrinho recém-nascido?) ou guardado o porta-retratos em uma gaveta à espera de momentos recordáveis.

ao invés disso, ela fechou o porta-retratos sem retratos e o colocou, montado, de pé, em lugar de destaque em sua estante. para todo mundo ver o nada. como se fosse o próprio vazio aquele ente querido cuja imagem ela quer preservar, acarinhar, rever.

* * *

um dos livros mais importantes da minha vida é o mumonkan ou, em português, a porta sem porta.

7 respostas em “o porta-retratos sem retratos”

O fluxo do pensamento dela era cortado toda vez que ela passava pela imagem que estava no porta retrato. Como ela gostava do objeto e achava-o perfeito para ocupar o lugar que se encontrava, resolveu tirar a imagem…

E ela é formada em Letras. Tu citaste a formação superior dela e fiquei pensando porque terias feito isso, fiquei pensando se isso foi colocado como alguma pista. Porta-retratos são objetos meio eternizantes,não é, parece que fixam algo da existência. E isso pode ser bom e ruim.

Me parece que ela tem esperança de por alguma coisa ali. Normalmente, na transição, as pessoas põe alguma imagem de paisagem, flores ou reproduções de pinturas de artistas famosos. Ao deixar o porta-retrato, denuncia a proximidade de uma nova posse, ou conquista, como chamam por aí. Ou pelo menos uma puta pretensão desmedida…

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