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Notas de um retiro em um campo de concentração

é possível viver em auschwitz? é possivel ser brasileiro em auschwitz? é possível viver depois de auschwitz?

Na primeira semana de novembro de 2016 — entre o Dia de Todos os Santos, quando todos os maus espíritos estão soltos no mundo, e uma eleição norte-americana entre uma direitista militarista e um louco racista misógino; enquanto meu país sofre sob um desgoverno ilegítimo e meu estado enfrenta a ressaca pós-olímpica cortando serviços essenciais — participei de um retiro zen-budista em Auschwitz, na Polônia, realizado pela Ordem dos Pacificadores Zen.

Para quem está chegando agora, recomendo começar por meu texto Um escritor no campo de concentração, escrito antes do retiro. Abaixo, algumas palavras sobre a experiência pós-retiro zen em Auschwitz.

tomando sopa do lado de fora do campo de concentração auschwitz-birkenau. tomávamos sopa trazida em um caminhão, sempre com a mesma cumbuca e não podíamos usar colher
tomando sopa do lado de fora do campo de concentração auschwitz-birkenau. tomávamos sopa trazida em um caminhão, sempre com a mesma cumbuca e não podíamos usar colher

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Como viver em Auschwitz?

Auschwitz tornou-se de tal maneira símbolo e exemplo do Mal Absoluto que o primeiro grande choque é perceber que ela existe, de fato, concretamente, aqui, no mundo.

Ainda no Rio de Janeiro, entro no site do Centro de Diálogo e Prece (onde ficaremos hospedadas, a poucos passos da entrada principal de Auschwitz) e descubro que eles realizam casamentos, formaturas e bar-mitzvahs — e têm até pacote especial de lua-de-mel.

Na Cracóvia (grande cidade mais próxima e onde pousamos), as vitrines de todos os muitos estabelecimentos turísticos anunciam, em dezenas de línguas:

“Tour guiado de um dia em Auschwitz-Birkenau: US$50”, “Pousada em Auschwitz, promoção de fim-de-semana”, etc.

Em Oswiecim (cidadezinha polonesa hoje mais famosa por seu nome em alemão, Auschwitz), saltamos do ônibus e nossos celulares já avisaram:

“O horário local em Auschwitz é 8:46, a temperatura é 5ºc e o dia está nublado.”

No campo de concentração de Auschwitz-Birkenau, chegando a pé ao longo dos trilhos do trem, ainda está preservado um dos vagões de transporte animal que trazia pessoas em suas últimas viagens. A menos de dez metros de distância, do outro lado do caminho de pedras, uma pacata casinha polonesa de classe média, com um pequeno playground no jardim da frente:

“Papai, o que é esse vagão?” “Depois te explico, minha filha. Vai brincando aí.”

Não seria menos estranho saber que tem gente que faz lua-de-mel em Mordor, que é possível pagar cinquenta dólares por um tour guiado pelos sete círculos do Inferno ou para navegar num barco turístico pelo Rio Stix, que a temperatura hoje no Tártaro está 15ºc.

(Alguns insights dessa subseção são do meu amigo e colega de retiro, rabino Brent Spodek.)

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Auschwitz recebe dois milhões de visitantes por ano (para fins de comparação, o último carnaval do Rio de Janeiro recebeu um) e essa multidão precisa comer, dormir, se deslocar.

Onde mais as pessoas responsáveis por essa infraestrutura iriam viver e também comer, dormir e se deslocar, além de, naturalmente, criar seus filhos e filhas, senão nos arredores do próprio campo de concentração?

Se uma casinha barata (espero!) na porta de Birkenau me poupa horas e horas no transporte público e me permite passar mais tempo com minha filha, por que não?

Aí, você me pergunta:

“Mas, Alex, não dá. Como passar por Auschwitz todo dia? Como criar uma filha, como fazer sexo com meu marido, na frente de Auschwwitz? Como não pensar nisso todo dia?”

Não sei, realmente não sei.

Mas eu moro no Rio de Janeiro, talvez o maior porto escravista de todos os tempos: se 1,1 milhão de pessoas morreu em Auschwitz entre 1940 e 1945; 900 mil pessoas sequestradas entraram no Brasil pelo Cais do Valongo, ali no Porto Maravilha, somente entre 1758 e 1843.

(Em quase quatro séculos de escravidão, o Brasil recebeu cerca de quatro milhões de pessoas escravizadas, sendo duas milhões pelo Rio.)

Hoje, o Rio de Janeiro ainda é uma cidade violenta, racista e desigual, em um país violento, racista, desigual.

O número de mortes por violência em Auschwitz, do fim da Segunda Guerra Mundial até hoje, deve ser igual ao de um único carnaval carioca, talvez dois.

Uma polonesa contemporânea, nascida e criada à sombra de Auschwitz-Birkenau, que nunca soube o que é a sensação de sair de casa com medo de não voltar, poderia me retorquir:

“Alex, não dá. Como passar pela Candelária e não pensar nas crianças chacinadas, em apenas uma chacina entre tantas? Como passar pela Rocinha e não pensar no sumiço do Amarildo, que é apenas um desaparecido entre tantos? Como levar turistas para ver o Porto Maravilha e passar pelo Cais do Valongo? Como não pensar nisso todo dia? Como você consegue?”

De fato, como?

O horror na porta alheia nos parece tão intolerável quanto o horror à nossa própria porta nos parece invisível.

Nossa vida contemporânea é uma longa e deliberada prática de cegueira consciente, contínua, constitutiva.

Por isso, a importância do segundo voto da Ordem dos Pacificadores Zen:

“Testemunhar a alegria e o sofrimento, não virando o rosto à dor alheia.”

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Há muita controvérsia sobre a participação de pessoas polonesas no Holocausto: ao mesmo tempo em que muitas colaboraram e se aproveitaram, muitas arriscaram (e perderam) suas vidas tentando ajudar as vítimas.

Culpar por Auschwitz as pessoas polonesas colaboradoras seria como culpar pela escravidão as pessoas libertas que compravam pessoas escravizadas: eram apenas pessoas, pequenas, frágeis e falhas, negociando da melhor maneira possível um sistema feito para desumanizá-las.

Auschwitz não foi um crime polonês: pelo contrário, foi uma imposição da Alemanha sobre a Polônia, onde morreram milhares de pessoas polonesas, judias ou não.

Se uma potência estrangeira invadisse e ocupasse meu querido Rio de Janeiro; se cometesse em Copacabana ou em Madureira crimes ainda mais terríveis do que aqueles que já cometemos umas contra as outras; se depois fosse expulsa…

… deveríamos por acaso abandonar nossa terra, nossas pedras portuguesas e nossas praias oceânicas, por causa disso?

Crianças brincando em um playground diante de Auschwitz é uma afirmação do poder da vida contra o horror:

“Vocês podem até ter cometido o maior crime na História aqui no nosso chão, mas esse chão era nosso antes, e continuará nosso depois.”

cerimônia de lembrança das pessoas mortas, em auschwitz. na cadeira de rodas, de boina vermelha, bernie glassman, fundador da ordem dos pacificadores zen
cerimônia de lembrança das pessoas mortas, em auschwitz. na cadeira de rodas, de boina vermelha, bernie glassman, fundador da ordem dos pacificadores zen

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Como ser brasileiro em Auschwitz?

Quase não existem indíviduos em Auschwitz.

As pessoas alemãs — de todas as idades, desde pós-adolescentes até senhoras nascidas durante a guerra — tentando trabalhar o trauma coletivo pelos crimes cometidos por sua gente, tinham uma forte consciência de estar ali não como a Helga ou o Hans, mas como “uma pessoa alemã em Auschwitz”.

As pessoas polonesas, tentando trabalhar o trauma coletivo pelos crimes cometidos em sua terra, tinham uma forte consciência de estar ali não como o Pawel ou o Jan, mas como “uma pessoa polonesa em Auschwitz”.

As pessoas judias — de todas as idades e nacionalidades, desde pós-adolescentes de Israel até sobreviventes de Nova Iorque — tentando trabalhar o trauma coletivo pelos crimes cometidos contra sua gente, tinham uma forte consciência de estar ali não como o Chaim ou a Martha, mas como “uma pessoa judia em Auschwitz”.

Nem sempre essa associação era desejável. Pelo contrário, o anseio comum da maioria das alemãs era justamente o oposto:

“Quero ser visto como um indivíduo, como o Klaus, pai, corretor de seguros, de Frankfurt, não como um ‘alemão cúmplice do Holocausto’!”

Ainda assim, poucas individualidades sobrevivem à Auschwitz: o campo é feito para nos derrubar:

Muitas das minhas colegas de retiro até entravam sozinhas, é verdade, mas no primeiro tombo, na primeira porrada, minhas colegam iam ao chão e já se levantavam simbolica e mentalmente acolhidas e agasalhadas por suas identidades comunais, dizendo coisas como:

“Nunca me senti tão judia quanto em Auschwitz.”

E eu?

Eu também entrava sozinho. Eu também levava os mesmos tombos e as mesmas porradas.

Mas, quando me levantava, minha comunidade não estava ali para me acolher.

Eu não tinha conexão pessoal com aquela história. Minhas pessoas queridas estavam longe, trabalhando outros traumas. Minha língua ali não era nem citada. Meu povo era como se não existisse.

Eu estava só.

Sozinho como nunca me senti na vida.

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Ao longo de todo o retiro, durante as diversas sessões diárias de meditação, recitávamos os nomes de vítimas de Auschwitz — em sua maioria, húngaras e polonesas. Depois disso, havia espaço para lermos os nomes de outras vítimas de violência que tivéssemos trazido.

No meu texto original sobre o retiro, pedi às minhas pessoas leitoras que, caso tivessem amigas ou conhecidas ou parentes vítimas de violência, seria minha honra ler seus nomes e celebrar sua memória em nossas cerimônias.

Muitas leitoras atenderam meu pedido, aproveitaram para falar um pouco sobre suas pessoas queridas, e foram interações muito bonitas e significativas, pelas quais sou muito grato.

Mas eu nem imaginava o quão grato eu seria.

Pois, no auge da minha solidão, no mais profundo de minha abstinência comunal, essas pessoas brasileiras precocemente falecidas que eu nunca conheci foram minha verdadeira comunidade.

Naquele lugar tão estrangeiro e tão longe de casa, tão cercado de pessoas de tantas nacionalidades e religiões tão agasalhadas por suas comunidades, depois de ler uma lista tão grande de nomes tão cheios de consoantes e tão difíceis de pronunciar…

… foi poderoso, mágico, acolhedor trocar o registro da minha fala, pronunciar aqueles nomes brasileiros com todas as vogais a que eu tinha direito e ouvir um bom e velho português com sotaque carioca troando no meio de Auschwitz.

Muito, muito obrigado às pessoas leitoras que me deram os nomes de suas familiares e amigas vítimas de violência. Vocês não fazem, nunca farão ideia, de como foi importante para mim, em um momento frágil e solitário em um lugar estrangeiro de extremo horror, estar acompanhado por seus entes queridos.

meditando no centro do campo de concentração auschwitz-birkenau. o círculo era formado por 80 pessoas
meditando no centro do campo de concentração auschwitz-birkenau. o círculo era formado por 80 pessoas

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Minha solidão comunal era compartilhada por mais duas pessoas queridas: um australiano, ativista social, e um colombiano, advogado de direitos humanos. Nenhum de nós três nem judeu, nem alemão, nem polonês. O que nos trazia ao retiro era sermos praticantes de zen-budismo em um retiro zen-budista.

O zen-budismo, entretanto, pelo menos para mim, me dava um contexto, não uma comunidade. Com um detalhe interessante, talvez a surpresa pessoal mais inusitada da viagem:

Depois de vários anos de prática diária em um templo zen-budista, percebi que o meu corpo já possui uma linguagem corporal religiosa que ele adota, de forma totalmente automática e inconsciente, em qualquer contato com o transcendental.

Imediatamente, eu endireito as costas e estico a vertebral, caminho em sashu e agradeço em gasshô.

Em um local longínquo, me sentindo sozinho diante do sagrado, eu naturalmente adoto o gestual milenar de uma cultura ainda mais longínqua, um gestual que literalmente veste meu corpo como uma luva, tão familiar e tão presente.

Gasshô.

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Como viver depois de Auschwitz?

Existem pessoas que negam a existência do Holocausto. Até hoje, não acreditam que aconteceu, que poderia ter acontecido.

Antes do retiro em Auschwitz, eu tinha um certo desprezo por essas pessoas. Além de serem quase todas neonazistas de extrema-direita, eu pensava que eram umas idiotas iludidas e perigosas, incapazes de reconhecer a enormidade avassaladora da evidência histórica comprovando o Holocausto.

Depois de Auschwitz, continuo achando aque são neonazistas de extrema-direita, iludidas e perigosas, mas confesso que agora também tenho muito amor por elas.

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Theodor Adorno disse que escrever poesia depois de Auschwitz era bárbaro.

Na entrada no campo, em um portão de metal, está a inspiradora frase: “O trabalho liberta”, e eu penso cá comigo que também não deveria mais ser possível defender o trabalho como libertação depois de Auschwitz.

(Inclusive, um de meus textos mais famosos é a Prisão Trabalho.)

o trabalho liberta
o trabalho liberta

De fato, se pensarmos bem, nada mais deveria ser possível depois de Auschwitz.

Auschwitz foi uma experiência humana tão radical e singular que deveria ter nos forçado, enquanto espécie, a repensar quase todos nossos paradigmas.

Mas não.

Enforcamos alguns alemães desagradáveis, prendemos outros, empacotamos o campo de concentração como atração turística (com desconto especial para escolas israelenses!) e pronto. Lição aprendida, hora de seguir com a vida, circulando, circulando, nada pra ver aqui.

Mas se é para vivermos como se Auschwitz não tivesse existido, talvez fosse mais intelectualmente honesto e mais filosoficamente consciente afirmarmos que Auschwitz não existiu e não poderia ter existido.

As negacionistas do Holocausto, quando vivem suas vidas como se Auschwitz fosse impossível e inconcebível, estão sendo coerentes.

Nós, pelo contrário — que olhamos o horror nos olhos e, depois, comemos uma banana da mesma maneira que comíamos antes — é que estamos em algum tipo de louca, desesperada denegação.

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Quando chegavam em Auschwitz, as futuras vítimas tinham todos os pêlos cortados. Mais tarde, esses pêlos eram usados para fazer roupas e meias, travesseiros e almofadas, para o esforço de guerra alemão.

Hoje, em Auschwitz, em um dos barracões, existe um quarto cheio de cabelo, de cima a baixo. Por um segundo, eu tive uma insensata esperança de que aquilo era algum tipo de instalação artística, feita de lã ou malha, simulando cabelo humano.

Mas Auschwitz não permite esperanças: a solícita guia logo explicou que aquilo era sim o próprio cabelo humano das últimas vítimas, cortado no campo mas nunca enviado à Alemanha, agora eternamente exposto para turistas de todo o mundo.

Ali, cara espremida contra o vidro, diante daqueles cabelos de pessoas como eu e como você, pensando se era correto expor assim aqueles restos mortais em vez de enterrá-los em alguma cerimônia religiosa…

… como não invejar a negacionista do Holocausto que simplesmente diz “não”?

“Não, claro que isso não é cabelo. Não, claro isso não aconteceu. Não, isso não poderia ter acontecido. Claro que não. Óbvio que não. Jamais. Quem você pensa que nós somos?”

De certo modo, as negacionistas do Holocausto são as últimas puras, as últimas otimistas.

São como crianças que ainda acreditam em fada do dente e em Papai Noel, na bondade humana e no sonho iluminista.

Dá uma vontade de beijá-las, abraçá-las, protegê-las desse conhecimento que nos corroi por dentro.

Quando a espécie humana comete o inconcebível e o irracional, talvez as pessoas mais racionais sejam aquelas que negam até o fim a possibilidade do inconcebível, mesmo diante de uma montanha de evidências que ameaça lhes esmagar.

Negar o Holocausto talvez seja, ao mesmo tempo, o supremo ato racional e o supremo ato de fé ainda possível nos dias de hoje.

A mim, que não tenho nem tanta fé nem tanta racionalidade, só me resta viver aqui os restos dos meus dias, da melhor maneira possível, horrorizado de me saber membro da espécie que, um dia, inventou Auschwitz.

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Auschwitz é tão impossível que as próprias pessoas que conseguiam escapar e tentavam avisar às outras eram vistas como loucas.

Ninguém acreditava nelas.

Claro que eram loucas: o próprio conhecimento de que Auschwitz existiu, de que Auschwitz é possível, de que Auschwitz é concebível, já seria o suficiente para enlouquecer alguém.

(Enlouqueceu a mim, com certeza.)

Imagina um primo seu, que passou uns meses desaparecido, tentando te convencer que esteve em um lugar como Auschwitz, sem te oferecer nenhuma prova, a não ser uma tatuagem no braço e muitos quilos a menos. Você acreditaria? Óbvio que não. Que pessoa racional acreditaria numa loucura dessas?

Seria mais crível que ele dissesse que foi capturado por alienígenas. Afinal, seres de outros planetas sempre fizeram parte do imaginário humano: eles são, literalmente, concebíveis.

Auschwitz não: Auschwitz é inconcebível.

De certo modo, as negacionistas do Holocausto são as últimas pessoas sãs em um mundo enlouquecido.

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No romance Eu sou a lenda (1954), de Richard Matheson, o único sobrevivente do apocalipse zumbi passa seus dias matando monstros e tentando encontrar uma cura para a doença.

Quando é capturado pelos zumbis, ele percebe que os “monstros” tinham consciência, cultura, leis.

Mais ainda, ao ver os olhares assustados que lhe dirigem as crianças zumbis, ele se dá conta de que, em um mundo de zumbis tentando construir uma nova sociedade, o único monstro verdadeiro, causando mortes indiscriminadas, era ele mesmo: “A lenda sou eu!”, conclui.

Às vezes, acho que somos todas os monstros, tentando reconstruir nossa sociedade depois do inconcebível ter sido concebido, depois do impossível ter sido possível, e que as negacionistas do Holocausto, apesar de vistas como monstras, são na verdade as últimas humanas, as últimas representantes de um mundo antigo já totalmente superado, um mundo puro e otimista onde Auschwitz seria apenas uma história insensata inventada por um primo polonês para justificar seu sumiço de alguns meses:

“Porra, primo, você tá achando que sou otário? Confessa logo que você passou esses meses com algum rabo de saia e emagreceu de tanto fuder!”

Infelizmente, hoje, uma montanha de evidências físicas e documentais nos impede o consolo do fácil ceticismo do primo polonês.

Está mais que na hora das negacionistas do Holocausto se juntarem à nós em nossa loucura coletiva de reconhecer o maior horror que fomos capazes de criar.

Continuar negando o Holocausto, em um mundo onde Holocaustos acontecem, é ser cúmplice do próximo.

uma rosa murcha, no barracão das crianças, em auschwitz-birkenau
uma rosa murcha, no barracão das crianças, em auschwitz-birkenau

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Os três votos da Ordem dos Pacificadores Zen

— Praticar o não-conhecimento, abrindo mão de certezas prévias;

— Testemunhar a alegria e o sofrimento, não virando o rosto à dor alheia;

— Agir amorosamente no mundo, de acordo com essas duas posturas.

Todas as ações sociais da Ordem são baseadas nesses três votos. Nos últimos anos, também minha vida, minhas atitudes, meus textos.

Na Prisão Conhecimento, escrevi sobre como aplicar os três votos à vida cotidiana.

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Uma nota sobre o Holocausto

Algumas pessoas estudiosas não gostam de utilizar o termo Holocausto para se referir ao massacre de pessoas judias pela Alemanha, por considerar que, de fato, é uma péssima comparação, pois um holocausto é um sacrifício voluntário à Deus, e o crime alemão foi tudo menos isso. Essas estudiosas chamam esse acontecimento histórico de Shoah, a palavra hebraica para catástrofe e, hoje, por causa disso, título de uma das maiores obras de arte do século passado.

Ainda assim, em todas as línguas que falo e estudo, o termo Holocausto já está tão consagrado que acho que não utilizá-lo, ainda mais em textos para o público-geral, como os meus, geraria apenas uma confusão inútil.

Para quem se incomoda com isso, minhas desculpas.

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