Outro mês de leituras religiosas.
1. (50) Dhammapada, c.séc.III aec, páli.
2. (51) O grande silêncio, de Braz, português, 2016.
3. (52) La condición obrera, de Weil, 1934-1942, francês.
4. (53) Livro de Habacuc, c.630–540 aec, hebráico.
5. (54) Heart of Darkness, de Conrad, inglês, 1899.
6. (55) As edições da Bíblia no Brasil, de Malzoni, português, 2016.
7. (56) A arte de meditar, de Ricard, 2008, francês.
8. (57) A arte da meditação, de Goleman, 1989, inglês.
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1. (50) Dhammapada, circa séc.III aec, páli. [Trad: Gil Fronstal, 2005.] Releitura.
Importante texto do budismo theravada. Lido originalmente em outubro de 2016. Confesso que não gostei muito, especialmente em comparação à Shantideva. No dia da minha ordenação como Irmão Zen (10 de junho de 2017), meu professor me deu uma cópia e me pediu para reler. Saí gostando mais.
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2. (51) O grande silêncio, uma introdução à meditação e ao zen, de Álcio Braz, português, 2016. Releitura.
Livro do meu professor, Irmão responsável por nosso templo. Lido pela primeira vez no próprio dia do lançamento, em julho de 2016, enquanto eu esperava mais de uma hora na fila por um autógrafo. Reli em busca de subsídios para os Exercícios de Atenção. Recomendo como uma excelente introdução ao zen-budismo e sobre como funciona nosso templo, Eininji.
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3. (52) La condición obrera, de Simone Weil, 1934-1942, francês.
Uma coletânea dos textos mais políticos da minha deusa Simone Weil, sobre sua experiência como operária na França dos anos 1930. Essa edição da Trotta é tão, mas tão legal e caprichada que fiquei com vontade de comprar todos os outros livros da Simone que lançaram. Em português, existe um livro de mesmo título, mas só tem uma fração dos textos. (Meu texto principal sobre Simone Weil.)
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4. (53) Livro de Habacuc, de anônimo, c.630–540 aec, hebráico. Releitura.
a. Habacuc. (BP: Bíblia do Peregrino, Ed: Luís Alonso Schökel, 1997; trad: Ivo Stormiolo e José Bortolini, 2002.)
b. Habacuc. (BJ: Bíblia de Jerusalém, 1998; trad: Emmanuel Bouzon, 1985/2001.)
c. Habacuque. (NTLH: Nova Tradução na Linguagem de Hoje; trad: Sociedade Bíblica do Brasil, 2000.)
d. Habacuc. (TLA: Traducción en Lenguaje Actual; Sociedades Biblicas Unidas, 2003.)
e. Habakkuk. (KJV: King James Bible, 1611.)
f. Habakkuk. (NRSV: New Revised Standard Version; trad: National Council of Churches, 1989.)
g. Habakkuk. (ESV: English Standard Version; trad: Good News Publishers, 2001.)
Tenho andado cada vez mais apaixonado e interessado pelos profetas bíblicos. Li o Livro de Jeremias em dezembro de 2016, e escrevi dois textos sobre ele: A tragédia dos profetas e Ainda se comprarão casas e campos e vinhas nessa terra. Em janeiro de 2017, li dois tijolaços sobre profetismo bíblico de modo geral: Introdução ao profetismo bíblico, de José Luis Sicre Díaz, e The Prophets, de Abraham Heschel, que ainda estou lendo.
Dentre os profetas, Habacuc é um dos mais sensíveis às injustiças sociais, pregando contra os ricos, os poderosos, os exploradores. Ele já começa interpelando Deus:
“Até quando pedirei socorro sem que me salves? Por que contemplas em silêncio enquanto os poderosos devoram os pequenos?” (1, 2.13)
Uma imagem forte: aqueles que construírem suas casas com dinheiro roubados dos pobres serão acusados por elas:
“Da parede, a pedra gritará,
E as vigas de madeira responderão.” (2, 11)
Por fim, uma descrição do impacto das palavras de Deus sobre o profeta:
“Eu ouvi! Minhas entranhas tremeram e meus lábios estremeceram. Um calafrio me subiu pelos meus ossos e me cederam as pernas.” (3, 16)
Assim como Jó, Habacuc leva um esporro de Deus e é colocado de volta no seu lugar. E fim.
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5. (54) Heart of Darkness, de Joseph Conrad, inglês, 1899. Releitura.
Saudades de Conrad, uma das minhas pessoas autoras favoritas.
Li esse livro pela primeira vez em 1996, aos 22 anos, logo depois de operar os olhos. Minha visão ainda estava toda torta, se recuperando, e a leitura foi difícil, sofrida. Reli agora, em 2017, aos 43, já com a vista cansada e, de novo, a leitura foi difícil, sofrida. De fato, essas décadas intermediárias foram meus vinte anos de leitura fácil, entre 1996 e 2017. De agora em diante, é ladeira abaixo. Pelo menos, aproveitei bem.
O livro é a fonte da frase-clichê “O horror! O horror!”, mas minha citação favorita é do penúltimo parágrafo. O narrador acaba de contar uma mentira cabeluda mas caridosa para uma viúva desesperada e está morto de vergonha, achando que os céus vão desabar sobre sua cabeça:
“It seemed to me that the house would collapse before I could escape, that the heavens would fall upon my head. But nothing happened. The heavens do not fall for such a trifle.”
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6. (55) As edições da Bíblia no Brasil, de Cláudio Vianney Malzoni, português, 2016.
Qualquer um menos eu acharia insuportável um livro detalhando a história e a filosofia de cada edição brasileira da Bíblia. Eu adorei.
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7. (56) A arte de meditar, de Matthieu Ricard, 2008, francês. [Trad: Walquíria Correa de Araujo Cardoso Vale, 2009.]
8. (57) A arte da meditação, de Daniel Goleman, 1989, inglês. [Trad: Domingos Demasi, 1999.]
Em nosso templo, estamos realizando um curso de formação de instrutores de meditação, ministrado pelo Irmão Álcio (ver ítem 2) e ambos esses livros, bastante introdutórios, acima fazem parte das leituras para o curso. O do Goleman, famoso autor de Inteligência Emocional, achei superficial demais. O do Ricard, monge querido e autor brilhante, consegue ser introdutório e básico sem ser simplório. O último Exercício de Atenção que pretendo escrever será sobre meditação e falarei mais sobre esses livros.
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Convenções da lista
Título, autor, data da escritura, idioma original. (organizador, tradutor, data da organização e/ou tradução) data da leitura.
Quando são dadas várias traduções de uma mesma obra, a primeira foi a principal e as demais usadas para cotejo.
Considero um livro “lido” e acrescento nessa lista quando li o suficiente sobre ele para sentir que posso escrever sobre ele sem estar blefando: o critério é subjetivo e varia de obra a obra.
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A mesma ressalva de sempre
Fazer listas de livros reforça uma ideia que considero muito problemática:
Que “ler é bom”, que todas deveríamos “ler mais”, que ler é uma atividade intrinsecamente melhor do que a maioria das outras, etc.
Mas ler um livro não é mérito, não é vantagem alguma, não é algo para se gabar.
Mais importante, simplesmente ter lido um livro não significa que a pessoa leitora o entendeu, que tirou dele qualquer coisa de relevante, bela, prazeirosa ou útil.
Listar os livros que eu li faz tanto sentido quando listar os vagões de metrô que eu viajei. (Aliás, quase sempre, o 1022 e o 1026, que operam na linha um e são os últimos vagões de suas composições.)
E daí, não?
Apesar disso, incrivelmente, as pessoas pedem e perguntam.
Enfim, a verdade é que trabalho com livros. Para mim, pessoalmente, esse tipo de lista é relevante e me ajuda a sistematizar as leituras.
Então, apesar do efeito negativo de divulgar listas assim, esses foram alguns dos livros que li em junho de 2017.