meus livros lidos no último mês.
sempre com a ressalva que ler livros é um hobby como outro qualquer.
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eu alterno fases de ler e de escrever. em agosto, li muito até o dia 20. depois, do dia 20 em diante, não li mais nada, só escrevi.
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beyond psychology, de otto rank, 1939, inglês, 1ago15.
recomendado por ernest becker, em denial of death e escape from evil, livros que ele não só dedica ao rank, como diz que não passam de tentativas de sistematizar e apresentar ao grande público as ideias de rank.
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preconceito linguístico. o que é, como faz, de marcos bagno, 1999, português. releitura, 4ago15.
um daqueles livros que muda a vida de uma pessoa. mudou a minha. sempre releio.
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psicologia da transferência, de carl jung, 1946, alemão, 5-6ago15. (trad: maria teresa appy.)
psychology of transference, de carl jung, 1946, alemão, 5-6ago15. (trad: r. f. c. hull, 1969.)
estou tentando entender melhor o conceito de transferência. esse livro foi muito bem recomendado por ernest becker, nos dois livros citados acima. tentei ler em duas traduções diferentes, achando que talvez os problemas fossem culpa da tradução. mas não deu. jung é esotérico demais pra mim, em todas as acepções do termo.
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o mal-estar da civilização, de sigmund freud, 1930, alemão. (trad: paulo césar de souza) 8ago15. releitura.
totem e tabu, de sigmund freud, 1913, alemão. (trad: paulo césar de souza) 9ago15. releitura.
duas releituras de freud. talvez alguns dos meus livros favoritos. em termos médicos, muitas das ideias de freud já foram superadas. mas o freud cientista social ainda é um dos tesouros da humanidade.
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o moisés de michelângelo, de sigmund freud, 1914, alemão. (trad: paulo césar de souza) 9ago15.
uma recordação da infância de leonardo da vinci, de sigmund freud, 1910, alemão. (trad: paulo césar de souza) 15ago15.
temerário, freud analisa psicanaliticamente duas grandes figuras do passado, leonardo da vinci e michelângelo, com base em quase nada.
aparentemente, cometeu erros enormes que, já de saída, invalidam todas as suas análises: confundiu uma passagem bíblica no moisés e uma palavra egípicia no leonardo.
mas parte da mágica de freud, para mim, é ser genial mesmo quando está errado.
posso reconhecer seus erros e, ainda assim, apreciar seu humor, sua prosa, a progressão do seu argumento.
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introdução ao narcisismo, de sigmund freud, 1914, alemão. (trad: paulo césar de souza) 9ago15.
para as prisões.
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contribuição à história do movimento psicanalítico, de sigmund freud, 1914, alemão. (trad: paulo césar de souza) 15ago15.
esse texto, escrito em primeira pessoa e traçando uma rápida história dos começos da psicanálise, é o equivalente ao líder de uma turma de meninos de escola escrevendo sobre como a sua turma mais legal do que as outras turmas bobobas.
altamente polêmico, criticado por todos, eu achei terna a autodescrição heroica de um jovem freud que se via, erroneamente ou não, em esplêndido isolamento, sozinho contra tudo e contra todos.
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“teoria da libido e narcisismo”; “a transferência”; “a terapia analítica”, em conferências introdutórias à psicanálise, de sigmund freud, 1917, alemão. (trad: sergio telarolli) 19ago15.
considerações atuais sobre a guerra e a morte, de sigmund freud, 1915, alemão. (trad: paulo césar de souza) 20ago15.
moisés e o monoteísmo, de sigmund freud, 1939, alemão. (trad: maria aparecida moraes rego) 20ago15.
como dá pra ver, estou passando o mês com freud, relendo textos antigos, conhecendo novos.
estou gostando tanto das traduções do paulo cézar de souza que já decidi que vou esperar para ler a interpretação dos sonhos em sua tradução, assim que sair.
sobre freud, está acontecendo uma coisa que mencionei mês passado em relação à foucault.
li totem e tabu aos 25 anos. reli agora, aos 41. é impressionantes quantas ideias, frases, formulações, que venho repetindo pelos últimos 15 anos, que eu jurava que eram minhas, já estão ali, não só escritas, mas sublinhadas por aquele menino de 25.
nosso cérebro é um urso esfaimado e onívoro, comendo tudo o que passa pela frente.
a melhor cura para nossos delírios de criatividade é reler os trabalhos que nos influenciaram nos anos formativos.
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vida e obra de sigmund freud, de ernest jones, 1961, inglês. (org: lionel trilling e steven marcus; trad: marco aurélio de moura mattos) 9ago15.
esse livro me foi emprestado, talvez vinte anos atrás, por uma ex-psicóloga do meu pai, que foi minha fiadora no único apartamento que aluguei em meu nome, e com quem depois perdi o contato, annette trzcina. uma vergonha ficar com ele até hoje, ainda mais sendo um livro claramente de valor sentimental, com dedicatória escrita antes de eu nascer, mas estou finalmente lendo! assim que terminar, ligo pra ela, marco um café e devolvo.
o autor, ernest jones, era o cão de guarda de freud, um dos poucos que lhe ficou fiel até o fim, grande popularizador de sua obra no mundo anglófono, autor dessa monumental e subserviente biografia que documenta até os peidos do grande homem. a biografia original tem três volumes, mas essa tradução é da versão em volume único, resumida por lionel trilling.
o enorme amor de jones por freud é ao mesmo tempo a principal qualidade e o maior defeito dessa biografia.
não dá pra confiar, nem minimamente, em uma biografia escrita com tanto, tanto amor.
mas dá pra ler, com muito gosto: jones se despe, se expõe de tal maneira em seu enorme amor por freud que dá vontade de abraçá-lo. (de abraçar os dois, na verdade.)
sempre fecho o livro com um enorme carinho pelo dr ernest jones.
quero agora ler a biografia de peter gay, 1988, recentemente relançada pela companhia das letras. se alguém tiver e quiser me dar, agradeço.
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the wendigo, de algernon blackwood, 1910, inglês. 13ago15.
novela de suspense e fantasia. li por ser apreciada por lovecraft — de quem estou lendo, desde o mês passado, uma edição anotada. não é ruim, mas não me empolgou.
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convenções da lista: título, autor, data da escritura, idioma original. (organizador, tradutor, data da organização e/ou tradução) data da leitura.
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uma ressalva
fazer listas de livros reforça uma ideia que considero muito problemática:
que “ler é bom”, que todas deveríamos “ler mais”, que ler é uma atividade intrinsecamente melhor do que a maioria das outras, etc.
mas ler um livro não é mérito, não é vantagem alguma, não é algo para se gabar.
mais importante, simplesmente ter lido um livro não significa que a pessoa leitora o entendeu, que tirou dele qualquer coisa de relevante, bela, prazeirosa ou útil.
listar os livros que eu li faz tanto sentido quando listar os vagões de metrô que eu viajei. (aliás, quase sempre, o 1022 e o 1026, que operam na linha um e são os últimos vagões de suas composições.)
e daí, não?
apesar disso, incrivelmente, as pessoas pedem e perguntam.
enfim, a verdade é que trabalho com livros. para mim, pessoalmente, esse tipo de lista é relevante e me ajuda a sistematizar as leituras.
então, apesar do efeito negativo de divulgar listas assim, esses foram os livros que eu li em agosto de 2015.