diz o budismo que toda emoção é dor: ou ela é literalmente dor, ou ela é uma felicidade transitória que em breve se tornará dor.
tenho algumas ausências que doem todo dia.
mas a ausência só dói porque está vinculada a coisas muito bonitas e incríveis que aconteceram e que fazem falta.
então, quando bate a dor, eu procuro uma dessas lembranças prazeirosas e entro fisicamente dentro dela, como quem entra em um quarto que está lá me esperando, com todos os seus toques, cheiros, sons, palavras.
não faço isso para negar a dor.
(a dor é minha e faz parte de mim. se eu quisesse negá-la, na minha esquina tem uma farmácia cheia de remédio pra isso.)
eu habito o momento de prazer para mostrar à dor de onde ela vem:
“você está doendo hoje, mas é só porque isso aqui ontem, ó, foi bão demais.”