A carapuça é uma das forças mais poderosas do universo, alimentada pelo nosso inesgotável narcisismo.
* * *
Um diálogo que se repete muito, só mudam os exemplos.
De repente, chega alguém me pedindo satisfação:
“Alex, que história é essa de dizer que eu trato mal minha empregada? Saiba você que nunca gritei com a minha empregada na vida!”
“Fulana, onde foi que eu disse isso sobre você?”
“Bem nesse texto aqui, onde você fala de uma amiga sua que trata mal e grita com a empregada! Uma calúnia! Nunca fiz isso!”
“Fulana, VOCÊ trata mal e grita com a sua empregada?”
“Não, Alex! Claro que não! Você sabe que não! Um absurdo você falar isso de mim!”
“Então, naturalmente, a minha amiga sem-nome que trata mal e grita com a empregada… NÃO É VOCÊ!”
* * *
Vestir a carapuça é humano.
Vestir a carapuça e ir tirar satisfações é sempre ridículo, sem exceções, com razão ou sem razão.
Mas vestir a carapuça de uma coisa que não tem nada a ver com você e depois ir reclamar que você não é assim é quase inacreditável.
Mas acontece. toda semana.
Hoje, aconteceu de novo.
2 respostas em “Carapuças”
O problema da carapuça é de representação. Imagine que você escreva uma crônica em que um negro assalta um branco. Aí um leitor negro reclama, e você diz, “mas você não assalta, por que está vestindo a carapuça”? Porque sua crônica está reforçando um estereótipo. Porque as pessoas se acostumam com a idéia de que negros assaltam, e passam a ver o seu negro leitor como um assaltante em potencial.
O Fernando Sabino contou numa crônica que isso também vivia acontecendo com ele.