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Camuflagem

“A senhora não é daqui não, né?”

Centro do Rio de Janeiro, joalheria.

Uma amiga paulistana acaba de comprar um caríssimo relógio.

Em um delicado ritual, com gestos lentos e compenetrados, a vendedora coloca o relógio em uma caixa de couro, acolchoada por dentro, e, então, em uma belíssima bolsa de papel, com o elegante logotipo da joalheria impresso em alto relevo.

Minha amiga, feliz com sua compra, mimada e paparicada por tanto luxo, pega a bolsa e começa a sair.

Ainda faltava um último ritual, entretanto.

Na porta da loja, também com gestos lentos e compenetrados, uma segunda vendedora tira a bolsa de suas mãos e a coloca dentro de outra, dessa vez de papel pardo e grosseiro, sem dizeres.

Minha amiga, sem entender nada, não consegue nem verbalizar seu estranhamento, e a vendedora emenda:

“A senhora não é daqui não, né?”

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