Pessoa querida me elogiando:
“Alex, admiro sua esperança, seu otimismo.”
Eu, surpreso:
“Esperançoso? Otimista? Eu? Onde foi que passei essa impressão?”
Pessoa:
“É que vejo você lutando, se engajando, escrevendo textos que abrem as mentes das pessoas. Deve ser porque tem esperança de que esses textos possam mudar o mundo, melhorar a realidade, não?”
Eu:
“Você acha que, só porque eu luto, isso quer dizer que tenho esperança na vitória?”
Pessoa:
“Sim. Claro. Não?”
E pergunto:
“Você só lutaria se tivesse esperança na vitória?”
Pessoa:
“Hmmm, quer dizer, sim, né? Se não, não faz sentido, né?”
E concluí:
“Me parece muito mesquinho, muito pequeno, muito utilitarista só lutar se eu tiver certeza da vitória.
A vitória não está garantida para ninguém.
Aliás, nem sei se dá para conceber a questão nesses termos.
Se sou uma militante antirracismo ou antimachismo, essa luta algum dia estará “ganha”, em qualquer acepção da palavra?
É possível conceber uma humanidade sem nenhum racismo, sem nenhum machismo?
Se lutamos por mais compaixão, por mais atenção, por mais cuidado entre as pessoas, essa é uma luta que pode ser ganha?
É concebível imaginar algum momento no futuro em que poderíamos dizer que não é mais necessário militar por compaixão?
Na prática, as lutas que mais valem a pena ser travadas são justamente aquelas nas quais nenhuma vitória decisiva jamais será possível, que travamos sem esperança e sem otimismo, simplesmente porque nos seria intolerável existir e não lutar.”
* * *
Pós-escrito
Esse texto faz parte da do espetáculo Outrofobia, primeira peça baseada em meus textos, que estréia amanhã, 27 de junho, em Curitiba.
O dramaturgo e ator Tomás Eon Barreiros fez o impossível e costurou vários dos meus textos em uma narrativa coesa.
Apesar da peça se chamar Outrofobia, apenas um texto saiu do meu livro Outrofobia:
— O desabafo da moça do crachá
Do meu novíssimo livro Atenção. saíram os textos:
— História de um homem ridículo
— Toda caneca já está quebrada
— Caminhada do privilégio
Do meu próximo livro, Prisões, saiu a:
— Prisão Obediência
Além de dois outros textos que só saíram na internet:
— A festa do meu privilégio
e esse aqui que você acabou de ler.
Quando fui a Curitiba para lançar Atenção., assisti alguns ensaios e fiquei impressionadíssimo com tudo que o diretor Surian Barone e o elenco conseguiram fazer com esses textos — que, em sua maioria, não são dramáticos e sim ensaísticos.
Hoje à noite, quarta, 26, estarei no último ensaio e, amanhã, quinta, 27, na estreia. Também estarei presente nas apresentações de sexta, sábado e domingo. Convido todas as pessoas leitoras curitibanas a virem compartilhar essa experiência conosco.
Trarei alguns exemplares de Atenção., e, depois do espetáculo, estarei disponível para vender e autografar.
A temporada vai de 27 de junho a 14 de julho, no teatro José Maria Santos (R.Treze de Maio, 655, S.Francisco). Quinta a sábado, às 20h, domingo às 19h.
(A página de Facebook da peça está animadíssima, cheia de novidades. Dá pra comprar pela internet, clicando aqui.)