Categorias
textos

ansioso no metrô

Era um homem feio. Casa dos quarenta, muito magro, todo anguloso. Careca de crânio pontiagudo, nariz protuberante, enorme queixo. Usava oclinhos redondos de intelectual descolado. Nas costas, como se fosse um estudante de quinze anos, uma mochila escolar.

Estávamos no metrô. Ele encostava a palma contra a janela do vagão. Dava pulinhos muito pequenos, quase imperceptíveis. Uma vez, chegou a descer e ficar de cócoras e subir de novo, tudo muito rápido. A medida que a estação se aproximava, inseria carinhosamente os dedos naquela borracha entre as portas. Não como se quisesse abri-las antes da hora, mas agradecendo-as previamente por deixá-lo passar em direção à alegria.

Pois não era uma ansiedade de medo, de susto, de estresse. Aquele homem feio e careca, de oclinhos descolados e mochila nas costas, estava indo em direção a um grande amor.

5 respostas em “ansioso no metrô”

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *